O verdadeiro espírito democrático implica em respeito profundo a valores fundamentais, como a cooperação entre as pessoas, a tolerância para com as diferenças e o compromisso para com os nossos objetivos comuns.
Se há algo que a nossa sociedade aprecia – mesmo que as pessoas não a expressem de forma aberta e consciente – é a liberdade que vimos gradativamente adquirindo para externar livre e responsavelmente nossas idéias, sejam elas boas ou não. Felizmente - com raras e pontuais recaídas - agora nos encontramos livres do julgo da mão maldita da censura.
Quem viveu criticamente sob um regime de poucas liberdades, sabe o quanto é importante termos uma imprensa livre, um governo transparente e um povo politizado e com liberdade para a plena de expressão de suas idéias. Desde que a mente coletiva não sofra um “apagão” histórico mental, tenho certeza de que não haverá razões para que alguém, de bom senso, venha a alimentar o desejo de uma volta ao passado duro dos regimes ditatoriais e de poucas liberdades como alguns que caracterizaram o Brasil do século XX.
“A intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático” Assim nos legou o grande Mahatma Gandhi.
Com este pano de fundo, me permito - livre e democraticamente - analisar e fazer minhas criticas à retrógrada visão de mundo com que o quase centenário Partido Comunista Brasileiro, PCB, na quinta-feira, 20/03/08, interrompendo a programação normal da TV, veio nos apresentar.
Democracia é isto mesmo: a mesma liberdade que têm para expor seus pontos de vista, aplica-se, também, a quem quer criticá-los, como o faço aqui e agora:
Não bastaram o fim da União Soviética, a queda do muro de Berlim, nem os patéticos e retumbantes fracassos das economias de Cuba e da Coréia do Norte para demonstrar aos militantes do PCB a inviabilidade do modelo socialista para o desenvolvimento dos povos e de suas Economias.
Será que alguém minimamente ligado às coisas do mundo ainda engoliria o discurso do Secretário Geral do PCB, Sr. Ivan Pinheiro, quando diz:
“A América Latina vive um momento histórico. Nossos povos já não aceitam as políticas neoliberais. O PCB dá sua solidariedade militante ao processo revolucionário e às lutas antiimperialistas na Venezuela, na Bolívia, no Equador e em outros países. Apoiamos os esforços do presidente Chaves no sentido de considerar as FARC como força beligerante e evitar uma guerra entre paises irmãos”.
Quanto atraso, quanto falta de sintonia com este mundo que já demonstrou, até mesmo na atual capitalista e próspera Rússia (remanescente da União Soviética), de que o crescimento das economias e a melhor distribuição de renda passam necessariamente pelo modelo capitalista?
Parecem, ou fingem, desconhecer que as economias que socializaram os seus meios de produção, e aboliram, entre outras, a propriedade privada e a livre iniciativa, como é o caso das nações comunistas do século XX, se estagnaram e não deram respostas adequadas às necessidades dos menos favorecidos.
E quanto ao seu ponto de vista concernente à ultrapassada idéia fixa de um imperialismo pernicioso na figura da nação mais avançada do mundo, os Estados Unidos?
“Repudiamos o governo fascista da Colômbia, lacaio dos Estados Unidos que querem invadir a Venezuela na tentativa de frear o processo de mudança na América Latina e forçar uma guerra regional para se apropriar do petróleo da Amazônia”.
Os comunistas mantém esse ranço histórico de que os poderosos querem usurpar os “pobres coitados” e que somente o embate entre trabalho e capital, explorados e exploradores, socialismo e capitalismo poderá resolver esse conflito eterno. Leram Marx, mas não leram Adam Smith...
E ainda acreditam, e sonham e deliram que a revolução cubana segue em frente com a consolidação do socialismo: “Prestamos nossa homenagem ao comandante Fidel Castro e à revolução cubana que segue firme na construção do socialismo”. O Fidel já está fora de cena e a própria Cuba, nesta semana, começa a fazer – ainda que timidamente – sua abertura para uma economia com matizes capitalista.
A utopia do PCB, se verdadeira, chega a parecer uma miragem de deserto: “O PCB se empenha para que a luta dos povos contra o imperialismo leve à superação do capitalismo, na conquista de uma sociedade sem explorados, nem exploradores, com uma sociedade socialista”.
O que me deixa feliz é que hoje podemos livremente receber mensagens como as que reproduzi neste meu pequeno ensaio critico e contestá-las como estou fazendo. Antes, sem liberdade de expressão, não haveria como entender o quão equivocadas e ultrapassadas tais idéias se nos apresentam.
Sem ter a pretensão de um infame trocadilho, ouso em dizer que, mais valia aos comunistas revisarem suas posições históricas para agregarem idéias social-democratas ao capitalismo do que insistirem em teses derrotadas.
A democracia não é perfeita. O capitalismo, também, não. Mas, como na há alternativas melhores, o que nos resta a fazer é contribuir para que sejam permanentemente aprimorados.
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