Sepe vopocêpê tepevepe
inpinfanpancipiapa, vopocêpê vaipai lempembrarpar despestapa
brinpincapadeipeirapa.
Se não lembrou, certamente perdeu
uma das brincadeiras mais instigantes que a garotada de outros tempos utilizava
para agitar os relacionamentos sociais ainda em formação. As meninas, pelo
menos na minha época, eram as mais espertas e talvez mais caprichosas do que os
meninos para debulharem essa quantidade de palavras aparentemente complexas.
Com elas driblavam a curiosidade dos garotos enrolando-os numa trama quase
inescapável. Perante outras garotas ainda não iniciadas na brincadeira,
impunham-se pela admiração que o domínio do estranho idioma lhes impunha.
A origem da língua do “Pê”
remonta à segunda guerra mundial: Dizem que os soldados aliados para se
comunicarem sem que fossem interpretados pelos inimigos prisioneiros bolaram
uma nova língua a partir da própria língua pátria, simplesmente acrescentando
ou pospondo a cada silaba uma outra sempre composta da letra “p” e da final da
silaba original a que se ligavam. Há, portanto, lugares em que se colocava a
nova sílaba antes e outros depois da principal. Assim, a expressão que começa
este texto quer dizer: “Se você teve infância, você vai se lembrar desta
brincadeira”. É só tirar o “pe” que vem depois do “se”, o “po” que vem depois
do “vo”, o “pê” que vem depois do “cê” e assim por diante. Experimente!
A Celma, minha irmã de 10 anos era
batuta nessa linguagem. Dava nó em pingo d’água, ou melhor, “dapavapa nópó
empem pinpingopo dapaapaguapa” Entendeu?
Chegou à janela de casa e gritou
para uma coleguinha recém-chegada ao bairro:
___ Opo quepe vopocêpê tápá fapazenpendopo?
A menina perplexa:
___ Não te entendo, o que você tá falando?
___ Vopocêpê nãopão conponhepecepe
apa línpínguapa dopo Pêpê?
___ Hein?
___ Então precisa aprender para
poder conversar com a gente, entendeu?
___ Você me ensina?
___ Claro, depois que eu assistir
a televisão que está ligada aqui do meu lado, você está ouvindo o som?
___ Vocês tem televisão? Ninguém
na rua tem!
Era final dos anos 50 e pouca
gente tinha um televisor em casa. Era coisa rara e ainda privilégio de gente
muito abonada, o que não era o nosso caso. Para a Celma, devia ser naturalmente
um sonho que ela realizava de forma esperta e somente para impressionar a
inocente amiguinha que acabara de chegar ao bairro.
Na verdade o que tínhamos era um
rádio a válvula que ficava sobre um móvel da sala bem nas proximidades da
janela onde o diálogo transcorria. Era a preciosidade da casa que requeria autorização
especial dos pais para ser ligada. Naquele momento, eventualmente, ele estava e
Celma viu então a oportunidade de duplamente se impor sobre a neófita. Já a
impressionara com a língua do “Pê” e agora como a televisão imaginária, por que
não?
___ Não, não posso deixar ninguém
entrar. Meu pai é muito bravo e não deixa que ninguém mexa na televisão.
___ Mas eu não vou mexer –
replicou a menina – só quero ver, e isso não estraga...
___ Pode não! Eu já disse. E além
do mais, essa televisão tem um problema que você não consegue ainda entender.
Quando está ligada sozinha, fala na língua da gente, mas quando tem mais gente por
perto ela só fala na língua do “pê”.
Com uma mão tirou o som do rádio
e disse adicionalmente para a nova coleguinha:
___ Levanta aí do muro na ponta
dos seus pés para que a televisão pelo menos veja a sua cabeça. Sim! Agora ouça o que ela vai falar:
Pondo a outra mão em frente à
boca falou entre dentes:
___ Vopocêpê nãopão popodepe
apainpindapa mepe aspassispistirpir
porporquepe vopocêpê nãopão conponhepecepe apa línpínguapa dopo pêpê.
Enpentenpendeupeu?
___ Não entendi nada!
___ Então vai embora – disse
Celma – porque a televisão disse que você não pode assisti-la porque ainda na
fala a língua do pê. Entendeu, agora, sua burrinha?
Edson Pinto
Agosto’2013
5 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Vários amigos que - como eu - ainda guardam em seus corações interessantes lembranças dos tempos de infância se manifestaram à minha crônica da semana passada, Coisas da Vida.
Decidi, então, nesta semana, dar prosseguimento à temática contando outra passagem daqueles tempos.
Vejam se recordam dessa brincadeira de criança. Esta nesta crônica “A LINGUA DO PÊ” aqui postada.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
De: Sandra Lofrano
Para: Edson Pinto
Adorei!Eu brincava muito de falar na língua do PÊ!!
Sandra
De: Fernando Gallina
Para: Edson Pinto
KKKKKKKKK gostei da Celma....
Fernando
De: Laércio Calandrino
Para: Edson Pinto
Ri muito!
Laércio
Muito bem lembrado !!! Saudades desse tempo...
Abraço.
Cristina Taurizano.
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