Quem não há de se lembrar
daqueles caminhões de mudança ostentando o prosaico lema da empresa, sua
proprietária: “O mundo gira, a Lusitana roda”?
A quase centenária empresa de transporte
de mudanças acertou em cheio ao transmitir a ideia de que, enquanto tudo
acontece (o mundo gira), ela continua também cumprindo o seu destino de fazer
seus caminhões rodarem para a entrega dos pertences que famílias e empresas
precisam mudar de um lugar a outro (a Lusitana, a transportadora, roda).
Esta frase/lema é tão boa que
poderia ser adaptada a infindáveis situações de nossas vidas. Nada do que nos diz
respeito diretamente há de ser tão importante que tenha o poder de fazer com
que o mundo deixe de girar. O mundo continua cumprindo a sua trajetória rumo ao
infinito mesmo que o nosso “caminhãozinho particular” deixe, por quaisquer que
sejam as razões, de rodar. Somos efêmeros enquanto o mundo, o Universo e a vida
prosseguem sem interrupções, sem paradas, sem pressa e sem limites.
Parei de rodar meu blog por
praticamente duas semanas. Alguns poucos amigos sentiram falta de novas
publicações e me questionaram. A maioria deve ter gostado. O mundo, porém, não
parou, é claro. Mas, confesso, deixei parcialmente de rodar nesse interregno.
Não por mim, cuja saúde continua boa e o interesse pelas coisas de que cuido
continua impávido. Garanto-lhes também que não foi porque decidi reforçar as
passeatas patrióticas que tomaram conta do País exatamente nessas duas semanas
de abstinência deste escrevinhador.
Juro que, se não fosse por um
motivo bem forte e de ordem familiar, eu teria também levado para as ruas a
minha própria plaquinha para demonstrar indignação com as coisas que andam por
aí. Não escreveria nada a mais sobre a corrupção desenfreada que assola o País;
nem sobre a precariedade da nossa saúde pública; nem sobre o descalabro do transporte
urbano; nem me envolveria com comparações entre os magníficos estádios da Copa
do Mundo, padrão FIFA, com o padrão de “titica” de tudo o que o Estado nos
oferece em contrapartida aos 40% de impostos que pagamos; nem mesmo me
concentraria em outros temas que compõem o pote cheio de mágoas do sofrido povo
brasileiro, pois os manifestantes da vanguarda disso já cuidaram. Talvez
escrevesse algo relacionado com o título desta crônica. Escreveria
simplesmente: “O Lula gira e o povo roda”. Seria apenas para dizer que enquanto
estamos rodando inquietos nesta antessala de dias tenebrosos, o autor de tudo
isso resolveu palestrar, girar, em terras de África. Deve ter optado por fazer
a rota da circunavegação enquanto seu poste tenta se virar como pode...
A roda parou porque minha querida
sogra, Dona Inês, lá em Belo Horizonte, partiu para outra dimensão após duas
semanas de sofrimento em uma UTI hospitalar. No final dos anos 40, quando
inaugurado, o Hospital Vera Cruz tinha padrão FIFA. Hoje, não que eu esteja
dizendo que ele acelera mortes, pois morrer é da natureza, o seu padrão de excelência
está apenas nas fotos antigas que ilustram seus corredores com mais pacientes
do que a estrutura de que dispõe. Dona Inês tinha 87 anos, criou e deixou vivos
10 filhos, 20 netos e 4 bisnetos. Nada mais previsível que a morte, mas mesmo
assim e em quaisquer circunstâncias em que ocorre, sempre nos toca fundo como
se fosse a nos alertar que ela é implacável e para todos.
Na estrada que me levou a Minas vivenciei
vários bloqueios de caminhoneiros que manifestavam sobre o elevado preço do
diesel, sobre os custos dos pedágios, as condições precárias das estradas,
entre outras. Nos arredores do hospital, Praça Sete de Setembro, a mais famosa
da capital mineira, inclusa, a população, ora ordeira, ora infiltrada de
vândalos, supostamente ali plantados para desestabilizar o movimento pacifico e
patriótico, gritava sua insatisfação com as coisas erradas que trazemos atravessadas
em nossas gargantas. O grito coletivo nada mais é do que uma metáfora para
explicar a tentativa de se livrar desse incomodo acumulado.
Curiosamente, volto a Belo
Horizonte em exatos 50 anos desde que ainda adolescente vi manifestações muito
parecidas nas mesmas avenidas, na mesma Praça Sete de Setembro (centro
geográfico da cidade), ao redor dos mesmos hospitais com manifestações muito
assemelhadas. Os temas básicos eram os mesmos dos protestos atuais, pois a vida
continua sendo muito simples. Todos querem e precisam de melhor atendimento
médico/hospitalar, de transporte público decente e de baixo custo, de uma moeda
sob controle, isto é, sem inflação, de respeito dos políticos para com as
necessidades da população, de menos corrupção e mais progresso.
O brasileiro que ascendeu um
pouco socialmente tem podido, vez por outra, dar um pulinho no exterior e –
como não poderia deixar de ser – toma aquele susto quando começa a comparar o
que temos aqui com o que vê lá fora. Lá os trens funcionam, as escolas são
boas, as ruas são limpas, as casas, mesmo simples, não se comparavam ao "favelório"
de nossas cidades, há segurança nas ruas, as pessoas não são assassinadas por
bandidos que roubam coisas pequenas e matam como se a vida nada valesse, os
postes não têm a fiação bagunçada como temos aqui, não há esgoto a céu aberto,
não há a estúpida burocracia que emperra o País como a nossa, enfim, é tudo
diferente, tudo melhor, tudo com qualidade, respeito aos cidadãos e com menos
impostos. Quer motivos maiores do que estes para levar o povo às ruas?
O mundo continua girando, a
Lusitana continua rodando e nós não nos localizamos ainda em que estágios
havemos de nos encaixar. Só gostaria de me apossar desse tema da Lusitana
aplicando-lhe uma pequena adaptação para que ele se coadune à nossa realidade
em especifico: O País há de continuar girando, só queremos que o PT e sua base
de governo rodem, lembrando-se de que o “rodar”, aqui, tem o sentido sair da
frente, perder o posto, ser defenestrado...
Edson Pinto
Julho’2013
7 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Manjam aquele truque de se eleger um inimigo externo comum para desviar o foco de problemas internos maiores?
Ditadores, mundo afora, têm por hábito arrumar uma encrenca qualquer, normalmente com os EUA, para abafar o descontentamento que grassa em seus próprios quintais.
Veio, portanto, a calhar esse imbróglio da espionagem americana via internet e outros meios de comunicação. Não deixa de ser preocupante, mas, tratado tão ferozmente, neste momento, por Dona Dilma (quem assistiu ao Jornal Nacional desta noite deve ter notado o furor que a presidente ainda não demonstrara nos desmandos em curso), até parece tábua de salvação, ou não é?
Minha crônica desta semana volta a bater na mesma tecla da insatisfação popular. Leiam “O MUNDO GIRA, A LUSITANA RODA”
Amanhã, terça-feira, 9 de julho, é feriado aqui em São Paulo. Comemora-se o dia em que o povo paulista pegou armas para lutar por um regime democrático no País deflagrando a Revolução Constitucionalista de 1932. Tem muito significado histórico...
Bom feriado e boa semana a todos!
Edson Pinto
Penso que cai muito bem a lembrança à consciência, da nossa vida efêmera.
Texto muito bem elaborado e verdadeiro.
E citando novamente, nossos profundos sentimentos em relação a passagem da D.Ines.
Abraço.
Cristina Taurizano
Querido Edson!
Parabenizo você, meu filho, por sua criatividade, sensibilidade e bom humor.
Gosto muito dos seus textos, sou sua fã número um.
A Lusitana me remete ao passado: quantas mudanças!!!
Um grande beijo da sua mãe.
De: João Paulo Miranda
Para: Edson Pinto
Tô contigo e não abro! Nesta linha, assino em baixo todos os seus textos.
Ass.João Paulo Pereira de Miranda."
De: Francisco José Araújo
Para: Edson Pinto
Prezado Amigo Edson Pinto,
É um pouco complicado, mesmo, pois já tentei uma ou outra vez enviar algumas observações, do meu lado, pelo blog e, também, não consegui remeter. Ai vai, então, pequenos comentários sobre o texto desta semana:
Como Você sabe, não fui um dos que questionaram a ausência de textos teu nas 2/3 últimas semanas más, também, fiquei aborrecido por saber que a razão foi o falecimento da Senhora tua Sogra. Más, é o caminho de todos nós e não há nada mais certo que a ida de todos nós. Aceite, e transmita a tua Esposa, meus pêsames pela partida de Dª Inês.
Para um ateu – graças a Deus – como eu, a morte sempre me leva a pensar, mais e mais, porque da ganância, cada vez maior, por poder e riqueza, quando tudo terá que ficar por aqui mesmo. Me imagino como poderia ter mudado, para melhor, este nosso Brasil, nestes 10 anos de PT, se os bandidos, ladrões e corruptos tivessem feito o que eles pregaram em ética e decência em todos os anos na oposição.
Gostei muito do “mundo gira...”. Você descreve, com muita precisão, quase tudo que “o povo, nas ruas e estradas, está apontando para esse desgoverno que, em todos os níveis e em todos os poderes, infelizmente, se apoderou desse nosso Brasil”.
Infelizmente, para mim, o movimento das ruas irá surtir muito pouco efeito – gostaria muito de estar errado - pois os políticos são todos, com raríssimas exceções, podres sim, mas muito espertos e saberão arrumar saídas para “continuarem engabelando o povo”.
Recebi uma mensagem, de uma querida Amiga, poucos dias atrás, onde ela menciona que a “Revolução Francesa começou com pãezinhos e a Brasileira começará pelos 20 centavos”. Respondi-lhe que gostaria muito que isso acontecesse e que eu, mesmo velhinho, não deixaria de estar presente, fosse onde fosse, que a guilhotina estivesse sendo usada.
Por último e, talvez, o mais importante: ainda estou em falta contigo, pois não consegui iniciar a leitura de “De Tudo um Pouco”; más em pouco vou lê-lo e comentarei contigo.
Grande abração e continuarei, sempre, aguardando os textos do Amigo / Araujo
Olá, está frase foi criada pelo meu Professor que até hoje tenho contato muito próximo com ele,ele é um gênio sem igual!
Oi amigo tudo bem?
Estou atrás de uma tia que foi criada pelo dono desta empresa a lusitana ...
Enfim você sabe algo desta empresa ou dos antigos donos.
O nome dessa tia é Maria de Lurdes Firmino de Oliveira
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