O novo prédio acaba de ser
finalizado. Opa! Agora, todo aquele transtorno provocado pelo vai e vem de
caminhões, montanhas de materiais de construção, fluxo de trabalhadores,
guindastes e outras imposições que uma grande obra provoca está terminado. O
trânsito fluirá célere e o que incomodava não nos incomodará mais. Certo?
Errado! Agora que está tudo pronto começa um novo martírio: A rua é tomada por
caçambas. É isto mesmo, caçambas, aqueles recipientes de aço, normalmente com o
número do telefone do proprietário estampado em letras garrafais que são
colocados nos lugares onde deveriam estacionar os veículos e que já se tornaram
verdadeira instituição nacional. Por que isso acontece?
Bem, meus amigos! São essas caçambas
que sugerem uma reflexão sobre como o ser humano, especialmente nós os
brasileiros, conduzimos nossas vidas: O prédio foi planejado; os compradores
visitaram os stands de vendas e tiveram acesso ao modelo decorado; a compra foi
efetuada, às vezes com certo sacrifício financeiro, pois os juros de
financiamento – como sabemos – são escorchantes neste país de economia nunca
estabilizada e tudo parece ter chegado a um final feliz. Não! A felicidade
completa parece que está em dar aquele toque pessoal e exclusivo na nova
habitação, mesmo que signifique derrubar algumas paredes, trocar os azulejos da
cozinha, o piso da sala, o desenho do gesso do corredor ou qualquer outra coisa
que diga para quem o fez algo como: É assim que eu gosto e quero! E lá se vão
toneladas de entulho de materiais recentemente instalados. Outras toneladas
adentrarão ao prédio ou à casa para substituir as primeiras.
Há algo errado com essa liberdade
das pessoas em quererem personalizar o próprio lar? Claro que não! A vida só é
plena quando nos sentimos bem com as coisas que temos; com as pessoas que nos
rodeiam; e, obviamente, também como o lugar que consideramos nosso teto. Mas,
apesar disso, penso que deve existir algo de muito peculiar aqui na nossa
terrinha. Minha experiência pessoal, incluindo a de ter vivido fora do país por
algum tempo, não me registrou pelos lugares que freqüentei e vivi tanta sanha para
reformar as habitações como vejo aqui no Brasil. Visitem qualquer país europeu
e verifique se há tantas caçambas nas ruas como temos por estas bandas... Fica
aqui o desafio!
Seria essa sanha de reformar o
imóvel algo relacionado com a ascensão social de parte da nossa sociedade que,
além de recursos financeiros agora disponíveis, também começa a ter gostos mais
refinados? Será que em outros países as habitações já não são mais definitivas
de tal modo que as reformas que se fazem são mais leves ou utilizam materiais
que geram menos entulhos ou, por último, mas não menos importante, será que as
demandas e preferências pessoais de sociedade mais evoluídas, como um todo, não
são mais equânimes, parecidas, e por isso exigem menos reformas?
Se fossemos um país comunista, o
que graças a Deus não somos, talvez as casas, sendo todas de propriedade social,
fossem - por razões obvias - padronizadas e os gostos individuais já teriam
sido, há muito, massacrados pelo estúpido principio da igualdade forçada.
Sermos capitalistas nos dá essa liberdade, mas também deveria nos sinalizar para
medidas que possam contribuir para a redução do desperdiço. Por que não
planejar melhor? Será que as construtoras não poderiam adotar tecnologias que
minimizassem os transtornos das eternas reformas? Será que individualmente não
poderíamos ser menos “inovadores” neste sentido de mudar por mudar, reformar
por reformar? Será que há certa dose de mimetismo a levar as pessoas a seguirem
uma determinada moda? Tudo é possível, tudo é justificável, nada é em vão...
E por usar a expressão “em vão”
fica aqui uma lição que podemos depreender dessa “filosofia de caçamba” tão peculiar
ao nosso cotidiano. Quem sabe não passemos a distribuir caçambas metafóricas
para remover o entulho da política brasileira; os azulejos envelhecidos da
corrupção; o gesso podre do nepotismo; o piso rachado do gosto pelo eterno
poder por parte dos mesmos mandatários de sempre? Esse, sim, seria o entulho
maior que não nos aborreceria com tantas caçambas quantas fossem necessárias
para removê-lo e depositá-lo no mais longínquo e profundo depósito de rejeitos
que se possa conceber.
Edson Pinto
Novembro’2013
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Olhar para uma prosaica caçamba dessas que infestam nossas vias públicas e disso encadear uma reflexão qualquer deve ser coisa de velho...
Foi o que fiz nesta semana ao escrever a crônica que já se encontra postada aqui no meu blog: “REFLEXÃO SOBRE O PAÍS DAS CAÇAMBAS”.
Abraço e bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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