Pertence ao folclore do mundo empresarial e até mesmo do político a alegoria das três cartas. Pode conter exageros quando tomada de forma genérica, porém, quando contextualizada a casos específicos, tem o poder de jogar muita luz sobre como as coisas funcionam na vida real. Resumo da metáfora:
Um líder ao substituir outro que deixava o mesmo cargo após uma fracassada gestão, recebe dele três cartas em três envelopes distintos bem como a prudente recomendação de só abri-los, e sempre na ordem crescente, quando e se os problemas da sua organização voltassem a ocorrer. Dito e feito! Face à primeira crise e constatado a sua incapacidade de saná-la, o novo líder se vê compelido a abrir o envelope de número 1. A carta ali encontrada continha a seguinte instrução: “Atribua e divulgue enfaticamente que a culpa dos problemas deve-se à má gestão do seu antecessor”.
Malgrado a provisória atenuação do embaraço geral causado pelas dificuldades da organização voltar a ser bem sucedida, nova crise, aparentemente também sem solução, leva o novo líder a recorrer à abertura do segundo envelope. Na carta, novas instruções: “Demita e substitua todos os antigos colaboradores da sua organização, até mesmo os competentes e fieis”. No início das novas providências tudo parecia ir bem. Centros produtivos fechados, downsizing impiedoso, substituição da produção local por importados baratos e outras medidas heterodoxas eram espalhafatosamente divulgadas o que conferia aos da nova turma o status de gênios. Tinham encontrado a fórmula mágica para se fazer da moribunda organização um novo caso de sucesso.
E não é que veio a terceira e mais resistente de todas as crises. O novo “líder gênio” já acostumado com as orientações fantásticas das cartas não demora muito a abrir o terceiro e último envelope. Nele, certamente, esperava encontrar a solução definitiva para todos os males da sua gestão. Lá estava a derradeira instrução: “Redija três novas cartas como as que você recebeu, coloque-as em envelopes numerados de 1 a 3 e entregue o seu cargo”.
Agora pergunto:
Será que Dona Maria das Graças Foster que herdou do petista José Sérgio Gabrielli uma Petrobrás capenga e que vinha ocultando marotamente as suas deficiências precisará abrir o terceiro envelope? E as fantásticas descobertas de petróleo anunciadas com o ufanismo redentor de Lula? A multibilionária capitalização da empresa ocorrida há menos dois anos? A invejável situação de monopolista da empresa? A dádiva do pré-sal?
Ninguém tem dúvidas de que a Sra. Foster já teve de amenizar, mas sem fugir completamente das suas responsabilidades, a implantação rigorosa da instrução da carta do primeiro envelope. Atualmente, parece aplicar os seus conhecimentos de sambista da União da Ilha para evoluir com as instruções da segunda carta. A própria presidente Dilma também tem dado indícios de que - mesmo fazendo vistas grossas, por razões óbvias, da instrução contida na carta do primeiro envelope - tem dado mostras de que ao menos as orientações do segundo estão sendo seguidas. Passou a vassoura no ministério lulista e anda marcando de perto outros malfeitores.
Mas não é só no Estado que envelopes metafóricos vêm sendo abertos, até mesmo de forma obsessiva, pelos novos líderes. Basta ver na economia privada quantas empresas andam freneticamente trocando de gente, de produtos, de objetivos e de formato.
No frigir dos ovos, a lição que fica é a de que nada é sólido e permanente, exceto - ao que tudo indica - a infinda produção das três famosas cartas e de seus respectivos envelopes numerados de 1 a 3...
Edson Pinto
Agosto, 2012
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Vou esperar um pouco mais para dar meus pitacos no julgamento do “Mensalão”.
Por enquanto, encontro-me absorto com os protocolares devaneios das defesas. Viva, por ora, o instituto do contraditório e viva ainda Papai-Noel!...
Outros fatos igualmente palpitantes me fizeram lembrar da metáfora dos três envelopes. Por isso, escrevi nesta semana a crônica O SEGREDO DOS TRÊS ENVELOPES. Espero que gostem!
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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