
Primário, mas elucidativo:
Cada vez que um determinado número
é acrescido de mais 9 vezes o seu próprio valor, coloca-se um zero à sua
direita. Equivale à multiplicação do número original por 10. É o famoso sistema
decimal (base 10).
Assim, o número 1 que abre a sequência
indicada no título deste texto foi multiplicado por 10 sucessiva e acumuladamente
5 vezes. 1 virou 10; depois 100; em seguida 1.000; adiante 10.000 e finalmente
- mas ainda não esgotado - chegou-se a 100.000.
O que essa enorme cifra, mesmo
para padrões cósmicos e humanos significa? Podemos percebê-la através de 10
exemplos que nos são familiares. Assim, mantemos a fidelidade à base 10. Há
também um pouco de humor para aliviar a crueza do objetivo crítico deste texto:
1) O
Brasil tem 5570 municípios. 94% deles, isto é, 5246, têm populações inferiores a
100.000 habitantes. Cidades menores são, em geral, melhores para se viver, não?
Ninguém gostaria, portanto, que elas desaparecessem, imagino...
2) A
324ª cidade brasileira em tamanho (primeira da lista acima dos 94%), Mairiporã,
desde o seu primórdio como povoado de Juqueri, há 4 séculos, vem acumulando
gente até chegar aos 100.179 de hoje, segundo o IBGE. A propósito, Mairiporã faz
limite com o município de Atibaia, local daquele famoso sítio. Também, local de
esconderijo daquele não menos famoso secretário parlamentar. Quem não sabe?
3) NO
dia 8/7/2014 pouco mais de 50.000 pessoas, este escriba incluído, lotaram o
Mineirão no amargo 7 X 1. Dois estádios iguais seriam necessários para se
atingir o total de pouco mais de 100.000 pessoas. Mas sem outro vexame, é
claro...
4) Se
colocarmos a cada 400 metros (mais ou menos dois quarteirões de extensão) 1
pessoa fazendo uma fila indiana, 100.000 delas seriam necessárias para dar uma
volta completa na superfície do nosso planeta Terra. Não precisamos, na prática,
fazer isso. Basta dividir 40.000 quilômetros que a Terra tem de diâmetro por
100.000. O resultado são meros 400 metros de distância entre uma e outra
pessoa.
5) Dois
quilos de arroz são compostos por 100.000 grãos. Como feijão é maior, seriam
necessários 30 quilos dele para se ter 100.000 unidades dessa leguminosa rica
em ferro. Confira se ainda estiver de quarentena! Tempo você tem...
6) O
maior conflito bélico que o Brasil já participou como protagonista foi a Guerra
do Paraguai no século XIX. Durou 6 anos e ceifou 50 mil vidas brasileiras.
Precisaríamos de 2 guerras iguais para se atingir o número de 100.000. Não
considere, contudo, a necessidade de uma nova guerra com o país vizinho só para
resgatar o Ronaldinho Gaúcho. Em algum momento, creiam, ele dará um drible
mágico na justiça paraguaia...
7) Em
agosto de 1945 a bomba atômica de Hiroshima, a mais cruel das armas que o
“gênio humano” concebeu, matou no primeiro momento cerca de 100.000 pessoas.
Junto com Nagasaki foi argumento decisivo para a rendição tardia do império do
Japão na Segunda Guerra Mundial. Hoje, vinga-se do Ocidente impondo-nos peixe
cru que deve ser levado à boca com o hashi, aquele par de pauzinhos inoperável...
8) 100.000
anos atrás, o Homo sapiens (nossa espécie) ainda estava dando seus primeiros
passos na África Oriental. A revolução cognitiva ainda não tinha acontecido. O
caminho que a humanidade tomou não tem volta. Guardemos, portanto, a memória de
nossa antepassada primordial, a Chipanzé Australopiteca que nos deu origem. Não
adianta voltar às origens. O Corona vírus também sobe em árvores.
9) Se
alguém resolver poupar R$10,00 por dia para comprar um carro médio brasileiro, serão
necessários 27 anos de disciplina e sacrifício. Este cálculo não leva em conta
a perda inflacionária que é certa, mas leva em conta a remuneração que
historicamente tende a zero. Melhor tentar a sorte no consórcio...
10) Se
você sobreviveu no Brasil entre março até o presente momento, 5 meses apenas,
saiba que 100.000 também é o número de mortos, neste curto espaço de tempo,
devido a nossa incompetência em enfrentar, em pleno século XXI, a pandemia da
Covid-19.
Blague à parte, e levando tudo à
sério, agora vem o pior:
O número de mortos pela Covid-19 não
para de crescer aqui na Pátria Amada. Só quem viver saberá do real tamanho de
nossa desventura. Afinal, todos nós morrermos um dia, não? É triste, mas fica a
pergunta:
Onde e por que erramos de novo? Já
antecipo parte da resposta dizendo que o sistema decimal não tem nada a ver com
isso...
Edson Pinto
Agosto’ 2020