13 de mai. de 2015

294) COLORINDO A VIDA


É da natureza feminina a prodigalidade verbal. Nós homens, exceções à parte, somos mais comedidos. Escutamos mais, falamos menos. As mulheres foram dotadas de qualidades únicas exatamente para propiciar a criação dos filhos da maneira mais competente. Suspeito que a fala abundante tem muito a ver com isso... Os homens não manejam com a maestria devida os instrumentos da educação filial. As mulheres, sim, e devemos dar graças a Deus, pois isso nos libera tempo para curtir o futebol, mexer no carro inúmeras vezes e - por que não - também ficar escrevendo patacoadas?

A base cientifica da constatação de que a mulher fala mais do que o homem encontra-se espalhada por estudos de várias universidades americanas e europeias. Como este meu texto não é um tratado formal, sequer de um ensaio literário, o que requereria de mim mais embasamento eu me sirvo apenas do registro que a psiquiatra americana, Louann Brizendine, fez em seu livro “O Cérebro Feminino”. Nele, ela menciona - e não se assuste, por favor - que estudos comprovam que as mulheres falam em média 20.000 palavras por dia, enquanto os homens falam míseras 7.000.

Verdade cientifica ou não, o fato da vida é que poucos discordariam da evidência de que a mulher fala mais do que o homem. Pronto! Quem tem mulher e filhas em casa sabe muito bem do que estou falando. Eu só tenho mulher e filhos homens, mas tenho uma neta e o meu universo familiar mais amplo incorpora donzelas aos montes. Como homem, às vezes, me surpreendo questionando se o volume de ideias e pensamentos está diretamente relacionado ao de falas produzidas. Fosse isso verdade, seria forçado a admitir que nossas esposas são verdadeiras "Einstein’s" de saia, e nós, pelo pouco falarmos, constituiríamos um exército de néscios insensatos. Minha suspeita relevante sobre isto é que as mulheres externam em falas tudo, ou quase tudo, o que pensam, enquanto os homens selecionam, ponderam, postergam e até descartam muito do que lhes vem à mente. Seriam, então, as mulheres mais sinceras por não censurar a liberação do que pensam? Espero ainda uma resposta da ciência...

Agora vem algo que, em função dessa superioridade verbal, as mulheres falam de nós de forma cada vez mais frequente e aberta: “Eles fingem que nos escutam, mas, na verdade, o que falamos entra-lhes por um ouvido e sai pelo outro. Homem nunca se lembra do que a mulher falou”. Ainda no campo científico, isso me traz à mente um estudo que li há alguns anos sobre a impossibilidade do cérebro captar mais de uma informação em simultâneo. A nossa memória de curto prazo - explicava o estudo - funciona com um tubo na forma de “Y”, no qual informações vindas de mais de uma fonte se afunilam na junção com a base do “Y” e somente uma delas é admitida para processamento. Assim, se a mulher fala ao mesmo tempo em que o repórter da TV fala sobre o gol do seu time somente uma das informações será acatada. No homem, imagem qual? Foi Donald Broadbent, psicólogo inglês e professor em Oxford, que disse: “Quando ouvimos duas vozes, selecionamos apenas uma, sem levar em conta se o que está sendo dito é correto, e ignoramos a outra voz”. Isto é cientifico!

Mas, milagrosamente, algo aconteceu no meu hábitat. A neta chegou e, ato contínuo, eu me preparei para começar a ajustar o meu “Y” interno às 40.000 palavras que, cientificamente, me dizem seriam produzidas pelas duas princesas de minha vida. Nunca conferi este número, nem pretendo fazê-lo, mas o acato, a princípio. Jornal da TV muito improvável, leitura concentrada, suspensa por ora. Adaptativo com deve ser o homem moderno e ajuizado já me contentava com o William Waack e a Christiane Pelajo no jornal da Globo que – felizmente neste caso – vem-nos cada vez mais próximo do horário em que o galo canta. A essa altura, certamente elas já terão caído nos braços de Morfeu.

Havia, contudo um misterioso silêncio. Ouvia-se o roçar do vento agitando a palmeira do quintal. Os bem-te-vis que nunca deixaram de cantarolar agora se faziam mais ouvidos, mais graciosos. Ecoou claro o som de um cão latindo à distância; de uma porta que se bateu na casa do vizinho. Ao longe, o ruído de uma máquina de cortar grama quebrava docemente o vazio de ruído. Comecei, confesso, a sentir a falta daquele burburinho até então por mim criticado. Ele já fazia parte da minha vida. Não estava preparado para uma mudança tão radical de hábito. Sai do meu esconderijo, o escritório de casa, e fui conferir a razão pelo qual Louann Brizendine, a psicóloga americana, falhava naquele momento. Estariam abalados os pilares mestres da Psicologia Cognitiva ou o que mais poderia ser?

A passos lentos, eu vou até a sala. O que vejo me surpreende, me emociona e ao mesmo tempo me faz esquecer tudo o que pensava saber sobre a diferença comportamental entre a mulher e o homem. Era o mundo se adaptando, se renovando, se reencontrando com a sua trajetória de paz. Elas tinham em mãos um livro de figuras esboçadas no qual, com a habilidade que também é privilégio das mulheres, munidas de dezenas de lápis de cores, coloriam figuras como se o mundo a seu redor tivesse deixado de existir.

Não falei nada para não lhes tirar a concentração, mas tomado de um fervor incomum, postei as mãos e as elevei aos céus agradecendo a Deus pela dádiva. Falei com Deus, e por não ser egoísta, não apenas em meu exclusivo nome, mas de todos nós, os homens de 7.000 palavras.

Creiam!

Edson Pinto

Maio’ 2015

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Vez por outra novidades se espalham como epidemias descontroladas.

Seriam modismos ou hábitos que podem perdurar?

Na Crônica desta semana quero falar sobre um deles que já se percebe por muita gente.

Leiam este meu novo e vejam se concordam com o meu ponto de vista.

Abraço a todos!

Pinto