2 de mar. de 2013

227) A RENÚNCIA DO PAPA

Nos dias que correm, o mundo, especialmente o católico, foi surpreendido com a renúncia do Papa Bento XVI. A surpresa se deve exatamente ao inusitado do fato, vez que, o último a fazê-lo tinha sido o Papa Gregório XII, em 1415; quase 600 anos passados.

Na época, início do século XV, o Novo Mundo, incluindo o Brasil, sequer havia sido descoberto; faltava quase um século para isso. A Reforma Protestante de Martinho Lutero com suas famosas 95 teses só ocorreria 102 anos mais tarde. O Rei Henrique VIII, da Inglaterra, que ao se separar de Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena e com isso deflagrar um grande mal-estar com o Papa Clemente VII, nem tinha nascido, assim como os demais personagens dessa página histórica. Esse imbróglio se deu 1533, portanto, 118 anos mais tarde.

Com tantos fatos importantes na vida da humanidade e especialmente na vida da Santa Sé, arrisco-me a dizer que nem mesmo para os eclesiásticos, a quem se pressupõe, nesta matéria, conhecimentos superiores aos nossos, os laicos, não havia motivos e exemplos vivificantes em suas mentes que lhes pudessem levar a aceitar - sem sobressalto - a renúncia do Papa.

Bem, inúmeras e fundadas análises sobre o episódio têm sido feitas e amplamente divulgadas mundo afora. E - à medida que nos aproximamos do conclave que escolherá o novo ocupante do trono de Pedro -, ainda ouviremos muito mais... Não tenho, portanto, nenhuma intenção, nem mesmo ciência, para produzir uma crônica que acrescentasse substância ao muito que já nos tem sido dito. O que me motiva a abordar o tema é a oportunidade de aproveitá-lo como exemplo a vários outros atos de nossa vida secular:

Se você, meu amigo, faz parte da corrente dos que esposam a tese da intrínseca humanidade da figura do Sumo Pontífice, ao contrário de outros que lhe atribuem características divinas, então estamos do mesmo lado. Por isso, afinados com as mesmas conjeturas... Em primeiro lugar, o Papa é um ser humano como qualquer um de nós. Nunca ouve outro que, por atributos divinos, tivesse sido dotado de condições especiais como, por exemplo, saúde inabalável, juventude permanente, onisciência e vida eterna.

Não! Todos os 265 papas que antecederam a Bento XVI ficaram doentes em algum momento de suas vidas, sentiram dores, sofreram pressões, se decepcionaram, envelheceram e até já morreram. É assim a vida, e assim sempre será. O próprio Papa Bento XVI, no Consistório de 11 de fevereiro último quando anunciou a sua renúncia, pleno em sua humildade e humanidade, disse: “cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino...”

Que bela lição de vida essa! Deveria ser estudada, aprendida e praticada por muitos líderes de carne e osso que andam por aí. Quão dificil tem sido para muitos detentores do poder entenderem que a condição de líder requer, além do desejo e da aclamação dos liderados, muito desprendimento, altruismo, abnegação, amor à causa comum superior à causa pessoal, humildade, decoro, honestidade e ética? Aferram-se ao poder e dele não se admitem nunca libertos. Mais do que isso: entendem-no como parte inerente às suas próprias existências. Ao contrário de Bento XVI, e numa irônica inversão de valores, até imaginam-se detentores de condições divinas.

Eles estão em todas as atividades humanas. Tanto faz serem líderes políticos em seus vários matizes (de democratas a absolutistas), gestores de coisas comuns, chefes de relações familiares, ou o que for. Façamos as nossas próprias listas e encontraremos inúmeros nomes de pseudos estadistas, políticos oportunistas, maus presidentes, chefes, líderes disso e daquilo que são amantes incondicionais do poder. Não largam o osso. E se ainda não os tem, não se avexam em ter-lhe a posse. Preferem a morte à perda do cargo.

Por que será? Entendem-se ungidos celestialmente para a vitalicidade dos cargos de liderança que ocupam? Imaginam-se melhores e mais preparados que os outros? Não admitem para si nenhum papel que não seja o do topo da pirâmide ainda que felicidade verdadeira possa estar na sua base? Ou é porque acreditam que os cargos que ocupam lhes viabilizam conquistas pessoais imensas, mesmo que não seja de forma honesta?

Respostas a essas e outras perguntas da mesma natureza são sempre bem-vindas. Se vieram, creiam, serão para o bem da humanidade... Mas como essa hipótese é implausível, o melhor a fazer é continuarmos a dar valor aos homens que, depois de examinarem repetidamente as suas consciências, como nos falou Bento XVI, tenham a dignidade de praticar o nobre ato da renúncia. Pois, se Deus quisesse, para além Dele próprio, algo infinitamente duradouro, ter-nos-ia, primeiro, feitos eternos. Se não nos fez eternos, por que o seriam nossos comezinhos momentos de grandeza propiciados pela liderança?

Edson Pinto
Março’ 2013

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

O Papa Bento XVI renunciou ao trono petrino.

Especulações de toda ordem afloram das análises que o tema suscita, por óbvio...

Agora, teremos por mais algumas semanas muitas notícias vindas de Roma até que, em algum momento ao longo deste mês de março, veremos a fumaça branca escapar da chaminé da Capela Sistina.

O ritual se completará com o camerlengo no balcão das pregações da Basílica de São Pedro para a famosa frase: Habemus papam!

Enquanto isso não acontece e o assunto seja encerrado, aproveito para, também, refletir sobre esse episódio de extraordinária relevância.

Escrevi nesta semana a crônica A RENÚNICA DO PAPA que vai publicada neste meu blog.

Abraço a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De; Ibrahim Georges Tahtouh
Para: Edson Pinto

Edson boa tarde.

Mandei para muitos colegas/amigos, uns 300/400.

Muitos retornaram com elogios.

Vc é bom mesmo e neste texto vc estava ainda mais inspirado.

Valeu.

Abs seu amigo Ibra