Em decorrência da apuração de
suposto desvio de bilhões dos cofres de uma empresa pública, um dos envolvidos
se encontra preso em uma cela da Polícia Federal em um lugar qualquer deste
imenso País. Embora diminuta, a cela tem duas portas vigiadas por dois policiais
protegidos por máscaras para não serem identificados. As portas, igualmente não
identificadas, têm cada qual um destino. Uma leva à liberdade, a outra à morte
moral e política.
É dada ao preso a oportunidade de
escolha de uma das portas para dali sair. Obviamente ele quer escolher a porta
que o leve à liberdade. O carcereiro permite-lhe fazer apenas uma pergunta a um
dos dois policiais que vigiam as portas. É dito ainda que um dos policiais, sem
que se identifique qual, fala sempre a verdade, enquanto o outro é um mentiroso
contumaz.
Estivesse você no lugar do preso,
que pergunta você faria a um dos guardas?
Volto à resposta ao final do
texto.
Antes:
Adaptei esse clássico e já bem
conhecido problema de lógica para mostrar que vivemos um momento ímpar da vida
nacional. Como nunca antes visto, recorrer aos ensinamentos da Filosofia se
tornou tão necessário quanto o ar que respiramos, o alimento que ingerimos e a
água que bebemos. Na Grécia antiga – não nessa Grécia estropiada de hoje –
filósofos como Aristóteles já haviam detectado a importância de se estudar os
processos intelectuais que levam ao conhecimento correto de tudo o que nos
rodeia. Só assim seremos capazes de entender quais argumentos são verdadeiros e
quais são falaciosos, mentirosos...
Vivemos em um mundo de falácias
quando argumentações com aparência de verdades são produzidas para os
propósitos de engano. Tanto na esfera da lógica como na esfera da retórica as
falácias pululam de forma permanente como recurso para livrar a cara daqueles
que agem política e moralmente de maneira condenável. Não raro, argumentos que
vêm embrulhados em lindo papel de verdades incontestes não trazem mais do que um
conteúdo falso. Entre dezenas de tipos já classificadas de falácias, quero
pinçar e comentar sobre uma delas:
A falácia “Tu quoque”, ou “você
também”: É o argumento daquele partido político - por exemplo - que já não
tendo encontrado justificativa convincente para as suas pedalas fiscais não
encontra outra saída senão a de admitir os seus erros, mas justificá-los com o
fato de que outros também o cometeram. Assim, imaginam que ao se igualarem a
outros pecadores que por quaisquer razões não foram punidos também deveriam
merecer o mesmo tratamento. Lembrem-se daquele personagem do saudoso Chico
Anysio, Tavares, um hipócrita assumido, bêbado, que sempre saia com a máxima
de: “Sou, mas quem não é?”.
O governo que esta aí e com o volume
de problemas que conseguiu acumular, por mais boa vontade que tenhamos para com
ele, já deve ter esgotado todo o arsenal de falácias possíveis e imaginárias na
tentativa, hoje, vã de transformar mentiras em verdades. Se acontecer uma
reviravolta do quadro atual mantendo-se os mesmos personagens será não só um
milagre, mas a contestação histórico/milenar de que a lógica e a coerência deveriam
sempre reinar sobre os atos da vida. A Filosofia e a sua afilhada, a Lógica,
seriam colocadas de cabeça para baixo...
A propósito, a única pergunta que
levaria o preso para o caminho da liberdade seria pergunta a qualquer um dos
guardas: Qual porta o outro guarda indicará como sendo a da liberdade?
Explico:
Primeiro, se a pergunta cair para
o guarda mentiroso, ele certamente dirá que o outro guarda (por exclusão o que
fala a verdade) apontará determinada porta como a porta da liberdade. Estaria,
como sempre, mentindo, distorcendo, a verdade do outro.
Segundo, se a pergunta cair para
o guarda que só fala a verdade e sendo este sabedor que o outro guarda sempre
mente, este também apontará para a mesma porta como sendo a porta que levará à
liberdade.
Conclusão: Como ambos indicariam
a porta da morte como sendo a que pressupostamente levaria à liberdade,
bastaria então seguir para a outra porta, ela sim a porta da liberdade.
O preso não viu, pois os guardas
encontravam-se mascarados. Soube, contudo e apenas depois de já se encontrar em
liberdade, que o guarda mentiroso tinha em seu peito a tatuagem de uma estrela
vermelha.
Edson Pinto
Julho’2015
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Ninguém com razoável experiência de vida há de esperar que tudo o que se ouve seja absolutamente verdadeiro. Enquanto os animais irracionais dissimulam por motivos de sobrevivência, o ser humano o faz também até mesmo por razões escusas.
Tanto é verdade que, bem uma centena de falácias de lógica e oratória, já se encontra catalogada. Servem como ferramentas habilíssimas para os que querem enganar...
No texto desta semana falo sobre uma dessas falácias, aquela que se escuda no erro dos outros para justificar os próprios.
Abraço e bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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