Em março de 2001, por ordem do governo fundamentalista taliban, foram destruídas as gigantescas e milenares estátuas do Buda do vale Bamiyan a 240 km de Cabul no Afeganistão. Uma delas era a maior estátua de um Buda no mundo. Implodiram-nas como ao 1.400 da Av. Engº Luiz Carlos Berrini, porque queriam apagar a memória do passado que lhes parecia cruel.
Em 64 AD, o paranóico imperador Nero, depois de já ter determinado a morte de sua mãe Agripina e também a de sua esposa, incendiou Roma na esperança de reconstruí-la com ainda mais esplendor. De seus escombros surgiria uma Roma mais moderna, como certamente será o novo espigão na confluência da Geraldo Flauzino Gomes com a Av. que tem o nome do famoso engenheiro.
Thor, o deus nórdico de cabelos vermelhos e que representava as forças da natureza, fazia surgir de seu martelo mágico os raios que destruíam seus inimigos de forma impiedosa, como as dinamites que transformaram em pó o antigo Head-Quarters da grande multinacional das Ondas e Estrelas e que para lá se mandou quando seus líderes vislubraram um futuro ainda mais portentoso para a grande Organização.
Não será a última implosão de nossas vidas, nem a última minúscula partícula de pó a entrar nos nossos olhos, menos para arranhá-los, mas, mais para provocar-nos lágrimas de nostalgia. Como são tolas e inúteis nossas memórias românticas... Por que se nos formaram tão fortes sinapses daquilo que materialmente pouco faz sentido, mas que nos vale para a alma mais do que todo o ouro do universo?
É isto o que nos significam os sonhos que tivemos... Responde-me o coração, porém a lógica não me fala nada... Um sonho coletivo daqueles que marcam a vida de várias gerações, daqueles que se tornam uma obra grandiosa na vida de cada um, como as gigantescas estátuas do líder espiritual, como a cidade berço da civilização e cultura mundiais ou como o imaginário mitólogico de nossa ânsia ancestral para compreensão melhor do mundo em que vivemos.
Ao ser pulverizado aquele prédio - que nem nosso mais era – pulverizam-se também nossas gratas memórias. Aquela potência que jogava limpamente no tabuleiro das grandes partidas de um ambiente econômico tão rude, mas que soube galgar celeremente a liderança em quase todos os segmentos em que atuava. Quase 25 mil almas lá trabalhando ao mesmo tempo, 4 vezes mais almas dependentes que viviam na órbita e gerações seguidas que, se tudo somado, ocupariam plenamente a grandiosa Roma dos tempos de Nero.
Mas, nas voltas que a vida dá, tudo mudou. Claro que pode e deve ter sido para melhor, pelo menos para o melhor do momento. A grande organização como que vivendo na Liliput das famosas viagens de Gulliver ajustou seu tamanho para continuar viva no palco das grandes batalhas. Obrigou-se a ser pequena e leve em acordo com o oxigênio que as vigentes regras do mercado lhe disponibiliza.
E aqui ficamos nós, a velha guarda philipina, interpretando de forma nostálgica a mensagem que o pó deste prédio nos quer passar. Será o fim de uma era dourada? O despertar de um longo e doce sonho? Quem suportaria amargar por tanto tempo a mais doída de todas as dores que é esse infindo aperto d’alma? Vão-se, junto com toda a poeira revolta que emerge dos escombros do 1.400, também nossas doces lembranças?
Tenho certeza de que não...
Não por coincidência tinha eu, até então, listado 1.399 lembranças de nossa empresa querida, indo das boas e duradouras amizades que lá fizemos, do aprendizado, sem igual, que os grandes mestres philipinos no propiciaram, até ao prazer maior que nos enchia de orgulho por darmos empregos, gerarmos riquezas, fazer e distribuir produtos inovadores que divertiam, iluminavam e salvavam vidas.
Agora, com mais a lembrança desta foto que reproduzo abaixo, totalizam-se 1.400 razões para renovarmos o nosso orgulho philipino.
Edson P. Pinto – SP 17/02/2008
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