Organizando os meus livros antigos, encontrei um que me chamou a atenção não apenas pelo seu sugestivo título, “Deficiências e Propensões do Ser Humano”, mas pela imediata lembrança que me fez suscitar. O livro é de autoria do pensador argentino Carlos Bernardo González Pecotche (1901 – 1963), fundador da doutrina ético-filosófica mundialmente conhecida como “Logosofia”. Importante e atemporal como são todas as coisas que formam o alicerce de trajetória humana, revisitá-lo teve para mim o sabor agridoce das lições que nunca perecem. Comprei o livro na Fundação Logosófica que no meu tempo de Belo Horizonte ficava lá na Rua Piauí, no Bairro dos Funcionários. Sei que a Fundação ainda está lá e em mais um par de outros endereços demonstrando que a doutrina de Pecotche - com razão – mantém-se de forma sólida.
Curiosamente encontrei dentro de
livro, já amarelado, o recibo de sua compra. Paguei exatos NCR$ 15,00 (quinze
cruzeiros novos) em 26/3/1972, portanto há 42 anos. Movido pela sede de
desvendar mistérios, busquei converter o valor original da compra, em Cruzeiros
Novos, agora para Reais que é o nosso padrão monetário em vigor. A cifra correspondente
apurada foi abaixo de zero. Isto demonstra o quanto a nossa moeda perdeu valor
em quatro décadas. A moeda virou pó, todos nós já sabemos disto, mas,
felizmente, o conteúdo do livro nunca perdeu um centavo de sua enorme
importância. Arrisco-me até a dizer que nos dias que correm, com tantos
desacertos individuais e políticos, deve até estar sobrevalorizado...
Andei frequentando a Fundação
Logosófica por cerca de um ano até que me transferi para São Paulo e nunca mais
tive oportunidade de retomar o estudo que ministravam. Com 20 e poucos anos de
idade é de se admitir que, na época, a cabeça também não se mostrava muito interessada
no entendimento de si mesma, principio básico e razão de ser da Logosofia. A
doutrina estruturada por Pecotche deu corpo ao que pensadores gregos como
Sócrates e Platão conjecturaram sobre a necessidade do autoconhecimento no
papel de pré-requisito a evolução humana consciente. A ideia é a de que é necessário
se autoconhecer para assim poder diagnosticar as deficiências e as propensões
negativas que delineiam o nosso comportamento. Só a partir daí, metódica e
insistentemente, iniciar e manter a prática de suas antideficiências.
Sempre achei muito difícil uma
pessoa mudar a sua essência. A Psicologia, as religiões, a Filosofia e
genericamente a Educação não cansam de buscar meios para que tal transformação
ocorra. Atrevo-me, contudo, a dizer que se trata de uma empreitada muitíssimo
árdua, embora não totalmente impossível. De qualquer modo, entendo que só há um
meio de se operar uma mudança no comportamento e na maneira de ser das pessoas
dominadas por características ruins e prejudiciais à suas respectivas vidas
sociais. Este meio é o do autoconhecimento, sem dúvida...
O mérito da doutrina logosófica é
- a principio - a identificação de 44 deficiências e de 22 propensões nefastas
que, se dominadas adequadamente, levariam as pessoas a desfrutarem de um
patamar qualitativo mais elevado em suas próprias existências. Enquanto as
deficiências dominam efetivamente o psicológico da pessoa, as propensões são
mais brandas, porém mesmo assim tendentes a interferir nas decisões e no modo
de ser e de reagir das pessoas por elas afetadas. Para cada uma das 44
deficiências o método logosófico propõe a prática de uma atitude oposta
benéfica e restauradora.
Alguns exemplos:
À deficiência da Aspereza contrapõe-se
a Afabilidade; à Credulidade, o Saber; ao Egoísmo, o
Desprendimento; à Impaciência, a Paciência Inteligente; à Indiferença,
o Interesse; à Intolerância, a Tolerância; ao Rancor, a Bondade;
à Soberba, a Humildade; à Vaidade, a Modéstia e à Veemência,
a Serenidade. Citei apenas 10 deficiências para não me alongar, mas são 44 ao
todo.
Das 22 propensões, para as quais
não há a explícita nomeação de antipropensões, poderia também citar 10, tais como:
a propensão a Adular, que significa bajular, lisonjear de forma servil;
à Dissimulação ou fingimento; à Discussão, por quaisquer e tolos
motivos; ao Desespero, também por quaisquer razões, mesmo as mais
simples; à Desatenção; ao Pessimismo; à Licenciosidade; à Frivolidade,
que é o interesse por coisas fúteis, comportamento leviano e volúvel; a Prometer,
mesmo sabendo da impossibilidade de cumprimento; ao Abandono e ao Exagero,
quando a pessoa dá asas a sua imaginação muito além do que recomendaria a sua
própria inteligência e à dos outros.
Se o amigo acha que dessas
deficiências e propensões nenhuma lhes cabe, tudo bem. Se sim, ou mesmo se pode
ser de alguma utilidade para proveito de seus orientados, então sugiro a
leitura do mencionado livro. O título e o autor são aqueles aos quais já fiz
menção ao longo do texto. A publicação é da Editora Logosófica. Dentro do
possível, voltarei ao tema para analisar pontualmente algumas dessas deficiências
e propensões. Não me esquivarei, por certo, nem mesmo daquelas a que me
considero também acometido.
Edson Pinto
Agosto’2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Você, meu amigo, pode dizer que se conhece plenamente?
Refleti sobre isto e escrevi nesta semana o texto CONHEÇA A SI MESMO.
Já se encontra postado aqui no meu blog.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
Edson,
Concordo plenamente com a necessidade,
(nem sempre fácil,) de reconhecer nossas deficiências.
O complicado é praticar e vivenciar a atitude oposta.
Texto muito interessante e verdadeiro.
Importante para chamar nossa atenção. Aguardo o próximo ...
Abraço
Cristina Taurizano
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