Uma instituição tipicamente brasileira, salvo maior conhecimento sobre outras culturas eventualmente tão ou mais liberais do que a nossa, é a questionável algazarra que às crianças é permitido fazer dentro de restaurantes.
Nada contra a espontaneidade e alegria de nossos pimpolhos, mesmo quando em ambientes públicos, até porque, agregado a sua inocência e vitalidade lúdica, encontra-se o primordial exercício da socialização tão importante para uma vida adulta mais afável.
Em contraponto, o que há de se perguntar é até onde se encontra bem calibrado o desconfiômetro desses pais modernos que presentemente sucedem a nossa geração para, corretamente, indicar em seus painéis de controle que alguma coisa não anda bem?
Ato 1:
Noite de sexta-feira fechando mais uma semana agitada como é normal nas grandes cidades: Poucos discordariam de que um jantar a dois, no restaurante predileto e regado a um bom vinho repõe-nos as forças e nos redime das agruras da vida. Desde há muito, poucos atos humanos são tão prazerosos como uma boa companhia, um bom cardápio e um vinho redentor. São momentos relaxantes, impagáveis, que merecem ser sorvidos sob a luz mortiça de uma vela e com o silêncio na justa medida.
Ato 2:
Mal o gentil maître tivesse feito a abordagem de praxe e tomado o pedido, o lourinho endiabrado passa tangenciando a nossa mesa mais rápido do que o Usain Bolt nos seus melhores momentos olímpicos. Em seguida e em curtíssimo intervalo de tempo, também o moreninho, a encantadora garotinha de vestidinho xadrez, o gordinho mandão e a pequenina sardenta, esta, pelo que pude perceber, como a vitima frágil da patota ensandecida. Não se pode, de crianças, esperar silêncio, nem comportamento de adulto, apenas a moderação apropriada ao ambiente que os pais podem ensinar e devem exigir.
Ato 3:
O jantar agora perturbado pela algazarra permitida pelos pais ali reunidos em uma mesa que comportava vários casais, tem que ser abortado quando a paciência de qualquer Ser Humano medianamente equilibrado se esgota. Nem olhares aflitivos dirigidos aos omissos pais foram suficientes para obter algo além de um cândido “Fica quieto, filhinho!”, obviamente inócuo. Quando o lourinho, aos gritos, decide passar por debaixo da nossa mesa e quase derrubar o vinho ficou claro que o jantar, tal qual previamente imaginado, tinha definitivamente fracassado.
Ato Final:
Frustrada a noite, só restou voltar ao lar na esperança de que amenidades outras substituíssem o desconforto daquele jantar ruidoso. Na TV, a ensandecida Nina em sua vingança interminável não seria o refresco merecido pela mente ainda cansada. Ainda, o horário eleitoral com suas figuras patéticas e o julgamento do Mensalão, principalmente pela catadupa de defesas desavergonhadas, faz tanto ou mais barulho do que aqueles capetinhas do restaurante.
No limite, e para me penitenciar da rabugice com os ruidosos pimpolhos, só me restou pegar um livro de poesias. E o que encontro?
“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!” (Casimiro de Abreu)
Edson Pinto
Agosto’ 2012
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Nós os brasileiros temos cada vez mais desfrutado do prazer de frequentar um restaurante, principalmente como forma de relax após um dia ou uma semana de atividade intensa.
Vejam nesta crônica, SANTINHOS EM RESTAURANTE, se as minhas considerações são verdadeiras ou se tudo não passa de uma rabugice típica de quem já sente saudade dos tempos de criança.
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Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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