14 de mar. de 2014

256) O LIMITE DE MEU CAMPO DE VISÃO É O LIMITE DO MUNDO...

Filosofando brevemente com Arthur Schopenhauer, de Danzig, atual Gdansk, Polônia (1788 – 1860). Três questões existenciais:

___ Meu caro senhor Schopenhauer, diga-me se a compreensão que tenho do mundo que me rodeia é limitada, isto é, não vai além das observações sensoriais que posso diretamente fazer, ou se devo considerar que existe dentro de mim uma vontade própria, não sensorial, que nada mais é do que uma extensão de uma Vontade maior, universal e sobre a qual a minha experiência é zero?

___ Mais: Faz sentido eu considerar que o meu modo de ver o mundo não inclui, por razões óbvias, nem as coisas concretas que meus sentidos ainda não puderam captar de forma adequada e nem mesmo, e principalmente, essa possível Vontade superior e universal a que respeito, mas que jamais experimentei e que - pelo que imagino - jamais terei acesso?

___  É coerente, por fim, adotar o seu raciocínio de que os limites de meu entendimento são, como diz o título deste texto, os limites da minha visão do mundo?

___ Você sabe, meu caro mortal, que empiristas como John Locke (1632 – 1704) foram muito objetivos ao afirmar que todo o conhecimento que adquirimos ao longo da vida só provém de uma única fonte, a experiência captada pelos nossos sentidos. Ao virmos ao mundo, disse o colega, aqui chegamos com a mente como se fosse uma folha de papel em branco, uma “tábula rasa” que precisa ser preenchida pela experiência que nossos sentidos vierem a captar. São elas que nos permitem entender e teorizar o mundo. Portanto, nem me passa pela cabeça contestar o grande filósofo inglês, mas tenho uma maneira ligeiramente diferente de ver essa questão:

___ Comecemos por admitir que o meu quase contemporâneo Immanuel Kant (1724 – 1804) não estava de todo errado quando nos explicou que o mundo se divide entre os fenômenos que observamos e o que ele chamou de as “coisas em si”. O que tenho dito é realmente o que você pensa e expressou nas três perguntas, ou seja, cada um de nós de per si produz a própria visão de mundo a partir da experiência particular.

___ Acrescento apenas que, mesmo concordando com ele, vejo de forma diferente a razão pela qual temos essa limitação de visão do mundo. Penso que ela não deriva do fato de termos vontade e fenômenos isolados em mundos distintos e não conectados entre si. Para mim ambos se fundem, pertencem ao mesmo mundo, em que pese serem sentidos de forma diversa. Consideram-me pessimista porque, diferentemente do meu outro contemporâneo Georg Hegel (1770 – 1831), não vejo essa vontade como uma força positiva, construtiva.

___ Explico melhor: Como nossa vontade particular se funde à Vontade universal, ficamos à mercê dessa Vontade despropositada e irracional. Nossos instintos mais primitivos são conduzidos por essa Vontade o que nos frustra ao tentarmos aliviar tais anseios. Meu caro, como vê, o mundo não é bom nem ruim, apenas considero-o sem significado cheio de dor e sofrimento. A única forma que vejo para vocês se livrarem dessa condição miserável é se privarem do desejo de ser feliz...

___ Isto é o que penso meu amigo, mas você pode se informar como esse meu pensamento se desdobrou com Nietzsche quando propôs a noção de “vontade de poder” como explicação básica para as motivações do ser humano ou mesmo ver como Freud usou o inconsciente para explicar esses mesmos desejos e instintos básicos sobre os quais falei...

Edson Pinto

Março’ 2014

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Acabo de ler o revelador e intrigante livro de Romeu Tuma Junior, “Assassinato de Reputações”, Editora Topbooks, 2013, 557 páginas.

Se a náusea que ora me acomete não decorre de abuso alimentar é certo que só pode ter sido provocada pela exposição aos fatos desnudados no livro.

Para o bom juízo, sabe-se, devemos sempre avaliar os dois lados. Como os fatos reportados pelo autor já eram de conhecimento público, o que se obtém agora é exatamente o outro lado.

E digo, estarrecido, triste e até mesmo preocupado com o amanhã que a contundência das revelações prenuncia-me incontidos vômitos...

Vale a pena entender melhor o outro lado do caso Celso Daniel, da usina de dossiês do governo, do caso Daniel Dantas, Battisti e inúmeras proezas dos bastidores da pobre vida nacional. Leiam e tirem suas próprias conclusões. Se ao final não sentirem a mesma náusea que sinto, eu concluirei que ando me alimentando mal...

Coincidentemente, ou quem sabe levado pelo inconsciente, havia escrito nesta semana o texto de hoje publico com o título "O LIMITE DO MEU CAMPO DE VISÃO É O LIMTE DO MUNDO” Nele, reflito filosoficamente sobre os limites da visão que temos do nosso mundo.

Sem forçar, concluo que o livro que mencionei tem tudo a ver com as múltipas faces da verdade...

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Anônimo disse...

Oi Edson!
Sua publicação desta semana é profunda e instigadora de algumas questões, tais como: qual o raio do nosso campo de visão, o poder da nossa vontade e o que é a felicidade?
Dentre tantas interrogações, o que é verdade pra mim é que a felicidade não é um desejo e sim uma força positiva, um estado de espírito, algo intrínseco que brota de nós e não um bem que adquirimos, por isto a tal falada busca da felicidade não existe.
Beijos, Regina.