Quem nunca ouviu a expressão
título deste texto em suas múltiplas versões, como: suavidade nos modos,
firmeza no trato das coisas; modos gentis, espírito firme; endurecer sem,
contudo perder a ternura; gentileza gera gentileza, entre outras?
Se em matéria de relacionamento
humano existem muitas outras receitas úteis que mereceriam ser observadas, esta
simbolizada na expressão aqui mencionada, pelo menos sob a minha restrita
experiência de vida, é a que considero como sendo - se não a mais - certamente
uma das mais importantes. Por isso, contando com a “gentileza” de meus amigos
permito-me submetê-la a uma pequena análise. Começo, então por decompô-la em suas
duas partes fundamentais:
Primeiro: Suaviter in modo,
ou seja, “suavidade no modo, na maneira” relaciona-se diretamente com a forma pela
qual podemos nos expressar e agir, especialmente quando travamos um diálogo ou
damos uma ordem quer a um empregado, a um filho ou a quaisquer outras pessoas
com as quais a vida social nos obriga interagir. Há pessoas que são
extremamente educadas e com isso granjeiam muita simpatia mesmo quando os temas
que transmitem careçam da consistência ou mesmo faltam ou omitam a verdade em
sua extensão plena.
Há, por outro lado, pessoas que
são ríspidas, coléricas e que atingem as raias da brusquidão e da grosseria
quando interagem. Dão ordens ou tentam
impor sem a menor e necessária atenção ao que se convencionou chamar de “boas
maneiras”. Esses tipos, ao contrário dos primeiros, apresentam um potencial
enorme para despertar na outra parte o ódio, a má vontade, o desrespeito e, no
extremo, o revide, mesmo quando o conteúdo de suas falas é verdadeiro e
consistente.
Segundo: Fortiter in res,
ou seja, “firmeza nas coisas” relaciona-se à consistência e aos propósitos
nobres daquilo que se comunica, ou da ordem que se dá. Não só a firmeza da
ordem ou do argumento que se quer transmitir, mas a segurança e determinação
para que tal ordem - se for o caso - aconteça, ou tal ideia - também se for o
caso - seja assimilada com proveito. Isso há de se revestir da perseverança e
tenacidade adequadas. Sem firmeza no que se transmite corre-se o risco de se
colher o fruto da indolência ou da dificuldade de compreensão da outra parte.
Nestes casos, a gentileza empregada não foi o suficiente para fazer com que as
coisas acontecessem.
Bem, todos nós sabemos
diferenciar uma pessoa gentil de uma pessoa grosseira. Também sabemos
identificar uma intervenção proveitosa, inteligível, exequível e firme de outra
que resulta em nada. Fácil entender que o ideal seria unir gentileza com
firmeza de espírito para que tudo ocorresse da maneira mais adequada. De que
vale ser gentil se não se é firme no propósito. Isto redundará em nada. Também,
de que vale ser rude e grosseiro para se tentar conseguir algo se tal pode não
ocorrer, ou se ocorrer, isso se dará só por conta da fraqueza, da timidez ou da
covardia da outra parte?
Aquele que, de maneira grosseira,
trata o garçom que lhe serve no restaurante só porque este não entendeu uma de
suas arrogantes ordens pode até lograr ter a sua taça de vinho servida com o
capricho e mesuras que seu espírito fútil exige, mas com toda certeza angariará
antipatia e menosprezo não só do humilhado servidor como até mesmo de outras
pessoas que assistam a cena. Pode não ser nada naquele momento para o
arrogante, mas na extensão de sua vida aquele falta de gentileza que
caracteriza o seu comportamento padrão encontrará em algum momento e em outras
circunstâncias a devida desaprovação e suas consequencias.
O homem verdadeiramente sábio é
aquele que é capaz de unir as duas coisas: a gentileza no trato com seu semelhante
e a firmeza de espírito para saber se comunicar e disso conseguir obter o seu
intento. Se tivermos por força de determinado cargo de autoridade ou de uma
posição social mais elevada devemos ter em mente que se emitirmos ordens com
gentileza elas, com grande probabilidade, serão atendidas a tempo, com
qualidade e de força reciprocamente gentil. Quando, ao contrário, se essas
ordens forem somente revestidas de firmeza, mas desprovidas de gentileza, o que
devemos esperar é a má vontade e o desleixo.
Se nos confrontamos com a
situação em que pedir um favor é uma necessidade ou mesmo quando pleiteamos,
por direito, uma atenção ou o cumprimento de uma obrigação de outrem, devemos
lembrar que a gentileza e a firmeza do propósito são os elementos fundamentais
para o sucesso. Não é porque se está na posição de ser servido que a gentileza
pode ser dispensada. Somos pela natureza humana todos iguais. O que nos diferem
esporadicamente são os papeis que assumimos nesta vida transitória e curta. O
respeito ao semelhante resgata a necessária consciência que devemos ter sobre a
origem e o fim comuns que temos na vida.
Infelizmente, o que temos visto é
que existe muito descasamento entre os dois pontos que analisei. Boa parte das
pessoas é formada por pessoas gentis no trato mais não são firmes nas coisas,
nos propósitos, no espírito. Outra boa parte é formada por pessoas que são firmes,
duras e resolutas, mas negligencia os bons modos da gentileza. O desafio e,
portanto, o que seria sábio de se fazer é exatamente conseguir a união desses
dois aspectos do relacionamento humano em prol do sucesso das relações
interpessoais. Nem sempre é fácil, devido às circunstâncias, mas seria pura
sabedoria se soubéssemos exercitar e praticar a gentileza no trato associado à firmeza
nos nossos propósitos, ou:
Suaviter in modo, fortiter in res...
Edson Pinto
Abril’2014
2 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Embora nem sempre consiga - confesso - tenho, ao longo da minha vida, tentado seguir o que o título do meu texto desta semana sugere.
Acho, até mesmo, que as relações humanas seriam muito mais efetivas, produtivas e calorosas se este preceito fosse tomado como procedimento geral.
Leiam SUAVITER IN MODO, FORTITER IN RES que já se encontra publicado no meu blog.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
Uma vez mais você nos brinda com uma excelente narrativa onde o princípio básico da educação esta ligado fortemente a GENTILEZA e a FIRMEZA um binômio que bem trabalhado resulta no sucesso das relações interpessoais. Parabéns e continue nos brindando com essas reflexões. um grande abraço do JB.
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