É da natureza feminina a prodigalidade
verbal. Nós homens, exceções à parte, somos mais comedidos. Escutamos mais,
falamos menos. As mulheres foram dotadas de qualidades únicas exatamente para
propiciar a criação dos filhos da maneira mais competente. Suspeito que a fala
abundante tem muito a ver com isso... Os homens não manejam com a maestria devida
os instrumentos da educação filial. As mulheres, sim, e devemos dar graças a
Deus, pois isso nos libera tempo para curtir o futebol, mexer no carro inúmeras
vezes e - por que não - também ficar escrevendo
patacoadas?
A base cientifica da constatação
de que a mulher fala mais do que o homem encontra-se espalhada por estudos de
várias universidades americanas e europeias. Como este meu texto não é um
tratado formal, sequer de um ensaio literário, o que requereria de mim mais
embasamento eu me sirvo apenas do registro que a psiquiatra americana, Louann
Brizendine, fez em seu livro “O Cérebro Feminino”. Nele, ela menciona - e não
se assuste, por favor - que estudos comprovam que as mulheres falam em média
20.000 palavras por dia, enquanto os homens falam míseras 7.000.
Verdade cientifica ou não, o fato
da vida é que poucos discordariam da evidência de que a mulher fala mais do que
o homem. Pronto! Quem tem mulher e filhas em casa sabe muito bem do que estou
falando. Eu só tenho mulher e filhos homens, mas tenho uma neta e o meu universo
familiar mais amplo incorpora donzelas aos montes. Como homem, às vezes, me surpreendo
questionando se o volume de ideias e pensamentos está diretamente relacionado ao
de falas produzidas. Fosse isso verdade, seria forçado a admitir que nossas esposas são verdadeiras "Einstein’s" de saia, e nós,
pelo pouco falarmos, constituiríamos um exército de néscios insensatos. Minha
suspeita relevante sobre isto é que as mulheres externam em falas tudo, ou
quase tudo, o que pensam, enquanto os homens selecionam, ponderam, postergam e
até descartam muito do que lhes vem à mente. Seriam, então, as mulheres mais
sinceras por não censurar a liberação do que pensam? Espero ainda uma resposta
da ciência...
Agora vem algo que, em função
dessa superioridade verbal, as mulheres falam de nós de forma cada vez mais frequente
e aberta: “Eles fingem que nos escutam, mas, na verdade, o que falamos
entra-lhes por um ouvido e sai pelo outro. Homem nunca se lembra do que a
mulher falou”. Ainda no campo científico, isso me traz à mente um estudo que li
há alguns anos sobre a impossibilidade do cérebro captar mais de uma informação
em simultâneo. A nossa memória de curto prazo - explicava o estudo - funciona
com um tubo na forma de “Y”, no qual informações vindas de mais de uma fonte se
afunilam na junção com a base do “Y” e somente uma delas é admitida para
processamento. Assim, se a mulher fala ao mesmo tempo em que o repórter da TV
fala sobre o gol do seu time somente uma das informações será acatada. No homem,
imagem qual? Foi Donald Broadbent, psicólogo inglês e professor em Oxford, que
disse: “Quando ouvimos duas vozes, selecionamos apenas uma, sem levar em conta
se o que está sendo dito é correto, e ignoramos a outra voz”. Isto é
cientifico!
Mas, milagrosamente, algo
aconteceu no meu hábitat. A neta chegou e, ato contínuo, eu me preparei para
começar a ajustar o meu “Y” interno às 40.000 palavras que, cientificamente, me
dizem seriam produzidas pelas duas princesas de minha vida. Nunca conferi este
número, nem pretendo fazê-lo, mas o acato, a princípio. Jornal da TV muito
improvável, leitura concentrada, suspensa por ora. Adaptativo com deve ser o
homem moderno e ajuizado já me contentava com o William Waack e a Christiane
Pelajo no jornal da Globo que – felizmente neste caso – vem-nos cada vez mais
próximo do horário em que o galo canta. A essa altura, certamente elas já terão
caído nos braços de Morfeu.
Havia, contudo um misterioso
silêncio. Ouvia-se o roçar do vento agitando a palmeira do quintal. Os bem-te-vis
que nunca deixaram de cantarolar agora se faziam mais ouvidos, mais graciosos. Ecoou
claro o som de um cão latindo à distância; de uma porta que se bateu na casa do
vizinho. Ao longe, o ruído de uma máquina de cortar grama quebrava docemente o
vazio de ruído. Comecei, confesso, a sentir a falta daquele burburinho até
então por mim criticado. Ele já fazia parte da minha vida. Não estava preparado
para uma mudança tão radical de hábito. Sai do meu esconderijo, o escritório de
casa, e fui conferir a razão pelo qual Louann Brizendine, a psicóloga
americana, falhava naquele momento. Estariam abalados os pilares mestres da
Psicologia Cognitiva ou o que mais poderia ser?
A passos lentos, eu vou até a
sala. O que vejo me surpreende, me emociona e ao mesmo tempo me faz esquecer
tudo o que pensava saber sobre a diferença comportamental entre a mulher e o homem.
Era o mundo se adaptando, se renovando, se reencontrando com a sua trajetória
de paz. Elas tinham em mãos um livro de figuras esboçadas no qual, com a
habilidade que também é privilégio das mulheres, munidas de dezenas de lápis de
cores, coloriam figuras como se o mundo a seu redor tivesse deixado de existir.
Não falei nada para não lhes
tirar a concentração, mas tomado de um fervor incomum, postei as mãos e as
elevei aos céus agradecendo a Deus pela dádiva. Falei com Deus, e por não ser
egoísta, não apenas em meu exclusivo nome, mas de todos nós, os homens de 7.000
palavras.
Creiam!
Edson Pinto
Maio’ 2015
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Vez por outra novidades se espalham como epidemias descontroladas.
Seriam modismos ou hábitos que podem perdurar?
Na Crônica desta semana quero falar sobre um deles que já se percebe por muita gente.
Leiam este meu novo e vejam se concordam com o meu ponto de vista.
Abraço a todos!
Pinto
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