Quando o empresário e inventor,
Steve Jobs, criador da Apple, a gigante da informática, poucos meses antes deixar
este mundo em 2011 mencionou em seu famoso discurso na Universidade de Stanford
que a “morte é muito provavelmente a principal invenção da vida, pois ela é o
agente de mudança que limpa o velho e abre o caminho para o novo”, ele estava
tocando na essência da existência humana:
O filósofo grego, Heráclito
(século V a.C.), já tinha nos legado o pensamento de que tudo no mundo tende a
se transformar, recíproca e eternamente, em seus opostos tendo como
conseqüência benéfica o equilíbrio do universo. Tudo está em permanente estado
de fluxo, nada é imutável. É dele a famosa frase de que “ninguém se banha duas
vezes no mesmo rio”. O rio de ontem não é o rio de agora, pois a água é sempre
renovada assim como o é o fluxo da vida.
Georg Hegel (1770 – 1831),
filósofo alemão, viu no processo que ele chamou de “dialético” a forma como o
mundo avança. A síntese (conclusão) surge do confronto de uma tese com algo que
lhe é oposto, a antítese. Assim, a síntese se torna em nova tese que logo
encontra nova antítese num processo dialético contínuo que propicia ao nosso
espírito ir ao encontro de um entendimento crescentemente profundo e
aperfeiçoado. Voltando ao discurso de Steve
Jobs, é a morte que ao abrir o caminho para o novo, tal qual a água do rio no
fluxo de Heráclito, também se reinventa e prossegue.
Para chegar aonde pretendo, sinto
ser preciso citar dois outros pensadores: O primeiro é também alemão, Karl Marx
(século XIX), que a partir da constatação de que o capitalismo avançava de
crise em crise com efeito destruidor sobre as forças produtivas, concebeu um
sistema que objetivava eliminar essas inconstâncias via a abolição da
propriedade privada e a substituição da classe burguesa então dominante pelo
comando de uma nova classe, o proletariado. O comunismo, como é sabido, deu no
que deu, porém o âmago da questão relativo ao permanente estado de
desequilíbrio social e econômico continuou incólume.
O último pensador que quero
mencionar é o austríaco Joseph Schumpeter (1883 – 1950). Mostrou-nos que na
busca da sobrevivência os detentores do capital buscam novos mercados para
garantir a continuidade de seus lucros. Essa busca por novos mercados requer
criatividade e inovação, essência do empreendedor de sucesso. No momento em que
o capital com as sua inovação identifica novos e prósperos mercados, o ambiente
econômico anterior é impiedosamente destruído. Neste ponto, podemos dizer que há,
sim, a morte do velho e a criação do novo. Tal qual na dialética de Hegel,
ocorre uma síntese e a vida avança...
Juntando todos esses pensamentos
podemos ter um entendimento melhor do papel do governo que elegemos para que, em
nosso nome, execute o contrato social na busca do progresso e da harmonia de
nossa sociedade. Começo com uma pergunta singela: O estado deveria intervir com
tanta força e freqüência na economia para tentar eliminar os efeitos das crises
recorrentes a que o capitalismo de tempos em tempos se submete?
Penso que não, porque entendo que
as os desajustes econômicos que podem até mesmo resultar em recessão são os
motores que impulsionam o capitalismo para novo avanço. Aqui está a morte do
velho com a sua substituição pelo novo. A isso se determinou chamar de
“destruição criativa”. O lucro - quer falemos de empresas no sistema
capitalista, quer falemos de ganhos sociais - está na ponta das aspirações
humanas. É inovando que avançamos. São necessárias inúmeras respostas criativas
às dificuldades que surgem. Insistir na manutenção do velho é condenar-se à
morte sem qualquer perspectiva de ressurreição.
Vejam o que o mundo da informática
tem feito com os produtos, serviços e mercados antigos! Nada do que é hoje era
exatamente igual a um par de décadas, se tanto. Empresas que se descuidaram,
mesmo sendo líderes em seus mercados, acabaram por perder posições e até mesmo tiveram
que amputar partes importantes de seus negócios para não perderem a vida por
completo. O governo, quando entra protegendo bancos, indústrias locais e
mercados de várias naturezas cria redomas protecionistas que não se sustentam
ao longo do tempo, principalmente porque a predominância das novas tecnologias
e da globalização é inexorável. Criar ambiente econômico favorável e proteger
contratos são a essência do estado moderno. Mais do que isto é incorrer nos
erros de sempre.
Tal qual um empresário obtuso que
não consegue ver a importância da destruição criativa, um governo retrógrado e
acomodado também sucumbirá à morte sem o conforto da ressurreição. O
capitalista sem visão é punido pela destruição de seu negócio e os governos
míopes são punidos nas urnas pela perda de votos... Há sempre uma solução!
Edson Pinto
Março’2014
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Nada é definitivo! Já repararam?
A vida é um fluxo que obrigatoriamente renova a tudo e a todos...
Você se banharia duas vezes no mesmo rio?
O filosofo grego, Heráclito, disse que não...
Como eu concordo com ele, escrevi nesta semana um pequeno ensaio com o título “DESTRUIÇÃO CRIATIVA”.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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