Bernard Mandeville foi um
filósofo holandês que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Era também médico,
economista político e acima de tudo um ferino satirista. Na verdade, sua
filosofia foi tomada como sendo falsa e cínica por enaltecer a importância do
que ele chamou de “vícios privados” como motor do progresso da humanidade. Claro!
Todo o pensamento filosófico ao longo de milênios sempre enalteceu as virtudes
humanas e agora aparecia esse louco para dizer exatamente o contrário. Calma!
Antes de julgá-lo vamos procurar saber mais profundamente o que ele realmente
quis dizer.
A obra mais notória de Mandeville
foi a “Fábula das Abelhas” de 1729. Nela ele fala das abelhas que
repentinamente tornaram-se virtuosas, abençoada que foram pela dedicação
incansável ao trabalho, pela felicidade com que levavam a sua tarefa árdua e
pela sua honestidade. Fizeram, portanto, por merecer uma vida tranquila, sem
trabalho, em uma árvore exclusiva. Obviamente, por não mais laborar e por terem
abandonado o vício da cobiça e do amor próprio, a sua sociedade fracassou.
Mandeville então satirizou
dizendo que as virtudes morais não passam de mera hipocrisia da elite
governante com o propósito de dominar as classes inferiores. Concluiu dizendo
que é o paradoxo do cultivo dos vícios pessoais que gera o progresso. “Vícios
privados – disse ele - são benefícios públicos”.
Anos mais tarde, Adam Smith, precisamente
em 1776, cravou em “A Riqueza das Nações” aquilo que tem sido considerado o
conceito fundamental da economia: é da ação interesseira, egoísta das pessoas
que a economia é movida. "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro
ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles
em promover seu próprio autointeresse".
O século XX começa com o capitalismo
a todo vapor e com as sociedades tomando uma nova feição que merecia ser
estudada e explicada. Max Weber (1864 – 1920) se ofereceu para fazer isto por
meio de uma nova disciplina, a “Sociologia”. Observou ele que as ações
individuais são moldadas pela experiência e visão de mundo que cada pessoa tem.
Porém, quando elas interagem coletivamente, isto é, dentro da sociedade que
elas mesmas contribuíram para criar, suas ações se tornam complexas e formam um
novo entendimento da vida que deixa de ser individual e passa a ser coletivo. Aqui
surgem as religiões e os sistemas políticos, por exemplo.
A conseqüência quase inevitável
da criação dessas novas estruturas coletivas é que elas, ao contrário de facilitar
e promover as liberdades humanas, acabam por criar-lhes obstáculos. Isto pode
ser tanto ruim como bom dependendo dos efeitos que causa: os protestantes, por
exemplo, são religiosamente estimulados a trabalhar muito ao mesmo tempo em que
se mostram moderados no consumo. Ao pouparem, acabam por criar condições para o
desenvolvimento do capitalismo. Só poupança, contudo, não seria suficiente para
a economia avançar. É preciso consumo, e isto só pode acontecer quando os
“vícios privados” a que se refere Mandeville e a ambição daqueles que provêm o
jantar do “Homo economicus” de Adam Smith funcionar como engrenagens dessa
máquina em movimento...
Edson Pinto
Março’ 2014
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Quem nunca se deu conta de que quase tudo que fazemos gira em torno de fatos econômicos?
Houve até quem dissesse, como Karl Marx, que a história das sociedades ao longo de toda a existência humana resume-se às lutas de classes, referindo-se ao permanente conflito na esfera do poder político/econômico.
Meu texto desta semana é um pequeno ensaio sobre nosso papel neste imbróglio monumental. Com o título, “SOMOS ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA EM MOVIMENTO”, procuro refletir sobre papel que desempenhamos na sociedade naquilo que diz respeito ao que fazemos e como fazemos.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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