Tanto idolatro e cultuo o idioma português, nossa língua pátria, que é
dele que me alimento com a voracidade de um tubarão faminto para dar formas concretas
às reflexões que me brotam frugalmente a cada semana. Sem ele, meu blog sucumbiria
de inanição e, quem sabe, até a minha alegria de viver feneceria como as folhas
do outono.
Qualquer um poderia disso fazer pouco, ou nada, simplesmente assacando-me
a verdade de que, se mesmo a ele que é o nosso idioma único e oficial já não dedico
o respeito que merece, o que haveria de fazer aos outros que me são pouco
familiares? Tal afirmação, seguida do perspicaz questionamento, tem e não tem
razão:
A razão que tem está no fato de que só percorrendo as infinitas sendas
do seu labirinto é que se pode dizer que o conhece razoavelmente. Poucos se
atreveriam a dizer que o conhece na plenitude. Mas isso - sabemos muito bem -
só se alcança com longo convívio, tentando entendê-lo, errando, corrigindo,
acertando até que, finalmente, dele, para nós mortais, se logre reter o básico.
Digo também que não tem razão, porque uma palavra forte, seja do nosso próprio
idioma, seja de qualquer outro, pode ser a mais perfeita representação de uma
mudança de comportamento social.
Dizem os poetas que em nenhum idioma, exceto no nosso português, existe
uma palavra tão forte e tão expressiva para se transmitir o sentimento da falta
que alguém nos faz. Esta palavra é “saudade”. Vinicius que o diga: “Chega de saudade / a realidade é que sem ela / Não há
paz, não há beleza / É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim, não sai
de mim, não sai...” O cancioneiro popular nos legou “saudade palavra triste
quando se perde um grande amor”; e até mesmo Camões: “Se de saudade morrerei, ou não,
os meus olhos dirão”
E o que
tem a ver com isso a nada poética palavra inglesa que dá título a esta crônica
se nem soa suave e pungente como nossa “saudade”? Por certo não é uma palavra
do agrado dos poetas. Shakespeare teria outras mais sonoras para enriquecer os seus
versos. Mas, no mundo tecnológico em que agora vivemos, ela é muito forte,
expressiva e direta. Quer dizer que algo avança; que algo quebra ou remove um
obstáculo para progredir como o exército de Júlio César quando rompeu o limite
do Rubicão e avançou vitorioso sobre Roma.
Para o ambiente
de avassaladora inserção tecnológica em que vivemos, a palavra inglesa “breakthrough”
se presta à perfeição para representar de forma cristalina a transição de uma etapa
antiga para uma nova que surge com força total. Lembram-se do que Steve Jobs
disse no seu famoso discurso na Universidade de Stanford em 2005? “A morte talvez seja a
maior invenção da vida. É o agente de mudanças da vida. Remove o velho e abre
caminho para o novo”. Desde a Revolução Industrial do final do século XVIII o
mundo não tinha experimentado “breakthroughs” tão acelerados como os da nova
era da Internet. A cada momento ficamos com a certeza de que tudo ficou velho, morreu
e em seu lugar chegaram coisas inovadoras que mudarão para sempre nossas vidas.
Fica só a saudade...
Essa
sensação de permanente “breakthrough”, nós todos podemos constatar quando
observamos pessoas que passam a se comunicar mais e mais com amigos, com parentes
e parceiros de negócios, colegas de trabalho, de escola, da comunidade. Assusta-nos,
a princípio, ver em um restaurante 4, 5 pessoas em uma mesma mesa entremeando conversas
com rápidas digitadas nos seus respectivos smartphones. Parece aos
conservadores, fiéis às tradições do passado, ser uma tremenda falta de
respeito alguém alhear-se do ambiente físico em que se encontram, mesmo que por
breves instantes, para um mero tele contato. Melhor não fazê-lo, porém a realidade é outra
e é necessário que nos adaptemos a ela sob pena de ficarmos fora do mundo
moderno. Há muito ainda a ser refletido sobre se essa mudança, esse “breakthrough”,
nos hábitos das pessoas se relacionarem afeta para o bem ou para o mal as suas vidas
na sociedade.
Sem
saudosismos, o que nos fica é a constatação inequívoca de que se a mudança
fosse para o mal, não prosperaria. Se o fato de se ter amigos, familiares, e
todas as pessoas do relacionamento acessíveis aos toques na tela de um smartphone,
de um tablet ou de quaisquer outros dispositivos eletrônicos vierem a se
demonstrar como sendo ruim, tenham certeza de que não haverá “breakthrough” que
se sustente. Assim como uma planta só prospera onde as condições que lhe são
vitais são apropriadas, as novas tecnologias também ficarão desde que as
pessoas se sintam felizes com ela.
Quem pode
ser contrário a se reunir numa única conexão pela Internet parentes em
diferentes partes do País e do mundo, trocando simultaneamente mensagens,
saudações, memórias e afetos, praticamente de graça. Exatamente isso me
aconteceu nessa última semana quando vários parentes em diversas localidades
interagiram num grupo familiar que criamos no Whatsapp. A alguns não vejo há
tempos, mas a tecnologia nos permitiu a fantástica aproximação.
Se isso
não for, de fato, um “breakthrough” na maneira como cuidaremos doravante das nossas
vidas, prometo quebrar o meu smartphone e voltar a buscar rimas e versos para a
palavra saudade.
Edson Pinto
Maio’ 2013
5 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Se alguém tivesse acordado de um coma de 20 anos pensaria estar chegando a outro mundo, tamanha as mudanças comportamentais que se registram nesse lapso de apenas duas décadas.
Escrevi nesta semana a crônica BREAKTHROUGH, pois essa palavra do idioma Inglês tem tudo a ver com o que anda acontecendo em nossas vidas.
Boa final de semana a todos!
Edson Pinto
De: Milton Bonanno
Para: Edson Pinto
Olá Edson, bom dia
Lendo o seu texto "Breakthrough" achei que você apreciaria o texto abaixo, para suas tertulias.
Abraços,
Milton
O CÉTICO E O LÚCIDO...
No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês.
O primeiro pergunta ao outro:
- Você acredita na vida após o nascimento?
- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.
- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
- Bem, mas, às vezes, quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando
ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela...
PENSE NISSO.....
A pessoa que escreveu este texto foi muito iluminada. Eu nunca havia pensado dessa maneira. Adorei a forma utilizada para esclarecer uma dúvida que atormenta a maioria da humanidade.
Como achar que não exista vida após o nascimento??? Esta questão é a mesma de não acreditar em vida após a morte!!!
Tudo depende de um ponto de referência. Usar o óbvio para explicar o duvidoso.
Aliás... "O que é a vida e o que é a morte?"
De: Edson Pinto
Para: Milton Bonanno
Caro Milton:
Grato pelo texto! Não o conhecia. Ele é admirável e responde de forma exemplar parte das nossas dúvidas existenciais...
Agora - mesmo no exercício da vida terrena - pós-parto, temos a tendência de manter como válidas apenas a realidade que conhecemos, rejeitando, por medo, é óbvio, o que se apresenta como novidade.
Vejamos como os mais conservadores andam repudiando ferozmente essas novas tecnologias sempre como os seus argumentos saudosistas: “O celular, o smartphone, o computador, a internet, enfim, tudo que é novo, desunem as pessoas. Tempos bons eram aqueles em que a família se sentava à noite, sob a luz da lamparina, para jogar conversa fora”.
Esquecem esses saudosistas que o mesmo ocorre com o mundo atual da comunicação fácil e com uma grande vantagem: Não só os circunstantes, mas aqueles que por razões diversas encontram-se distantes podem se integrar na mesma conversa. Isto amplia a abrangência da socialização e não o contrário.
É - como diz o belo texto que você me enviou - tudo uma questão do medo do desconhecido. Esse medo – amparado pela lei do menor esforço e pelo aconchego da zona de conforto (no caso o útero materno) - impedem às pessoas de avançarem. Mas, é tudo uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde o novo vira padrão e a vida avança...
Abraço
Edson
De: João Batista dos Santos
Para: Edson Pinto
Ao amigo Edson, uma boa noite.
Lí sua crônica sobre BREATHOUGH e fiquei feliz por saber deste seu
novo talento: Escrever.
Parabenizo contigo e te desejo permanente evolução.
Antes contudo, presto uma pequena referência a você, citando um
pequeno texto de Gonçalves Dias, que diz assim: " A VIDA É COMBATE,
QUE OS FRACOS ABATE, QUE OS FORTES E O BRAVOS SÓ PODE EXALTAR".
Um grande abraço do,
J. Batista dos Santos (JB)
De: Marco Brizzi
Para: Edson Pinto
Amigo Edson,
Brilhante esse e-mail e os demais comentários do nosso colega Milton Bonanno...
Reflexão é pouco nessas horas em que colocamos em duvida como a tecnologia pode aproximar as pessoas, comunicar e informar o que antes era restrito ao seio da família e agora é muito mais amplo e irrestrito para todos.
Parabéns a você pelo sua crônica, e ao colega Milton Bonanno pela análise e observação sobre a vida após o parto.( O Cético e o Lucido ).
Forte abraços ao dois .
Marco Brizzi
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