O jovem na casa dos 30 sai à
procura de um novo trabalho. Inscreve-se para processos de seleção em várias
ofertas de cargos compatíveis com o seu conhecimento e adequados aos seus
planos de carreira profissional. Prepara o Curriculum Vitae, submete-se a
entrevistas, dinâmicas de grupo, teste específicos, comprova com diplomas a sua
formação educacional, submete-se a avaliações no idioma Inglês, Espanhol e em
matérias técnicas. Comprova experiência anterior e atende a várias outras
exigências feitas pelos futuros empregadores. É, se demonstrar potencial
competência, admitido. Fica num período de experiência quando suas habilidades
são analisadas com lupa até que prove ser exatamente o profissional que a
empresa necessita para os propósitos de seu negócio. Competência e preparo são,
neste caso, o nome do jogo. Agora, com sua efetivação ele pode ser útil à
empresa e fazer, ali, se quiser, a sua carreira profissional até atingir
posições de maior destaque e relevância. Começará com assistente sem
responsabilidade pelos resultados do setor, mas, um dia, se tudo correr bem e
ele ratificar os seus méritos, poderá ter sob sua batuta o orçamento de todo um
departamento da empresa.
Outra situação: Jovem, como no
exemplo do parágrafo anterior, ou mais jovem ainda, talvez sem qualquer preparo
executivo ou boa formação educacional, ou mesmo já adiantado na idade, semi-analfabeto
e sem qualquer experiência na direção de qualquer atividade, nem mesmo uma
lojinha de R$1,99, resolve optar pelo caminho da política. Aproxima-se de um
partido político, faz umas gracinhas midiáticas e/ou vale-se de seu prestígio
em alguma área do entretenimento de massa e sai candidato a um cargo político. É
eleito pela massa ignara e logo assume a possibilidade de comandar ou
interferir na gestão de um orçamento público superior em milhares de vezes ao daquele
sob responsabilidade do cidadão do parágrafo anterior. Assume o poder de
legislar sobre temas que vão influenciar no desempenho da indústria, do
comércio, das empresas em geral, dos cidadãos. Ou, no poder Executivo, assume o
comando de um ministério, uma secretaria ou um órgão público com ação sobre
verbas astronômicas. Não precisou fazer entrevistas prévias; não teve que fazer
provas de Inglês, Português, Matemática ou mesmo de quaisquer outras matérias
técnicas. Não precisou provar experiência anterior para gerenciar qualquer
coisa que fosse...
Não soa absurda essa situação?
Sim! Mas é exatamente assim que o processo dito democrático seleciona os homens
que têm o poder de comandar, não um departamento ou uma empresa, mas sim toda
uma cidade, um estado ou a federação. Nada contra o fato de ser legitimo o
direito de todos os cidadãos aspirarem a um cargo político, mas tudo contra o
fato de que não se exija deles nenhuma prova de competência e preparo adequado
para a função de tão larga responsabilidade. E parece que a coisa nem sempre
foi assim. Foi com o passar do tempo e com o emburramento da coletividade associado
ao desprezo generalizado pelo mérito e pelas funções públicas que acabamos nos
submetendo às regras políticas elaboradas exatamente pelas mesmas pessoas
despreparadas que, democraticamente, colocamos no poder.
Sócrates, o grande filósofo
grego, já propugnava o mérito como sendo critério “sine qua non” para a escolha
dos dirigentes da sociedade. Aí se incluía a educação, a moral, a aptidão e o
preparo para o exercício de determinado cargo. Muitas sociedades atuais incluem
em seus processos eleitorais essa vertente da meritocracia como elemento
garantidor de uma gestão política de bom nível. Infelizmente, não é o que
ocorre na nossa sociedade brasileira. Os exemplos de “falta de preparo” abundam
o nosso cotidiano e nos leva ao desânimo, ao desperdício de recursos públicos e
à injustiça social. Quer exemplos?
Sabe aquelas estradas que mesmo
tendo recursos financeiros disponíveis nunca saem? Aquele projeto de linha
férrea que nunca consegue sair do papel? A transposição do São Francisco que
vem desde o período do Império e que nunca se conclui? O Metrô que não se
expande conforme o crescimento das cidades? O gasto público sempre mais elevado
do que seria razoável imaginar? O sistema de saúde que perde recursos com
equipamentos que não funcionam porque não há infraestrutura correta para operá-los?
O parque eólico do Nordeste que já está montado, porém a energia não tem redes de
transmissão para ser distribuída porque faltou planejamento? Ficaria aqui horas
e horas listando exemplos de incompetência na gestão do nosso país que nos
priva de uma vida melhor e ainda elevam aos píncaros o custo Brasil.
Não devemos esperar que um dia uma
determinada reforma política crie esses mecanismos para assegurar maior
competência no Estado. Há, sim, uma forma de que se encontra em nossas mãos
para evitarmos o descalabro. É o voto consciente. Precisamos criar a
mentalidade de que dar o voto a alguém é como chancelarmos a admissão de um
empregado em nossa empresa, ou da empregada que cuidará da comida e das coisas
de nossa casa, do técnico que dirigirá o nosso time de futebol ou mesmo do
gerente do Banco que cuidará das nossas economias colocadas sob sua responsabilidade
para guarda e aplicação. Quando tivermos isso em mente colocaremos no governo
gente séria e competente, com experiência, domínio de técnicas administrativas,
ou seja, bons gerentes para cuidar e bem aplicar os impostos que pagamos cada
vez em volumes maiores.
Edson Pinto
Dezembro’2013
7 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Vendo tantos desacertos na condução da coisa pública, resolvi, nesta semana, escrever sobre algo que parece difícil entender na nossa democracia.
Nesta crônica QUESTÃO DE COMPETÊNCIA externo a minha maneira de ver esse assunto.
Edson Pinto
Amigo Edson
Sua colocação é perfeita. Isto não aconteceria se o Pais tivesse cidadãos mais educados,assim eles teriam mais consciência so que é o bem comum. Hoje política significa picaretagem. O PT iniciou-se com a capa da honestidade e como remédio para a sociedade brasileira,mas vimos no que se transformou: ficou pior que os outros pois se associou com políticos que publicamente agredia como da pior espécie.
Olá Edson Pinto;
Suas palavras refletem uma realidade de longa data em nosso País.
Vale acrescentar que após os períodos eleitorais, pessoas sem qualquer preparo assumem cargos diretivos e muito bem remunerados como retribuição pela distribuição de "santinhos", colagem de cartazes, colocação de placas ou qualquer outra ajuda de conhecimento do eleito.
De: Luiz Covo
Para: Edson Pinto
Caro amigo Edson,
Boa noite e parabéns por mais esta belíssima crônica. O x da questão, vc sabe, será os filiados das diversas bolsas pensarem assim, pois são carneirinhos que comem sua graminha mensal e só pensam na grama de hoje e de amanha. Portanto, cabe a nós no dia a dia fazermos nossa parte de doutrinação junto às pessoas com quem nos relacionamos das diversas formas, mas para isso tb temos que utilizar bem a sutileza porque não estão interessadas em ouvir, mas uma vez entendo que isso passará pela educação e com sorte vai ainda alguns anos...
Abraço
Luiz Covo
Está explicado o motivo do PT não ter interesse em educar a população....
De: Marco Brizzi
Para: Edson Pinto
Amigo Edson,
Sua crônica foi brilhante, perfeita e esclarecedora, precisamos que essa mensagem chegue nos meios de comunicação,e que tem o poder de divulga-lá para uma comunidade menos esclarecida, que acaba pagando pelo que não sabe, e nunca vai entender, e que escolhe o seu candidato apenas pela popularidade que o mesmo conquistou em algum programa de TV, ou distribuindo camisetas,chaveirinhos,dentaduras,biblias e um mundo de brindes para chegar ao poder.
Parabéns...
Caro Edson,
Este seu artigo nos trás a realidade em que vivemos.
Espero que os nossos netos mudem esta situação , pois está cada vez pior.
Abraços
Mattoso
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