Quando o tépido raio de sol transpôs
a fresta da cortina e encontrou a face ainda sonolenta de Edson P., ele acordou
de vez. Era mais uma trivial manhã de um fim de verão não muito cheio de
surpresas: Alguns dias amanheciam com o céu tão azul e desnudo que formava uma
imensa e única tela monocrômica. Mas, aquele mesmo firmamento na cor da safira podia,
ao cair da tarde, transmudar-se em devaneios piréticos na forma de um oceano
flutuante de cores plúmbeas como se Zeus, aborrecido, ribombasse seus trovões
para ordenar o dilúvio. Eram “as águas de março fechando o verão...”
Convenceu-se, Edson P., estar
diante a um daqueles raros momentos em que se deseja ardentemente merecer de
Deus a graça de um par de asas para subir alto ao céu e planar como um condor-dos-andes
e assim melhor desfrutar das maravilhas da existência. Levantou-se com um enorme
sorriso nos lábios, coração pródigo de generosidade, alma leve que nem pluma e uma
expectativa inenarrável por uma jornada dadivosa. E mais: agradeceu ao Onipotente
a primazia do dom da vida.
Por que Edson P., naquele belo
dia, no exato ocaso de mais um verão, se sentia com o espírito enlevado e a
alma tomada de arroubo poético, se ele - confessadamente - nem versejar sabia?
Seria um mero devaneio que se esgota na efemeridade do tempo? Um sonho doce que
lhe tendo ocorrido na noite anterior se esquecera de se desfazer simplesmente só
porque o céu era azul, cor da safira? Podia ser tudo isso, mas podia ser também
que a longa e destilada existência lhe apontava o momento de versejar, de
poetizar. E poetizar pra que? Só por poetizar, porque a musa é a própria vida...
E no aconchego de seu escritório
doméstico, seu doce refúgio do dia a dia, como gosta de dizer, sacou dos parcos
recursos de que dispõe e começou a traçar suas primeiras irresponsabilidades
mal versejadas. Mas não progrediu. Não que lhe faltasse o mote ou lhe fugisse a
rima, o ritmo e a estética, mas havia um inimigo a fustigar-lhe o equilíbrio
vital. Edson P. é, então, compelido a sucessivamente migrar para ambientes
alternativos, com tudo recomeçando, como no mito de Sísifo, mesmo sem ter ele -
confessa novamente - jamais desafiado os deuses.
Enquanto o dia corria da manhã à
tarde, do conforto ao desespero e da paz ao desassossego, a pedra rolava abaixo
e depois empurrada acima para novamente voltar abaixo num repetir eterno.
Contudo, o inimigo persistia concreto, voraz, alerta, ameaçador ao mesmo tempo
em que o céu enegrecia e desabava impiedoso.
Só aí, Edson, mais despoetizado
do que nunca, não só desiste de seus versos como se rende incondicional ao poderio
imbatível do maldito exército de pernilongos que roubou sua alma, trucidou a
sua paz, sufocou a sua inspiração e transformou o seu dia de céu azul como safira
num cálice amargo de absinto.
E não é para ficar “p.” da vida?
Edson Pinto
Abril’2013
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Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Há momentos em que o que nos incomoda é a política rasteira que se pratica no País; outros, a falta de segurança pública; outros, o trânsito desordenado; outros, a inflação que está de volta e tantos outros que qualquer um pode livremente listar.
Nesta semana, publico um texto sobre outro incomodo. Veja qual é lendo VERSOS E REVERSOS.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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