13 de jun. de 2013

241) BIG BROTHER IS WATCHING YOU

O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, marcou o inicio do mundo bipolar que testemunhamos até que se deu a queda do muro de Berlim em 1989 e o posterior desmantelamento oficial da União Soviética em 1991. Durante esses quase 50 anos, vivemos o período denominado de Guerra Fria, tendo de um lado os Estados Unidos da América que representavam a força do capitalismo com a qual se alinhavam as nações que praticavam a economia de mercado e do outro, liderado pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o sistema econômico centralizado, planejado e operado pelo ente estatal e conhecido como comunismo.  

No comunismo, como se sabe, a propriedade coletiva, e não a privada como ocorre no capitalismo, era e continua sendo a viga mestra que sustenta o seu sistema econômico. Se, quanto e como a Revolução Russa e a consequente implantação do comunismo corresponderam fielmente ao que Karl Marx entendia como a etapa inevitável do pós-capitalismo é assunto para os historiadores e não para ser tratado nesta simples crônica.

O que me interessa por ora é falar da visão ingênua que os jovens do período pós-guerra mantinham com relação ao que ocorria no mundo. Para quem era adolescente no inicio dos anos 60, como no meu caso, soavam-nos muito misteriosas todas aquelas informações sobre o que poderia acontecer se o nosso país, também e um dia, se tornasse comunista. Conceitos e práticas econômico-sociais como propriedade coletiva; todos trabalhando para o estado; partilhamento equânime da riqueza; “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual segundo suas necessidades”, entre outros, mesmo sem internet e sem comunicações fáceis, suscitavam nas rodinhas de jovens ingênuos certos debates instigadores.

Outras informações que recebíamos e que também tinham o poder de nos atormentar: as famílias perderiam a guarda dos seus filhos; ainda jovens seríamos enviados para treinamento militar e para estabelecimentos de ensino estatal onde ficaríamos como internos até a conclusão dos estudos; não haveria gente muito rica nem muito pobre, porém o estado teria controle absoluto sobre tudo o que fizéssemos. O “Grande Irmão”, ou o “Big Brother” retratado no livro distópico de George Orwell, “1984”, passaria a ter controle absoluto sobre nossas vidas. Nada escaparia ao controle do Estado: O Grande Irmão zelaria todo o tempo por nós ou, tal qual dito na frase original de Orwell: “Big Brother is watching you...”

Bem, aparentemente conseguimos nos livrar do comunismo. Há mais de 20 anos, a União Soviética renunciou a ele e somente alguns gatos pingados como Cuba e Coréia do Norte ainda insistem em fazer funcionar o que já se demonstrou inconsistente na prática. Esses estados comunistas remanescentes estão apenas prolongando o sofrimento de seu povo até que em algum momento terão que seguir o caminho da atual Rússia e aderir ao capitalismo como sistema econômico. Este, se não o mais justo, certamente, o menos perverso...

Embora como sistema econômico já tenha ficado patente o fracasso do comunismo, outros aspectos da vida social que ligávamos a ele parecem ter sobrevivido e, mais do que isso, tomado corpo e importância maiores do que poderiam prever nossas ingênuas conjecturas de adolescentes. O Big Brother está, muito mais do que previa George Orwell, tomando conta de todos nós. Não me refiro às câmeras que estão nos bancos, na entrada dos prédios, nas ruas, nas escolas e até mesmo nos chatice de certos programas de TV. Muitas dessas câmeras contribuem para nossa segurança, é claro. Refiro-me, contudo, ao enorme controle que o Estado vem exercendo sobre os cidadãos que, ironicamente, se sentem felizes por não viver sob um regime comunista.

Quem poderia imaginar lá nos anos 60 que um dia viéssemos a ser amarrados por um Título Eleitoral, por um CPF, por uma cédula de Identidade, por uma Carteira Nacional de Habilitação, por uma carteirinha de vacinas e outros registros que centralizam informações sobre nossas vidas financeiras, nossas posses, nossa saúde e nosso relacionamento com o sistema bancário, com o comércio e até com os arrecadadores de impostos?

Se você está atrasado com o licenciamento do seu veículo, Big Brother, na forma de um coletor de impostos, está olhando para você e cobrando.  Se você deixa de colocar o cinto de segurança, dirige com apenas uma das mãos no volante, deixou de usar o assento especial para seu filho pequeno, correu um pouquinho mais, tomou uma taça de vinho e pegou o volante, trafegou com a placa errada por causa do rodízio, Big Brother, agora na forma de radares ou guardas de trânsito estão de olho em você.  Se você permite que sua empregada doméstica ultrapasse a jornada diária, trabalhe no domingo, atenda a porta de sua casa no horário de descanso, também Big Brother está de olho em você. Na verdade, são tantos os “ses” e os controles a que nos submetemos que viver neste país capitalista e de economia de mercado ficou tão ou mais difícil do que poderia ser, caso o sistema fosse o comunismo.

Para os empresários, a quantidade de controle que o Big Brother exerce sobre eles é tão grande e os direitos e benefícios que seus empregados conquistaram tão amplos, onerosos e às vezes até mesmo impraticáveis, que nos leva a pensar se no comunismo, com o estado sendo o dono de todos os meios de produção e empregador único, não seria ele menos controlador do que é agora? Com grande probabilidade, sim. Certamente, seria mais benevolente consigo mesmo do que o é impondo aos empregadores e aos cidadãos em geral obrigações e controles que a ele mesmo não se atreveria uma autoimposição.

Edson Pinto

Junho’2013

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Sabem aquela história de se colocar todos os ovos em uma mesma cesta? Todos nós sabemos que isso é muito perigoso, pois, se a cesta cai, perdem-se todos os ovos, não é?

Bem, o Estado Brasileiro, onipresente e cada vez mais senhor de nossas vidas, tem sido a cesta única onde toda a nossa vida se encontra sob amplo controle. Quando começa a se desmantelar, lá se vai tudo o que nos pertence.

De como o Estado se apoderou das nossas vidas e as consequências que disso decorrem é o que procurei refletir na crônica desta semana: BIG BROTHER IS WATCHING YOU.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto