Francisco de Goya, o grande pintor espanhol (1746-1828), tinha genialidade mais do que suficiente para lhe assegurar, como de fato aconteceu, um lugar de destaque no panteão dos grandes artistas. Encontra-se no museu do Prado, em Madri, uma de suas gravuras mais intrigantes, chamada de “Tu que no puedes”.
Repare na total inversão da lógica! Dois homens carregam, às costas, dois burros. O certo seria o contrário, não? Aqui, contudo, Goya quis passar, por metáfora, uma crítica à sociedade da sua época. Os dois sofridos homens representavam a classe dos camponeses e trabalhadores e os burros, as classes ociosas, ou seja, a nobreza e o clero. Repare ainda que os homens se dão a esse cruel trabalho mantendo os olhos fechados, certamente por ignorância e falta de visão política.
Já estamos no século XXI. Pelo menos, para nós aqui do outro lado do Atlântico, não temos a nobreza nem o clero para serem sustentadas pelo povo, mas, infelizmente, essas duas classes privilegiadas na sociedade de Goya foram substituídas por algo pior: a classe dos políticos. Esta, sim, inversora da lógica natural das coisas, pois o homem público deveria servir e não o contrário.
Os trabalhadores somos todos os que lutamos no dia-a-dia pela sobrevivência e de quem, cerca de 40% de tudo o que se produz, é extraído na forma de impostos. A classe dos políticos que ainda acomoda seus parentes, namorados de netas, companheiros indicados pelos partidos do poder e outros se apodera com voracidade dos impostos recolhidos fazendo o uso que melhor lhe aprouver.
Assim, continuaremos a marchar com nossos pesados burros às costas, a menos que decidamos abrir os olhos e passar a enxergar o que deveria ser o certo. Se o prêmio Nobel da Paz, Barack Obama, lançou o refrão “Yes, we can”, por que não podemos juntar à crítica de Goya “tu que no puedes” o otimismo do presidente americano e assim dizermos, também: “tu e nós, juntos, podemos”?
Edson Pinto
Outubro’2009
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