Agora, quarta-feira, 18 horas. Havia
me comprometido a escrever um texto a ser postado no meu blog ainda hoje. Seguiria,
assim, o procedimento que me imponho a cada semana desde que comecei a escrever
com regularidade. Não mantenho rigor quanto ao exato dia de escrevê-los e/ou
publicá-los, porém há sempre um limite para não me deixar ser dominado pelo
relaxamento. Se tudo der certo, mesmo porque o meu tempo é curto e tenho outro
compromisso, daqui à uma hora o texto fica pronto...
A sensação de se cumprir tarefas
programadas, mesmo as menos expressivas, não tem preço; só nos traz alegria. Às
vezes, calha-me de estar tão organizado, inspirado e produtivo que me saem, de
uma única sentada, dois ou mais textos que não só atendem ao planejamento da semana
como me permitem formar uma pequena reserva. Hoje, quarta-feira, 18h15, contudo,
me pego com estoque zerado e inspiração idem.
Sentado aqui diante do computador
procuro nos escaninhos de minha memória a sugestão de algum tema a ser elaborado.
Com a prática, aprendi que desenvolver um texto, literalmente falando, não é o
problema maior. O problema é ter um tema interessante. Entretanto, por mais que
eu procure, nada encontro. Remexo meus neurônios e, de novo, nada... Olho ao
redor; para o chão; para o teto, e nada... O sentimento é o de que, justo
agora, quarta-feira, 18h30, a minha mente se esvaziou como um pneu furado que
matraqueia no asfalto quente enquanto o carro reduz a velocidade até parar-se
por completo.
Jose Saramago, o grande escritor
português, prêmio Nobel de Literatura em 1998, falecido em 2010 aos 87 anos, se
impunha, conforme ele mesmo confessou, ao hábito de escrever todos os dias duas
e não mais do que duas páginas. Pode parecer não ser muito e o suficiente para
a produção do grande escritor que foi, mas considere que em um ano isso pode
significar ao redor de três livros. Isso prova que o importante é disciplina e
não necessariamente a inspiração, pois não dá para se imaginar inspirado todos
os dias. No meu caso, hoje, quarta-feira, 18h40, não tenho inspiração, embora
tenha a disciplina que me impulsiona a escrever o texto semanal. E é o que estou
fazendo sem nem mesmo saber onde vou chegar. Mas, disciplinadamente, vou em
frente. Acompanhem-me e vejam se vou conseguir!
Fixo agora o meu olhar na lâmpada
do teto. Ela, indiferente ao meu desespero, continua a cumprir o seu papel de emitir
luz e tornar as coisas à quais alcança, mais claras e visíveis, embora, no caso
de minhas ideias, infelizmente, em vão. Minha mente continua obnubilada, nas
trevas, como se no momento primevo (Genesis 1.4b), Deus a tivesse também
separado da luz, ou se ela, por artimanhas cosmológicas, houvesse se transformado
em um buraco negro ao consumir todo o seu combustível interior a tal ponto a impedir
o escape de qualquer luminescência.
Por fim, e a essa altura, quarta-feira,
18h50, já convencido de que os buracos negros não emitem luz, bem como para
manter ao menos a necessária disciplina, ocorre-me de me autoquestionar: Em não
havendo nada sobre o qual escrever, por que então não escrever exatamente sobre
ele, isto é, sobre o nada?
Nada mais coerente; nada mais
adequado; nada mais salvador neste momento de tão pouca inspiração, do que o
próprio nada - reflito... Mas, se o nada é coisa alguma, é a não existência, o
não ser, a ausência de qualquer coisa, o vazio absoluto, ele pode ser também a
morte da escrita, o fim de tudo, mesmo nesta quarta-feira, 18h55...
Immanuel Kant tomou o
questionamento do nada como sendo um pseudoproblema, uma falsa questão. Às
favas, portanto, Heidegger e sua metafísica que admite a existência do ser e do
nada. Fico com Kant, porque o nada me poupa o trabalho de fazer o que agora já me
parece impossível, temporalmente. Ele, o nada, e a minha escrita, simplesmente inexistem.
Não é possível considerar o nada senão como uma representação mental para
satisfazer a nossa ânsia de constatar que algo é física e metafisicamente
impossível de acontecer. Por isso - meus amigos - decidi, hoje, quarta-feira,
19 horas, não escrever mais nada além do nada que eu já escrevi...
Talvez, só na próxima semana e
com mais tempo e inspiração...
Edson Pinto
Maio’ 2013
4 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Dois motivos me levaram a nada publicar no blog na semana passada: O primeiro foi que - assim como aconteceu também comigo - imaginei que meus amigos estivessem assoberbados com o final do prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda e com outras ocupações decorrentes do feriado de 1º de maio que partiu a semana em duas, portanto sem tempo para leitura.
O segundo motivo eu o explico com mais detalhes no texto desta semana: NADA PRA FALAR.
Boa semana a todos!
Edson Pinto
PS: Se você quiser incluir algum amigo na lista de recebedores de meu blog é só me mandar um e-mail me indicando o nome e o e-mail do seu amigo. Assim, eu o colocarei no mailing que uso para fazer a distribuição.
Até sem inspiração o texto ficou sensacional.
Léo
Edson
Edson, você como algumas pessoas compartilha do pensamento do político e escritor inglês Philip Dormer Stanhope (1694/1773) quando ele diz: "Tudo o que vale a pena ser feito merece e exige ser bem feito". Porém o que senti no seu texto desta semana é que você estava muito inspirado para falar da falta de inspiração. Meu irmão, um grande beijo. Regina.
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