Não é minha intenção fazer aqui o
confronto clássico entre socialismo e capitalismo, esquerda e direita. Este não
é um ensaio político/sociológico/econômico. É apenas uma crônica do nosso
cotidiano. Se isso, contudo, se encaixar nesses conceitos, tudo bem. Não foi a
minha intenção inicial...
Quando falamos que alguém, que algum
partido, que algum regime político e econômico ou que alguma tendência é socialista,
não queremos necessariamente nos referir ao processo revolucionário marxista que,
se tivesse dado certo, teria levado boa parte do mundo ao comunismo. Até mesmo
os regimes abertamente capitalistas incorporaram muitos dos conceitos e teses sociais
que podem tranquilamente conviver com sistemas econômicos liberais. Afinal, o
bom propósito de governos de quaisquer tendências ideológicas acaba por
incorporar programas de proteção e suporte aos mais fracos ao mesmo tempo em estimulam
a redução das desigualdades sociais, pois, isto – queiram o não – é bom para
todos.
Remonta ao século XVIII, quando
da Revolução Francesa, uma separação que se tornou clássica: Sentavam, por
coincidência, na Assembleia Nacional Constituinte, à esquerda do auditório, aqueles
que defendiam a ideia de um novo governo voltado para o combate das desigualdades
sociais de então. A todos que se identificavam com aquela ideologia passou-se a
chamar de “Esquerda”. Do lado direito, daí denominar-se de “Direita”, encontravam-se
aqueles que suportavam a manutenção o “status quo”, isto é, a continuidade, na
época, do velho regime. Desde então, ter ideia de esquerda ou de direita vem
sendo associado aos conceitos socialismo de um lado, capitalismo/conservador,
do outro. Não importa! O que é relevante é que ninguém – em sã consciência – é
totalmente uma coisa ou totalmente outra.
Dizer que o PT é puramente de
esquerda é balela. Em que pese defender teses socialistas importantes como todo
o aparato de programas sociais que fez vicejar nos últimos 12 anos, isto não o
impediu de ter posturas bem capitalistas. Basta consideramos toda a farra com o
sistema produtivo para benefício de partidos políticos e até mesmo dos bolsos
de muita gente que passou a fazer parte da nova elite. Nem é correto dizer que
o período PSDB começado por Itamar Franco e completado por Fernando Henrique
Cardoso fora totalmente conservador. Vários dos programas de suporte social
como o “Bolsa Família” foram gestados naquela época. Portanto, é mais correto
dizer que certo partido, ou certo regime, é de tendência, isto é, tem traços,
tem jeito, é mais afinado com a Esquerda ou com a Direitista, e só...
O grande problema é quando uma
das correntes vai muito a fundo na radicalização de sua tendência naquela base
maniqueísta do “tudo ou nada”. Pobre e desafortunado é o governo que não sabe dosar
essas benesses sociais. Infelizmente – e a história está aí para nos confirmar
– o comunismo fracassou exatamente porque radicalizou a ideia de redistribuir a
riqueza sem prestar atenção às diferenças existentes entre as pessoas. A
sociedade é uma forma ampliada da individualidade. Se uma criança é criada com
mimos e superproteção o resultado é aquele que todos nós sobejamente já sabemos:
Teremos um adulto incapaz de prover as suas próprias necessidades dependendo
sempre da ajuda do “papai” ou da “mamãe” Aqui, vale aquela máxima popular de
que é mais importante ensinar a pescar do que simplesmente ficar por toda a
vida fornecendo o peixe.
O nosso governo atual é pródigo
em distribuir a riqueza gerada pelos outros. Já temos 50 milhões de brasileiros
acomodados com o programa social da Bolsa Família. Muitos outros milhões vivem de
aposentadorias especiais para as quais não contribuíram suficientemente para a
formação dos fundos, mas são suportados pelo tesouro, ou melhor, pelos impostos
que pagamos. Há, ainda, vários programas sociais e benesses de mil formatos que
exigem cada vez mais impostos para cobrir orçamentos cada vez maiores. O
pensador político americano, Robert Nozick, em seu livro Anarquia, Estado e
Utopia, descreveu a carga tributária como uma forma de escravidão ao considerar
que uma parcela da sociedade se apropria do trabalho de outra, no caso os
contribuintes, para ter satisfeitas as suas necessidades. O contribuinte passa,
então, a ser um escravo espoliado de forma impiedosa...
Já temos tempo suficiente de
bolsas sociais para ver que muita gente que delas se beneficia está acomodada
com as benesses e passa a fazer disso um meio de vida. Recusam trabalhos para
não perderem os benefícios; reclamam do baixo valor dos benefícios e se
viciaram em pedir mais e mais. A mulher que está oito anos recebendo o “Bolsa
Família” reclama aos brados, na TV, que o benefício não lhe é suficiente para
comprar uma “calça de marca” para a filha adolescente. Outra quer por que quer
ganhar um apartamento do governo; outra ainda pleiteia terras; outros exigem
ingressos para os jogos da Copa; outros querem passes livres para usar os meios
de transporte e a lista não se esgota de tantos pedidos. Viramos um país de
pidões mimados. A ordem é pedir, pedir e pedir... Ninguém pede mais trabalho ou
mais escolas para estudar. Nem se organiza com os vizinhos para cuidar daquela
praça judiada de sua vizinhança ou para ajudar na reforma e na limpeza da
escola pública onde os filhos estudam de graça.
O governo que, franciscanamente, sabe muito bem que é dando que se recebe
costuma não falhar nessa permuta. Dá benesses e espera receber votos. Assim,
com o trabalho de uma parte da sociedade, tem dinheiro suficiente para manter a
outra que lhe dá votos e ainda se perenizar no poder. Bingo!
O único problema é que quando a
outra metade que tem que suportar com impostos cada vez maiores e de forma
permanente as benesses concedidas aos outros, começa a sentir o mesmo que sofreram
os comunistas produtivos: A banda útil começa a questionar o seu papel de mero
contribuinte e diminuirá o nível de seu esforço. A sociedade como um todo será
menos produtiva; o bolo diminuirá de tamanho, e no final, nem todos terão dele
um pedacinho sequer...
Edson Pinto
Maio’ 2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Vocês já perceberam como uma parcela considerável da nossa sociedade anda pedindo e até mesmo exigindo benefícios do governo?
Redistribuir riqueza de forma adequada e produtiva é da essência das sociedades justas. O problema é quando isso começa a pesar exageradamente no bolso dos cidadãos contribuintes.
Nesta semana escrevi a crônica “NO PAÍS DE PIDÕES MIMADOS” refletindo sobre isto. Será que concordam comigo?
Boa final de semana a todos!
Edson Pinto
Excelente !! Retrata o que penso e comento....
Abraço
Cristina Taurizano
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