14 de out. de 2012

218) O VOTO DO PERNILONGO


Lá vem o segundo turno para vários municípios onde os prefeitos não foram eleitos por maioria absoluta neste último sete de outubro. Como é sabido, isso se aplica quando a cidade tem mais de 200 mil eleitores e o vencedor do primeiro turno não consegue obter 50% + 1 dos votos válidos. Por essa razão, muitas cidades, especialmente capitais de estados por serem as maiores, voltarão obrigatoriamente às urnas. Independente, contudo, da situação de cada município, há, no meu sentir, lições que podemos extrair do pleito eleitoral:

Aqui no meu discreto enclave da área metropolitana da capital paulista, Santana de Parnaíba, que nem na regra de segundo turno se enquadra, fomos surpreendidos com o fato de o candidato até então menos cotado, em flagrante contrariedade às pesquisas, acabar empunhando o cetro de alcaide-mor da municipalidade. O prefeito atual, figura simpática, homem sério, bom gestor, ainda jovem e escolado nas artimanhas da política tinha atributos mais do que sólidos para somar aos seus quatro anos de vereador e mais doze de prefeito do município, mais quatro outros. A enquete da publicação Folha Paulistana de 5/10/12, dois dias antes da eleição, mostrava sua vitória esmagadora com 72% dos votos contra 25% do segundo colocado.

Mas aí apareceu um pernilongo na história. Na verdade, milhares, milhões... Exatamente, aqueles que ficam na espreita até a tardinha começar a se fazer e então pulam para dentro de nossas casas para fazer do nosso sangue o vinho da sua festa. O prefeito disse que não. Até relevou publicamente uma das metas do opositor quando este estampou como promessa de campanha o “combate ao pernilongo”.

Coitado do pernilongo! Seria justo atribuir a esse minúsculo díptero que já nos é tão familiar a proeza de ser protagonista na mais nobre das faculdades do sistema democrático que é o voto? Não! Assim diziam muitos, inclusive o prefeito. Há, sim, temas maiúsculos a serem sopesados, como o do trânsito cada vez mais caótico, o elevado valor do IPTU (dizem o mais alto do Brasil), o da segurança pública, súplice permanente de melhorias, a verticalização exagerada das construções, mas, o pernilongo? Isso não!...

Fechadas, isto é, desconectadas as urnas eletrônicas, foi necessário pouco mais do que uma hora para termos a revelação de que o 72% virara 47% e, o antes 25%, virara 52%. Uns juram que as pesquisas e enquetes amplamente divulgadas eram enganosas, vale dizer, feitas apenas para induzir o voto daqueles que mesmo indecisos não gostam do sabor da derrota. Outros dizem que é o conjunto dos fatos que se impôs no momento crucial em que os cidadãos assentam suas mentes para determinar o destino do seu voto, na véspera ou mesmo no dia do pleito. Outros ainda atribuem à sede de mudança que ora se apodera de mentes e corações do eleitorado cada vez mais crítico. Haveria um clamor latente de mudança ávido para explodir como as flores primaverais do pós-equinócio do hemisfério sul, mesmo que seja mudar apenas por mudar?

O Supremo acaba de carimbar de impróprias as estripulias da cúpula do PT e de gente de diversos outros partidos que se lambuzaram nas tetas generosas da mãe pátria, tudo com base num estranho projeto de perpetuação de poder. O auspicioso desenrolar do julgamento do mensalão estaria re-injetando ânimo na cidadania já desesperançada quanto ao rumo da política, de tal modo que a encorajou a fazer mudanças? Mudança de nomes, mudança de partidos políticos, mudança de projetos de governo, de práticas comunitárias ou de qualquer outra espécie uma vez que ficar sempre no mesmo é se conformar com o imobilismo...

Acho que tudo isso é possível, inclusive e principalmente o despertar das consciências de que a política, embora nos pareça ser uma atividade humana abominável, é-nos muitíssimo importante para o ideal de uma vida social equilibrada e digna. A ministra Carmem Lúcia do STF não conclamou os jovens a não desistirem da política porque a alternativa a ela seria a guerra? Então? Deve ser isso o que anda acontecendo Brasil afora, embora em uma magnitude ainda pequena, porém crescente. Já temos a lei da ficha limpa para barrar os carimbados pela Justiça. Já temos um caso exemplar de condenação de malfeitores como nunca antes acontecido no País, demonstrando que as instituições da Republica podem funcionar, sim senhor...

Aqui, contudo, tenho suspeitas de que mais do que o quadro geral que esbocei acima algo tacanho possa ter influenciado o voto do munícipe. Aceitem minha tese, ou não, propugno que os pernilongos da redondeza fizeram a diferença. Afinal, mais do que qualquer outro meio de comunicação de massa, eles desempenharam um papel fundamental na escolha do novo prefeito. Somente eles e não mais ninguém poderia fazer com eficiência o que todo candidato sonha: transmitir de forma audível e diretamente no ouvido de cada eleitor uma mensagem política útil. Os nossos pernilongos foram e continuam sendo invencíveis nesse mister...

Edson Pinto
Outubro’ 2012

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

A partir de amanhã, segunda-feira, 15/10, pós feriado prolongado com final de semana, verdadeiro patrimônio nacional, é hora de voltarmos nossas atenções à propaganda eleitoral que a TV divulga tendo em vista o segundo turno que ocorrerá em várias regiões do País.

Bom proveito!

Para não perder a atualidade do tema, fiz uma reflexão sobre o que aconteceu aqui no meu município.

Não temos segundo turno, mas, se há algo há a ser extraído disso, é a reafirmação da assertiva daquela máxima popular muito usada em Minas, a de que “mineração e eleição só depois da apuração”

Boa semana a todos!

Edson Pinto