Tem gente que acorda, toma café e sai distribuindo estereótipos como quem oferece santinhos em tempos de campanha eleitoral. É automático, quase inconsciente: O mineiro é desconfiado, quieto e se entope de pão de queijo. O baiano é preguiçoso, o paulista vive com pressa, todo brasileiro dança samba e joga futebol, o político é corrupto, todo russo se afoga em vodca, o adolescente é rebelde, o pobre é preguiçoso, o rico é arrogante. Cada grupo, um rótulo; cada pessoa uma caricatura, uma visão simplificada e simplória...
O
estereótipo, intelectualmente falando, é uma espécie de atalho mental, uma
forma cômoda de não precisar pensar. Afinal, por que tentar entender alguém se
é mais fácil encaixá-lo num molde pronto, não é? Dá menos trabalho. E, para
muitos, isso já basta. Mas esse atalho tem pedágio alto: o da ignorância.
No
cotidiano, o estereótipo veste argumentos como se fossem ternos bem cortados,
costurados e caprichosamente bem passados.. Está nas conversas de bares, nos
debates políticos rasos, nas redes sociais onde todo mundo tem opinião sobre
tudo e todos, mas pouca escuta para assimilar as eventuais contra argumentações.
Serve para vencer uma discussão sem precisar ter razão, só impacto. É o famoso
“todo político rouba” que silencia o debate sobre ética; o “isso é coisa de fascista”
que encerra qualquer tentativa de empatia na seara política.
E
o pior: muitas vezes quem usa dos estereótipos na argumentação nem se dá conta
disso. Acha que está sendo realista, direto, até sagaz. Não percebe que repete
falas herdadas, ideias empacotadas que nunca foram questionadas. O estereótipo
é a ferramenta do ignorante. Trabalha com ela para atingir seu objetivo argumentativo.
Porque, ignorância, no fim das contas, é só a ausência de olhar mais profundo,
de ferramenta mais adequada...
Desconstruir
estereótipos dá trabalho. Exige curiosidade, disposição para o incômodo,
vontade de ouvir histórias que fogem do script. Mas é nesse esforço que mora a
empatia.
E
quem sabe, um pouco de sabedoria.
Edson Pinto
Abril, 2025
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