Toda nova tecnologia encontra
resistência de segmentos da sociedade. Existe até uma chamada “Curva de Adoção
de Tecnologia” que mostra isto cientificamente: 2,5% de pessoas podem ser
rotuladas de “Inovadores”, ou seja, aquelas pessoas que estão sempre à
frente na aceitação de novas tecnologias. Não se incomodam de passar a noite em
uma fila para a compra dos primeiros produtos lançados no mercado; 13,5% da
população são constituídas de “Visionários”. São entusiastas e se
dispõem não só a rapidamente adotar a nova tecnologia como também a divulgar o seu
uso, especialmente aos amigos; 34% constituem a “Maioria Inicial”.
Adotam a nova tecnologia quando percebem a sua utilidade e os benefícios que
ela pode lhes trazer.
Na segunda parte da curva
encontram 34% das pessoas que são rotuladas de “Maioria Tardia”. São os
conservadores que só adotam as tecnologias modernas quando todos os que a
rodeiam já a tem. Às vezes até como necessidade para continuarem merecendo a aceitação
dos grupos com os quais relacionam ou mesmo até serem respeitados dentro do
seio familiar; E, finalmente, existem 16% da população que são caracterizados
como “Retardatários”. Nem Santo Antonio com um gancho os fará adotar uma
tecnologia inovadora, um smartphone, um tablet, um computador ou mesmo um já
quase ultrapassado telefone celular, por exemplo.
Em qual parte dessa curva e do
segmento da sociedade você se enquadraria? Mas seja honesto! Se for até na
metade da curva, tudo bem. Mas se estiver nas duas categorias finais lamento
dizer que você já morreu e apenas esqueceu-se de cair. Brincadeira, óbvio, mas
com um fundo de verdade.
Vejamos os argumentos em que se apegam os conservadores, o seja, aqueles dois grupos que ficam na rabeira da curva:
“O celular e esse tal de smartphone acabaram com o relacionamento interpessoal ao qual estávamos acostumados. Você vê em um restaurante, hoje, em quase todas as mesas, as pessoas com aquele aparelhinho luminoso digitando coisas e aparentemente quase nenhuma conversa entre elas. Isso é um absurdo. Por que então estão juntas?” Normalmente o conservador ainda fecharia o seu argumento dizendo: “Eu me recuso a adotar esse aparelhinho dos demônios” ou ainda: “Saudades dos tempos em que podíamos prosear olhando uns nos outros dos outros”.
Agora imagine a seguinte situação
em dois momentos distintos:
Primeiro momento (antes do
smartphone): Pedro é tímido. Sempre foi. Angélica, por natureza, mais
ainda. Entram num restaurante e, sentados, ficam perdidos na manutenção de uma conversa
descontraída e prazerosa. É da essência de ambos. Fazer o quê? Pedro só chegou
à Angélica porque uma amiga comum promovera o encontro e fez-se de cupido.
Agora que isso já aconteceu, cabe a eles se entenderem da melhor maneira
possível. Mas, infelizmente, está difícil...
Segundo momento (depois do
smartphone): Angélica dá boas risadas enquanto Pedro lê em um site que
acessou de seu recém-adquirido smartphone uma piada de salão. Ele também se
diverte. E mais, quando no restaurante toca uma música que a ambos traz
recordações, mas são incapazes de lembrar o nome da banda, a época e outros
detalhes, Pedro faz uma pesquisa no Google e não só obtém as respostas
procuradas com ainda se recorda de outras canções da mesma banda. Isso é a dica
para que Angélica, agora descontraída, faça comentários sobre os bailinhos de
outrora e de amigas que lhe vinham à memória. Planejando uma viagem de férias,
é também no smartphone que Angélica busca informações sobre preços e épocas
adequadas. O ambiente do restaurante é-lhes muitíssimo propício para a troca de
ideias, com informações adequadas e precisas sobre a viagem. E o entrosamento
corre fluído como nunca antes. A noite passa agradável...
Perceberam como a tecnologia, se
bem entendida e bem usada, pode melhorar a vida de muita gente? Se o casal
pertencesse, por principio, ao grupo dos que normalmente refutam novas
tecnologias só porque veem apenas os seus malefícios (aqueles 16% da população),
então nada poderia ser útil para ajudá-los na melhoria de suas vidas. Tem gente
que odeia faca porque com ela pode-se matar alguém, mas se esquece das mil
utilidades que tem na culinária e em tantas outras atividades. Odeia carros
porque com eles pode-se atropelar alguém, mas se esquece do quão necessários são para o transporte e o lazer. Odeia televisão porque nela se vê tantas
bobagens e pornografia, mas desconsidera o que pode obter de informações e de
serviços úteis.
Como veem, é uma questão de
posicionamento frente à vida. Quem é negativista só vê as coisas pelo lado
ruim. Quem é otimista, às vezes, pode até ver somente as coisas boas e
inocentemente deixar passar as coisas ruins. O ideal é, portanto, o bom senso;
o meio termo; a decisão analisada, ponderada de quem consegue ter uma visão
realista, mas com tonalidades de otimismo.
Hoje, quando vejo pessoas nos
restaurantes olhando para seus smartphones, sempre penso que elas estão
buscando informações que são úteis para se tornar aquele momento mais produtivo
e agradável. Nunca imagino que a sua companhia está sendo desprezada só porque
o aparelhinho está ligado, pois quando a companhia não agrada não deve ser por
causa da nova tecnologia, mas por razões outras que precisam, psicologicamente,
antes serem superadas.
Edson Pinto
Abril’ 2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Acabei de ler um livro muitíssimo interessante: “No Final do Século XX”. Contém reflexões dos maiores pensadores contemporâneos como Isaiah Berlin, Daniel Boorstin, Alvin & Heidi Toffler entre outros. O objetivo da compilação era - no início dos anos 1.990 - avaliar o que seria o século XXI, este que vivemos agora.
As entrevistas e outros escritos do livro têm, portanto e tão somente cerca de 20 anos. Convenhamos, 20 anos não são nada até mesmo para a nossa vida presentemente tão longeva.
O curioso é que nenhum dos pensadores abordou e/ou deu ênfase à revolução ocorrida na tecnologia da comunicação e nas implicações que isso traria sobre a forma como as pessoas hoje se relacionam.
Será que a evolução tecnológica tem sido tão rápida que nem mesmo as boas cabeças conseguem prevê-las no horizonte de apenas duas décadas? Ou será que a humanidade encontra-se tão aberta para inovações que anda desprezando, sem dó nem piedade, as formas tradicionais de convivência?
Pensando nisto, escrevi esta crônica “VIDA JURÁSSICA” que tem muito a ver com essas novas formas de relacionamento interpessoal e em que isso pode ser socialmente útil.
Boa final de semana a todos!
Edson Pinto
Amigo Edson, Parabéns pelas suas observações e comentários sobre a VIDA JURASSICA, realmente nos últimos 20 anos houve uma explosão de tecnologia, principalmente na área de comunicação, onde até os carros atualmente são equipados com acessórios cada vez mais sofisticados para facilitar a vida dos seus felizes proprietários e tudo isso vem dessa mudança tecnológica que o planeta esta vivendo.Quem viver verá muito mais...
Abs.
Marco Brizzi
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