Quem já trabalhou em uma empresa
razoavelmente organizada, especialmente em uma de grande porte, sabe muito bem
do que falo:
É muitíssimo provável, quase
certo, diria, que eventuais malversações gigantes sejam rapidamente descobertas
e exemplarmente punidas em curtíssimo prazo. As múltiplas e variadas pequenas
malversações podem até demandar mais tempo para serem detectadas, mas, mesmo
assim, ainda que em longo prazo, tendem a ser igualmente punidas e coibidas.
Contudo, a perversa condição de que grandes malversações possam permanecer ocultas
por um prazo muito longo ou mesmo que nunca sejam descobertas é, na prática, quase
tão impossível quanto submergir no Mar Morto. Tal qual rolhas de cortiça, as “lambanças”-
para não usar outro termo de ordem escatológica - ficam flutuando para
conhecimento de todos, especialmente daqueles que mantém interesse no sucesso
da empresa, da organização, do Estado...
Embora a chamada Ciência
Administrativa mostre sua face como tal somente a partir da Revolução
Industrial da Inglaterra em meados do século XIX e que os princípios da boa
administração de Fayol, Ford e Taylor são avanços da aurora do século XX, o
homem sempre soube controlar com razoável competência as suas contas. Não quero
fazer uma digressão histórica, mas peço que considerem que os Faraós do Egito,
três mil anos antes de Cristo; a administração pública das cidades/estados
gregas, séculos VI a IV a.C; o Império Romano no início da Era Cristã; toda a
estrutura de registros da Igreja Católica aos longos dos últimos dois mil anos
e as grandes navegações dos séculos XV e XVI desenvolveram formas de controles
adequados para que os recursos escassos de sempre fossem bem administrados.
Em uma empresa da atualidade tudo
é - ou deveria ser - muito bem controlado. Não se entra em suas instalações sem
a devida identificação; tudo o que se movimenta com reflexo nos resultados e no
patrimônio da empresa é registrado pela Contabilidade na famosa e cientifica
forma de que a cada débito corresponde um crédito; Há gestores de gastos,
gestores de contratos, gestores de receitas, gestores de tudo. Há, ainda,
Auditoria Interna, Auditoria Externa, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal,
Conselho de Administração e várias outras instâncias que controlam o que as
outras fazem.
Agora imaginemos a nossa
Petrobrás: Criada em 1954 por Getúlio Vargas em resposta ao clamor popular
nacionalista do “O Petróleo é Nosso”. Sessenta anos de existência; exitosa na
prospecção, no refino e na distribuição de petróleo e seus derivados; mais de
oitenta mil funcionários; por bons anos uma das maiores empresas do mundo e com
atuação de destaque em um setor de vital importância como é o da energia, acaso
não contaria com os tradicionais e bem testados sistemas de controles internos
e externos para se evitar a vexatória ocorrência de mais uma deslavada
rapinagem como a do recente episódio Paulo Roberto Costa em favor dos interesses
escusos daqueles que dirigem o País?
Por onde andaram nos últimos 12
anos de governo petista os contadores da Petrobrás; os seus auditores internos
e externos; os seus Conselhos Deliberativo, Fiscal e de Administração e toda a
miríade de controladores que desta grande empresa recebem regiamente suas
contrapartidas em salários, benefícios sociais, bônus e remuneração de
contratos com prestadores de serviços? Sumiram ou se omitiram? É difícil
pontuar corretamente o que foi que aconteceu, mas por uma simples lógica
cartesiana dá para se concluir: se os órgãos existem, se os sistemas de
controle estão disponíveis e se o seu pessoal é de bom nível técnico, então só
nos resta concluir tratar-se de omissão. Pronto!
É inadmissível o fato de um Diretor,
mesmo que todo poderoso como o Engº Paulo Roberto Costa, tenha executado tantos
desmandos como o dinheiro da Petrobrás sem que gente a ele subordinada; de
áreas paralelas ou mesmo seus superiores; os órgãos de controles da empresa como
Auditoria e Conselhos não tenham, em doze anos, percebido que algo de anormal
vinha ocorrendo. Só dá para inferir que a estrutura, de alto a baixo, esteve
também comprometida com os desmandos, caso contrário, estaria faltando créditos
para débitos na contabilidade; existiriam notas nos relatórios de auditórias;
pedidos de esclarecimentos nas atas dos Conselhos e até mesmo desconfiometros
ativados daqueles que tem a obrigação de zelar pela coisa comum, seja pública
ou privada, porque – lembremos – a Petrobrás além de ser uma empresa pública
conta com a participação acionária de centenas de milhares de brasileiros que
ali puseram suas poupanças e até mesmo o seu FGTS na forma de ações.
E o pior é o caradurismo daqueles
que deveriam se sentir responsáveis pela empresa que ainda propagam ser ela
detentora de uma administração exemplar, orgulho dos brasileiros e paradigma
das melhores do ramo. Pode? Sim, pode, pois é exatamente essa
irresponsabilidade e ganância sobre o patrimônio público é que está por trás dos
desmandos que ora se revelam assustadores. Não fosse uma articulação
intencional e o aparelhamento conveniente das diversas instâncias operacionais
e de controle da empresa, tais abusos não teriam ocorrido.
Fica aqui, amigos, uma grande
lição. E ela vale tanto para a coisa pública quanto para a coisa privada: Os
sistemas de gestão e controles são bons e funcionam a contento tão somente quando
as pessoas que têm o poder das decisões são sérias. O único lenitivo que nos
acorre é o de que mais cedo ou mais tarde, com as ferramentas oferecidas pela
Administração moderna, um ato impróprio sempre será descoberto. O único
problema é quando os interessados no sucesso da empresa sem omitem. Assim, fica
indiferente para os espertinhos se seus atos flutuem como nas águas densas do Mar
Morto, ou não.
Enquanto isso, só nos resta o
alinhamento ao que a sabedoria popular nos lega de forma propositalmente jocosa
na forma de “Me engana que eu gosto”.
Edson Pinto
Setembro’2014
4 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos:
Caros amigos (as):
Esse mais recente escândalo da Petrobrás põe em xeque tudo o que sabemos sobre a forma correta de se administrar uma empresa, uma organização ou até mesmo o País.
Será que não bastam bons sistemas de controles, ou será que existe algo superior que deixa a coisa funcionar bem, ou não?
Nesta semana refleti sobre isto e escrevi o texto ME ENGANA QUE EU GOSTO que está publicado aqui no meu blog.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
Caro Edson,
Comentário lúcido, obrigado.
Abs, Giba Canto.
Edson,
Só não podemos nos acomodar nesta situação. Se queremos mudanças, a hora é agora.
Beijos, Regina.
Perfeita sua reflexão. O que desanima é que essa realidade não é novidade, ou seja, a impunidade reina majestosa sem que possamos fazer nada...., ou melhor, a única (e eficaz) atitude é demonstrar nosso poder nas urnas.... mas será??
Bom fim de semana a todos....Suely
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