Entrei na loja Tommy Hilfiger no Premium Outlet da International Drive e escolhi algumas camisas que tinham o preço unitário ao redor de 22 dólares, correspondente a 55 reais quando tomada a cotação daquela sexta-feira, inicio deste novembro, na ensolarada Orlando, Florida. Idênticas camisas; mesma marca comercial; mesma origem e nas lojas de mesmo nome instaladas em alguns de nossos luxuosos Shopping Centers, aqui em São Paulo, podem ser compradas por cerca de 200 reais. Portanto, quatro vezes mais do que o preço no próspero e rico país do norte. Está surpreso? Aguarde, pois volto mais adiante à narrativa da minha experiência na mencionada loja.
Por que tanta diferença de preço?
Seria a carga tributária em nível
elevadíssimo aqui do Brasil? (No Brasil cerca de 40% do PIB e nos EUA, 25%).
Seria o custo de locação de espaço nos Shoppings Centers controlados por grupos
poderosos e gananciosos? O custo da burocracia que torna a vida do empresário
algo assemelhado ao inferno de Dante? Os custos trabalhistas, a infraestrutura
precária e cara, os altos preços da energia elétrica e dos combustíveis? A
ineficiência e roubalheira de nossas empresas públicas, como a Petrobrás,
repassadas aos preços de tudo? O custo do dinheiro para capital de giro já que
temos as taxas de juros mais elevadas do mundo? O custo do risco do negócio, as
“caixinhas” escusas, mas necessárias, que são disponibilizadas para as
“autoridades” que fiscalizam com rigor “extremado” a vida das empresas? Arrisco
a dizer em resposta à minha própria pergunta que todas essas causas contribuem
de forma associadas, entrelaçadas, cruzadas e cumulativas. Tudo isso junto tem contribuído
para que o Brasil já tenha, de uns anos a esta data, perdido a competitividade no
mundo capitalista. Estamos ficando do lado de fora do baile da economia
mundial, infelizmente. Corremos o risco de voltarmos a ser o eterno fornecedor
de matérias-primas baratas, sem indústria e de perfil colonial...
Voltando à loja:
Com as camisas na mão dirijo-me
ao Caixa. Espanto! Tive que entrar numa fila que dava volteios ao estilo das
atrações da Disney. Vai-se caminhando por um corredor limitado por faixas ligadas
a cavaletes; faz-se a curva e volta-se praticamente ao mesmo lugar até que, ufa,
chega-se ao destino final, o Caixa. Nada a queixar disso, mesmo porque essa
forma de organização resolve o desrespeitoso “salve-se quem puder” da nossa
cultura tupiniquim onde os mais valentões, os mal-educados e os mais atrevidos
são atendidos na frente. Foi, contudo, ali e durante aqueles vários minutos de
fila, que fiz algumas boas constatações seguidas obviamente de reflexões
pertinentes:
A primeira constatação foi a de
que das 90 pessoas (contei-as uma a uma) que formavam a longa fila comigo, 85 –
sem medo de errar – eram de brasileiros, todos enlouquecidos com montanhas de
peças nas mãos. Disso conclui que é generalizada a noção e mesmo a certeza de que
os preços no Brasil encontram-se tão altos que vale à pena vencer os sete ou
mais mil quilômetros que nos separam daquele país mesmo considerando todos os
inconvenientes de uma viagem cansativa para fazer compras por preços justos. Não
havia como imaginar que as compras devessem unicamente ao fato de que as mercadorias
fossem exclusivas e sem correspondentes no Brasil. A questão era e continua
sendo basicamente os preços...
A segunda constatação foi a de que
os sotaques percebidos representavam o Brasil de norte a sul. Ouvi “tchê”, “uai”,
“mermão”, “mainha” e vários outros de nossos pitorescos regionalismos. É fácil
saber, pois o brasileiro tanto compra quanto fala. E fala bem alto... Fiquei, por
um lado, feliz ao perceber que há uma classe ascendente ansiosa por consumo e
disposta a vivenciar uma experiência internacional, mas, por outro lado, fiquei
triste por constatar que neste País que se apregoa a 7ª economia do mundo os
consumidores precisam ir tão longe para comprar a preços justos itens tão
prosaicos como cuecas, chinelos e bonés.
Até mesmo o atrativo da diversão
propiciado pelos magníficos parques de diversões de Orlando poderiam ter
similares por aqui, pois somo 200 milhões de consumidores e isso é um mercado -
convenhamos - nada desprezível. A propósito, perguntei a funcionários da Disney
qual o estrangeiro mais presente em suas atrações. Adivinhem! Nós os
brasileiros. Se não amados, pois no mundo do dinheiro o que se respeita é o
recheio da carteira e não a meiguice dos sorrisos ou a extroversão do povo,
somos pelo menos bem respeitados pelo nosso poder de compra. O carregador de
malas no Aeroporto de Orlando, disse-nos tudo: “Sempre me espanto com a quantidade
de malas que os brasileiros levam para casa”. Respondi, maliciosamente, que
estamos empenhados em ajudar a reerguer a economia americana, uma vez que a
nossa já se encontra uma “maravilha”...
A terceira constatação foi a de
que, vários brasileiros com os quais andei conversando, eram funcionários
públicos. Lembrei-me da época que meu pai, oficial militar reformado, mesmo
tendo bonificações por ter lutado na Segunda Guerra Mundial tinha que administrar
com muito juízo o soldo sagrado, sob pena de privações. Já de 12 anos a esta
data, o funcionalismo público em geral goza de remuneração que supera em muito
às encontradas na iniciativa privada. Isto explica boa parte do porquê pagamos
tantos impostos. Não que funções públicas bem qualificadas não mereçam boa e justa
remuneração, mas o que não pode deixar de ser visto é o fato de que gigantismo
do Estado, com a sua onipresença muitas vezes desnecessária na vida do cidadão,
requer, e cria ocasião, para a montagem de uma máquina muito grande, o nosso próprio
e cruel Leviatã. Assim, a máquina pública ficou caríssima. Já pagamos cerca de
40% do PIB em impostos e o custo de pessoal da máquina pública já passa dos 70%
desse montante. O que sobra, mal dá para pagar os juros da divida pública e
fazer alguns poucos investimentos.
Quando o avião deixou o belíssimo,
confortável e gigantesco aeroporto de Orlando, várias vezes maior do que os
nossos principais (Orlando tem uma população de apenas 250 mil habitantes),
olhei para o Sul e até onde minha vista alcançava vi nuvens negras que partiam
da Venezuela e se estendiam tenebrosamente ao Sul do continente. Seriam finalmente
as chuvas que andam escassas por aqui ou seriam outros sinais que precisam ser interpretados
de forma mais incisiva, embora hoje tão evidentes?
Edson Pinto
Novembro’ 2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Dos tempos de criança tenho ainda guardada a boa lição que me dava minha mãe sempre que, em férias, viajamos para o interior e eu ficava apreciando a paisagem que se revelava pela janela do trem e depois me regozijava com dia a dia na fazenda:
“Anote tudo o que você achar de interessante e depois, ao voltar, faça uma redação. Isto ajuda a fixar a experiência e leva ao exercício da reflexão”.
Acho que gostei muito da lição, pois mantenho, até hoje, o hábito de registrar observações sobre minhas viagens e sobre o que percebo regularmente ao meu redor. Pode ser daí a origem do meu apreço ao gênero da crônica.
Como acabo de voltar de umas curtas semanas de férias, a propósito, iniciadas bem no dia que procedeu ao pleito presidencial, aproveito para passar as minhas primeiras reflexões sobre o que vi e sobre o que em geral, nós brasileiros, ou porque nos encontramos impedidos, ou porque não queremos, deixamos de ver...
O texto O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER já se encontra aqui publicado.
Abraço a todos!
Edson Pinto
De: Neun Song
Para: Edson Pinto
Caro Edson :
Perfeito o seu texto ! Endosso em genero, número e grau.
Cheguei de Miami ontem. Mesmas constatações.
Abraços
Neun
Postar um comentário