O fim da Segunda Guerra Mundial,
em 1945, marcou o inicio do mundo bipolar que testemunhamos até que se deu a
queda do muro de Berlim em 1989 e o posterior desmantelamento oficial da União
Soviética em 1991. Durante esses quase 50 anos, vivemos o período denominado de
Guerra Fria, tendo de um lado os Estados Unidos da América que representavam a
força do capitalismo com a qual se alinhavam as nações que praticavam a economia
de mercado e do outro, liderado pela antiga União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), o sistema econômico centralizado, planejado e operado pelo
ente estatal e conhecido como comunismo.
No comunismo, como se sabe, a propriedade
coletiva, e não a privada como ocorre no capitalismo, era e continua sendo a
viga mestra que sustenta o seu sistema econômico. Se, quanto e como a Revolução
Russa e a consequente implantação do comunismo corresponderam fielmente ao que
Karl Marx entendia como a etapa inevitável do pós-capitalismo é assunto para os
historiadores e não para ser tratado nesta simples crônica.
O que me interessa por ora é falar
da visão ingênua que os jovens do período pós-guerra mantinham com relação ao
que ocorria no mundo. Para quem era adolescente no inicio dos anos 60, como no
meu caso, soavam-nos muito misteriosas todas aquelas informações sobre o que
poderia acontecer se o nosso país, também e um dia, se tornasse comunista. Conceitos
e práticas econômico-sociais como propriedade coletiva; todos trabalhando para
o estado; partilhamento equânime da riqueza; “de cada qual, segundo sua
capacidade; a cada qual segundo suas necessidades”, entre outros, mesmo sem
internet e sem comunicações fáceis, suscitavam nas rodinhas de jovens ingênuos certos
debates instigadores.
Outras informações que recebíamos
e que também tinham o poder de nos atormentar: as famílias perderiam a guarda
dos seus filhos; ainda jovens seríamos enviados para treinamento militar e para
estabelecimentos de ensino estatal onde ficaríamos como internos até a conclusão
dos estudos; não haveria gente muito rica nem muito pobre, porém o estado teria
controle absoluto sobre tudo o que fizéssemos. O “Grande Irmão”, ou o “Big Brother”
retratado no livro distópico de George Orwell, “1984”, passaria a ter controle
absoluto sobre nossas vidas. Nada escaparia ao controle do Estado: O Grande Irmão
zelaria todo o tempo por nós ou, tal qual dito na frase original de Orwell: “Big
Brother is watching you...”
Bem, aparentemente conseguimos
nos livrar do comunismo. Há mais de 20 anos, a União Soviética renunciou a ele
e somente alguns gatos pingados como Cuba e Coréia do Norte ainda insistem em
fazer funcionar o que já se demonstrou inconsistente na prática. Esses estados comunistas
remanescentes estão apenas prolongando o sofrimento de seu povo até que em
algum momento terão que seguir o caminho da atual Rússia e aderir ao
capitalismo como sistema econômico. Este, se não o mais justo, certamente, o menos
perverso...
Embora como sistema econômico já
tenha ficado patente o fracasso do comunismo, outros aspectos da vida social
que ligávamos a ele parecem ter sobrevivido e, mais do que isso, tomado corpo e
importância maiores do que poderiam prever nossas ingênuas conjecturas de
adolescentes. O Big Brother está, muito mais do que previa George Orwell,
tomando conta de todos nós. Não me refiro às câmeras que estão nos bancos, na
entrada dos prédios, nas ruas, nas escolas e até mesmo nos chatice de certos
programas de TV. Muitas dessas câmeras contribuem para nossa segurança, é
claro. Refiro-me, contudo, ao enorme controle que o Estado vem exercendo sobre os
cidadãos que, ironicamente, se sentem felizes por não viver sob um regime
comunista.
Quem poderia imaginar lá nos anos
60 que um dia viéssemos a ser amarrados por um Título Eleitoral, por um CPF,
por uma cédula de Identidade, por uma Carteira Nacional de Habilitação, por uma
carteirinha de vacinas e outros registros que centralizam informações sobre
nossas vidas financeiras, nossas posses, nossa saúde e nosso relacionamento com
o sistema bancário, com o comércio e até com os arrecadadores de impostos?
Se você está atrasado com o
licenciamento do seu veículo, Big Brother, na forma de um coletor de impostos, está
olhando para você e cobrando. Se você
deixa de colocar o cinto de segurança, dirige com apenas uma das mãos no
volante, deixou de usar o assento especial para seu filho pequeno, correu um
pouquinho mais, tomou uma taça de vinho e pegou o volante, trafegou com a placa
errada por causa do rodízio, Big Brother, agora na forma de radares ou guardas
de trânsito estão de olho em você. Se
você permite que sua empregada doméstica ultrapasse a jornada diária, trabalhe
no domingo, atenda a porta de sua casa no horário de descanso, também Big
Brother está de olho em você. Na verdade, são tantos os “ses” e os controles a
que nos submetemos que viver neste país capitalista e de economia de mercado
ficou tão ou mais difícil do que poderia ser, caso o sistema fosse o comunismo.
Para os empresários, a quantidade
de controle que o Big Brother exerce sobre eles é tão grande e os direitos e
benefícios que seus empregados conquistaram tão amplos, onerosos e às vezes até
mesmo impraticáveis, que nos leva a pensar se no comunismo, com o estado sendo
o dono de todos os meios de produção e empregador único, não seria ele menos
controlador do que é agora? Com grande probabilidade, sim. Certamente, seria
mais benevolente consigo mesmo do que o é impondo aos empregadores e aos
cidadãos em geral obrigações e controles que a ele mesmo não se atreveria uma
autoimposição.
Edson Pinto
Junho’2013
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Sabem aquela história de se colocar todos os ovos em uma mesma cesta? Todos nós sabemos que isso é muito perigoso, pois, se a cesta cai, perdem-se todos os ovos, não é?
Bem, o Estado Brasileiro, onipresente e cada vez mais senhor de nossas vidas, tem sido a cesta única onde toda a nossa vida se encontra sob amplo controle. Quando começa a se desmantelar, lá se vai tudo o que nos pertence.
De como o Estado se apoderou das nossas vidas e as consequências que disso decorrem é o que procurei refletir na crônica desta semana: BIG BROTHER IS WATCHING YOU.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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