Há sonhos desagradáveis, outros assustadores, vários incoerentes e, até mesmo, alguns bem engraçados. O que há em comum a todos eles é a possibilidade de deles tirarmos ilações com situações reais. Conscientemente, nunca me preocupo em interpretar o significado dos meus sonhos como se estivesse à busca de revelações de desejos retidos e não aflorados por força do repressor superego que regula a nossa vida social. As interpretações que eventualmente me ocorrem vêm-me apenas de forma espontânea.
A minha abordagem é única e muito simples, pois não tem o caráter cientifico dado ao assunto por Freud e Jung, muito menos o sentido premonitório do qual muito bem se serve as varias religiões. Sempre imagino que, durante o sono, a nossa mente, ao repassar os fatos vivenciados em momentos recentes e com o intuito de registrá-los no nosso HD interno, dá-nos a oportunidade de fazer ligações criativas entre eles. O sonho seria, então, nada mais do que o emprego da nossa criatividade inata para misturar tais fatos numa curiosa e divertida maçaroca mental, às vezes, contudo, reveladora...
Vou lhes contar o sonho que tive depois desses últimos e marcantes episódios de lambança da política nacional:
O mundo havia progredido estupendamente tal qual se apresenta nos dias de hoje: Internet, telecomunicações magníficas, avanços da medicina, viagens espaciais, aviação supersônica e até mesmo o bóson de Higgis já fazia parte do nosso cotidiano. Apenas uma coisa não havia progredido. E não vem ao caso especular o porquê disso, porque, como já disse, sonho é sonho...
O homem, misteriosamente, não tinha inventado o automóvel. Nem o movido a motores de combustão, nem os elétricos ou quaisquer outras formas para se locomover mais celeremente pelas nossas vias públicas. Apenas as carroças, as charretes e as carruagens, todos de variados modelos e tamanhos, continuavam sendo o meio de transporte por excelência.
Não existia Indústria Automobilística, mas sim a importante Indústria de Carroçáveis e o próspero negócio da criação de animais para tração. O interessante é que essa Indústria progredia apesar desse simples detalhe, a falta de motorização. As carruagens mais luxuosas vinham dotadas de itens de fábrica, como GPS, modernos sistemas de som, acesso à Internet, ar-condicionado, suspensão a ar, e acreditem, até sistemas de blindagem para maior segurança daqueles que podiam pagar por modelos mais caros. As categorias de carroças e charretes mais ao alcance das classes menos favorecidas também incorporavam tecnologias inovadoras, embora marcassem nitidamente as diferenças sociais prevalecentes na sociedade.
São Paulo já tinha mais de sete milhões de carroças, charretes e carruagens circulando pelas mesmas vias de hoje. O constante aumento do IPVTA (impostos sobre propriedade de veículos por tração animal) atormentava cada vez mais a vida da classe média. O uso do celular, enquanto se açoitava os animais propulsores, virou uma fonte de arrecadação das mais importantes para a prefeitura. Os radares fotografavam animais que passavam de 20 km/h e os congestionamentos constantes paravam a cidade. Como as carruagens chegavam a ter até quatro cavalos e como mais gente ascendia às classes sociais de maior poder aquisitivo, já existiam mais animais para serem alimentados e poluir do que gente.
Uma nova modalidade de roubo virara praga nas grandes cidades brasileiras. Já não mais se roubava apenas a carroça, a charrete ou a carruagem. Virara moda trocar os cavalos. Desatrelava-se da carruagem alheia um legitimo e vistoso cavalo bretão colocando-se um pangaré em seu lugar. Em compensação não havia motos. Algo parecido, sim. Entregas rápidas eram feitas por cavaloboys com bauzinhos instalados nos traseiros de cavalos enlouquecidos que cortavam carroças, charretes e as carruagens sempre em desrespeito aos semáforos e com direito a chutes nos retrovisores das luxuosas carruagens que lhes impediam a passagem.
Tudo bem, não fosse o maior de todos os problemas ainda sem solução: a lambança das vias públicas. Mesmo com o Código de Trânsito aplicando pesadas multas para os proprietários de animais que se aliviavam no leito carroçável, não havia como impor essa disciplina aos inocentes quadrúpedes. Avenidas de grande movimento só podiam ser atravessadas, a pé, com o uso de pranchas que surfavam sobre os excrementos em estado de quase liquefação.
Um eloqüente ex-presidente em exercício continuava jurando que nunca na história deste País o povo fora tão feliz, tão moderno, tão rico. O mar de malfeitos que rolava nos bastidores da política não era nada em face ao mar de excrementos que o progresso social, infelizmente, tinha imposto como contrapartida. A descoberta cientifica do grande prócere de que a Terra, por não ser quadrada, nem retangular, nos levava a preocupar com a circulação mundial dos poluentes ganhava força, mas não resolvia o problema crucial do mar de titica que já se fundira ao mar de malfeitos. Ambos não subiam à atmosfera para serem compartilhados por outros povos quando só a Terra girasse. A situação estava, portanto, insustentável...
Foi aí que, nauseado, acordei. Não tardou até que, cheio de felicidade, me dei conta de que o veículo automotor já existe desde há muito e que os cavalos só nos são úteis no esporte e na recreação. O mar de excrementos que atormentava o meu sonho, felizmente não existia. Muito contente, agora, pois a nos flagelar resta-nos apenas o mar de malfeitos. Mas, com este, já começamos a nos acostumar... Paciência!
Edson Pinto
Julho’ 2012
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Em meio a tantos escândalos rolando na política nacional, vem-nos um Nove de Julho para nos lembrar de que houve momento em que a consciência popular se deu conta da necessidade de uma Constituição séria e democrática.
Se isso não toca a muita gente, é até compreensível, pois às vezes nem Constituição boa é suficiente para se evitar os malfeitos que grassam na Pátria.
Nesta semana, pós-feriado da Revolução Constitucionalista de 1932, revelo um sonho que tive e escrevi a crônica REVELADOR É O SONHO que publico neste blog.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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