Será que a “Nova Política” tão propalada
pela candidata à Presidência, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima (é assim
mesmo, e é bom que comecemos a nos familiarizar com este nome tão longo quanto
pitoresco), ou simplesmente Marina Silva, para demonizar o PT e o PSDB ao mesmo
tempo é assim, de fato, tão nova? Ela diz que irá governar com os “melhores”
independentemente de quais partidos venham ou pertençam. Isso soa como música
aos ouvidos de todos os brasileiros que já se acostumaram a identificar os
políticos e os que compõem a máquina do Estado como sendo gente de baixa
qualificação técnica e princípios morais duvidosos.
Diz também que será paradigma de
honestidade; combaterá a corrupção como nunca e governará com o povo, blá-blá-blá,
blá-blá-blá... Tão logo indicada para substituir Eduardo Campos e, no calor da
comoção que o desaparecimento do jovem governador de Pernambuco, deu um salto gigantesco
nas pesquisas. Mesmo perdendo alguns pontos nas duas últimas semanas já começa
a consolidar seu eleitorado em nível tal que dificilmente deixará de marcar
presença no segundo turno das eleições. Para ir à presidência, então, é só
contar com o voto da boa parte dos apoiadores de Aécio Neves, aqueles que correm
da Dilma e do PT mais do que o diabo da cruz.
Mas o PT arrepiou-se todinho com a
inesperada exuberância eleitoral de Marina e resolveu abrir a sua caixa de
ferramentas: Disparou impropérios à nossa Madre Teresa de Calcutá tupiniquim,
culminando com a própria Dilma a fazer uso de uma ardida injúria quando diz que,
se eleita, Marina acabaria com o Bolsa Família. Algo parecido a isto teria sido
insinuado ou mesmo dito: “Vocês, povo brasileiro, vão voltar a passar fome
porque o Bolsa Família não mais existirá se Marina tomar o meu lugar”.
Pegou, evidentemente, bem direto
no estomago da magérrima Marina que - mais do que simplesmente ter sido afetada
em algo que lhe é, por experiência própria, muito caro - ou seja, a vida em um
ambiente pobre no longínquo e muito tropical estado do Acre, viu a oportunidade
de dar o troco à altura. O único problema é que a forma que escolheu para
fazê-lo foi lançando mão de um dos mais clássicos recursos da “Política Velha”,
exatamente aquela que ela atribui aos adversários e que não só abomina como
promete combater diuturnamente. O Povo, dentro do conceito de Política Velha, só
decide pela emoção. Disso ela já tinha certeza desde o dia 13 de agosto quando a
desdita levou o candidato Eduardo Campos abrindo-lhe a oportunidade de
substituí-lo como candidata titular da chapa.
Marina Silva foi uma verdadeira artista: De um palanque em Fortaleza
contestou veementemente Dilma com o argumento de que jamais acabaria com o
"Bolsa Família", pois ela, mais do que ninguém, sabia muito bem o que
significava passar fome. Juntou fatos com característica de verossimilhança (no
Aurélio: aquilo que parece verdadeiro, que não repugna a verdade, provável) com
uma emoção tão convincente que lhe embargou a voz por vários segundos. Tudo
muito parecido com o que o experiente Lula, com extrema maestria, sempre soube
usar para comover suas plateias:
"Dilma, você não pode combater com
as suas armas a nossa verdade, o nosso respeito e as nossas propostas. Nós
vamos manter o Bolsa Família. Sabe por quê? Porque eu nasci no seringal Bagaço,
eu sei o que é passar fome. Tudo o que minha mãe tinha para oito filhos era
ovo, um pouco de farinha e sal. Eu me lembro de olhar para minha mãe e meu pai
e perguntar: vocês não vão comer? E eles responderam: 'Nós não estamos com
fome'. E uma criança acreditou naquilo, mas eu depois entendi que eles há mais
de um dia não comiam. Quem viveu essa experiência jamais acabará com o Bolsa
Família. Não é um discurso, é uma vida".
Quem não se emocionaria com um
discurso desses? As pessoas que já sofreram privações em algum momento das suas
vidas são sempre muito emotivas, sabemos disso. É por isso que o bom
entrevistador sabe muito bem a importância de se buscar aqueles pontos de
fragilidade emocional do entrevistado sempre com o propósito de levá-lo, se
possível, às lágrimas. Marina foi esperta ao receber essa bola levantada por
Dilma. Sem pestanejar, enfiou um rebote de primeira e marcou, do ponto de vista
político, um gol espetacular. Disso ninguém tem dúvidas.
O que as pessoas não conseguem racionalmente
colocar em suspeição é se aquela história do ovo, da farinha e do sal retratava
exatamente o que era a vida de uma família seringueira. Não quero por em xeque
as agruras que devem ter realmente passado, mas me pergunto: Como uma família
ambientada na floresta onde abundam alimentos consegue passar fome? Dá até para
entender que podem faltar coisas que independam da floresta: faltar uma ferramenta
para o dia a dia, um remédio, a eletricidade, uma roupa apropriada, o
combustível para o barco, a televisão, a geladeira e coisas tais. Mas - convenhamos
- não ter o que comer quando a floresta dá alimentos vegetais, peixes e caças
em abundância, já me parece um exagero.
Claro que não tem McDonalds, nem
Pizzarias, mas tem tacacá, tucupi, jambu, tucumã, banana, guaraná, castanha,
cupuaçu. E dos seus caudalosos rios, os maiores do mundo, o tambaqui e o
pirarucu só para citar algumas das riquezas extrativistas da floresta. Passar
fome nessas condições é como diz a voz do povo, padecer no paraíso. Lula - "como nunca antes na história deste país" - é mestre em explorar essa fragilidade emocional das massas. É da velha
Política e parece que agora que também da Nova. Mais uma vez corremos o risco
de votar pela emoção. Quem tem um histórico de fome, independente das razões
que o levou a esse infortúnio, tem mais chances de se eleger do que outro que
em sua vida já tenha superado isso.
Já que o estilo é o da Política
Velha será que a campanha do Aécio não poderia inventar uma história de fome
também? Sugiro na falta de uma ideia melhor, que o Aécio rememore em um
discurso carregado de emoção que uma vez sua babá esqueceu-se de lhe preparar a
mamadeira e que ele, assim e por várias horas, passou fome... Deve funcionar!
Edson Pinto
Setembro’ 2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Estarei por alguns dias fora do meu hábitat, razão que me leva a publicar, hoje mesmo, a crônica que normalmente faria circular só mais para o final da semana.
Estou ainda com a cabeça nas eleições que acontecerão brevemente e isso me levou a uma nova reflexão sobre a forma como escolhemos nossos líderes políticos.
Leiam este meu novo texto com o título de "A FOME DE MARINA" e até breve!
Abraço a todos!
Edson Pinto
Edson,
Texto muito bom e interessante, como sempre ...Ótima observação a respeito do discurso da Marina e de todo o contexto envolvido.
Talvez um dia, no nosso Brasil, haverá mudança desse perfil da maioria, que é por ocasião das eleições, valorizar o cidadão que passou por situações de dificuldade.
Grande abraço
Cristina Taurizano
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