21 de mar. de 2014

257) SOMOS ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA EM MOVIMENTO

Bernard Mandeville foi um filósofo holandês que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Era também médico, economista político e acima de tudo um ferino satirista. Na verdade, sua filosofia foi tomada como sendo falsa e cínica por enaltecer a importância do que ele chamou de “vícios privados” como motor do progresso da humanidade. Claro! Todo o pensamento filosófico ao longo de milênios sempre enalteceu as virtudes humanas e agora aparecia esse louco para dizer exatamente o contrário. Calma! Antes de julgá-lo vamos procurar saber mais profundamente o que ele realmente quis dizer.

A obra mais notória de Mandeville foi a “Fábula das Abelhas” de 1729. Nela ele fala das abelhas que repentinamente tornaram-se virtuosas, abençoada que foram pela dedicação incansável ao trabalho, pela felicidade com que levavam a sua tarefa árdua e pela sua honestidade. Fizeram, portanto, por merecer uma vida tranquila, sem trabalho, em uma árvore exclusiva. Obviamente, por não mais laborar e por terem abandonado o vício da cobiça e do amor próprio, a sua sociedade fracassou.

Mandeville então satirizou dizendo que as virtudes morais não passam de mera hipocrisia da elite governante com o propósito de dominar as classes inferiores. Concluiu dizendo que é o paradoxo do cultivo dos vícios pessoais que gera o progresso. “Vícios privados – disse ele - são benefícios públicos”.

Anos mais tarde, Adam Smith, precisamente em 1776, cravou em “A Riqueza das Nações” aquilo que tem sido considerado o conceito fundamental da economia: é da ação interesseira, egoísta das pessoas que a economia é movida. "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio autointeresse".

O século XX começa com o capitalismo a todo vapor e com as sociedades tomando uma nova feição que merecia ser estudada e explicada. Max Weber (1864 – 1920) se ofereceu para fazer isto por meio de uma nova disciplina, a “Sociologia”. Observou ele que as ações individuais são moldadas pela experiência e visão de mundo que cada pessoa tem. Porém, quando elas interagem coletivamente, isto é, dentro da sociedade que elas mesmas contribuíram para criar, suas ações se tornam complexas e formam um novo entendimento da vida que deixa de ser individual e passa a ser coletivo. Aqui surgem as religiões e os sistemas políticos, por exemplo.

A conseqüência quase inevitável da criação dessas novas estruturas coletivas é que elas, ao contrário de facilitar e promover as liberdades humanas, acabam por criar-lhes obstáculos. Isto pode ser tanto ruim como bom dependendo dos efeitos que causa: os protestantes, por exemplo, são religiosamente estimulados a trabalhar muito ao mesmo tempo em que se mostram moderados no consumo. Ao pouparem, acabam por criar condições para o desenvolvimento do capitalismo. Só poupança, contudo, não seria suficiente para a economia avançar. É preciso consumo, e isto só pode acontecer quando os “vícios privados” a que se refere Mandeville e a ambição daqueles que provêm o jantar do “Homo economicus” de Adam Smith funcionar como engrenagens dessa máquina em movimento...


Edson Pinto

Março’ 2014 

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Quem nunca se deu conta de que quase tudo que fazemos gira em torno de fatos econômicos?

Houve até quem dissesse, como Karl Marx, que a história das sociedades ao longo de toda a existência humana resume-se às lutas de classes, referindo-se ao permanente conflito na esfera do poder político/econômico.

Meu texto desta semana é um pequeno ensaio sobre nosso papel neste imbróglio monumental. Com o título, “SOMOS ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA EM MOVIMENTO”, procuro refletir sobre papel que desempenhamos na sociedade naquilo que diz respeito ao que fazemos e como fazemos.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto