Podemos inocentemente imaginar
que todos os fatos que ocorrem nas nossas vidas e mesmo na sociedade em que nos
inserimos são adequada e fidedignamente registrados e com isso passam a ser
considerados como história. Correto? Não! Isso nem sempre acontece. A verdade
absoluta dos fatos pode ser manipulada, distorcida ou até mesmo negada para
vários propósitos:
O primeiro deles é o de servir
como justificativa para uma ação política especifica. Segue-se outro propósito que
pode ser o de servir para que a sua revelação integral se dê em um momento mais
apropriado e com isso se evite problemas maiores no presente. Em nível pessoal
é a mentirinha que no momento mais ajuda do que atrapalha. Não se descarta ainda
a possibilidade de serem politicamente distorcidos para uso em momentos
críticos, como numa eleição. O mais deplorável de seus usos é, contudo, o de
deliberadamente se tentar reinterpretar a história com o escuso objetivo de
beneficiar personalidades e/ou partidos políticos.
Já em 1882 o historiador de
nacionalidade francesa, Ernest Renan, havia externado seu pensamento de que a
identidade nacional é formada pela memória, seletivamente distorcida, de fatos
pretéritos. Há uma verdade coletiva que tende a se sobrepor à verdade factual,
já dizia Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão, em sua obra de grande relevância,
“Verdade e Método”, 1960. Mas foi - pelo menos para mim - a judia alemã, Hannah
Arendt, em seu livro “Verdade e Política”, 1967, quem melhor abordou o tema ao
escrever que todo fato de conhecimento geral, já devidamente consolidado, pode
ainda assim ser negado ou distorcido.
Dois nomes luminares devem ser
mencionados para sustentar a tese deste meu texto: O recém-falecido historiador
inglês, Eric Hobsbawm (1917 – 2012), legou-nos, textualmente: “nenhum
historiador sério pode ser nacionalista político comprometido”. Nesta linha de pensamento, há ainda o seu
conterrâneo, David Miller, filósofo, que nos mostrou que os mitos se prestam ao
valioso objetivo de integração social mesmo que saibamos não serem a expressão
da verdade.
Portanto, amigos, o que se ouve e
o que se tem como verdade quando expressado por políticos, principalmente, pode
– e na maioria das vezes, de fato, não é – a verdade que a história deveria ter
registrado. Esquecem ou ignoram a verdade e abraçam o mito, pois este se mostra
de maior utilidade. Mas, como sabemos, o mito se antagoniza ao pensamento
científico e lógico. O mito é revestido de simbologia e tem o papel
preponderante de fazer a cabeça dos puros e incautos. Estamos cheios de
exemplos de líderes mitômanos. No fundo, aqueles que se aferram aos mitos
carregam o mal da mentira e com ele convive como se fossem verdadeiros os
argumentos e as versões dos fatos que defendem e sustentam.
As eleições majoritárias já se
avizinham e os mitômanos de sempre já começam a distorcer a verdade dos fatos
para incutir na cabeça do eleitor desavisado as suas próprias “verdades”. O
famoso “nunca antes na história deste País” poderia ser tomado como símbolo da
distorção da verdade para fins políticos. De aplicação genérica, ele já serviu
e ainda serve para convencer gente pura de que tudo o que não funciona agora é
fruto de uma chamada “herança maldita” e que tudo o que de bom acontece foi
gerado por este governo e por este partido. Na verdade, item a item das
conquistas históricas do País vêm sendo destruídas sistematicamente: Mas, o
discurso continua sendo a expressão da mitomania que assola o governo. Vejam três
exemplos e comparemos o mito com a realidade:
MITO 1: A Economia do País vai muito
bem. Somos um país às vésperas de nos tornar potência mundial entre os
estrelados de sempre.
VERDADE: O PIB nestes quase 4 anos de governo Dilma tem sido
decepcionante. Em 2014 crescerá a taxa inferior a 1%. Um rotundo fracasso, pois
vem bem abaixo dos índices alcançados pelo conjunto dos países em
desenvolvimento, incluindo latino-americanos. O tripé de sustentação da nova
ordem econômica representado pela ancora cambial, abertura econômica e base
monetária rígida já foi para o beleléu e, no entanto, perdoamos dividas de
outras nações e construímos um porto em Cuba quando a nossa infraestrutura
segue capenga e a inflação recrudesce.
MITO 2: Cerca de quarenta
milhões de brasileiros ascenderam à classe média e o índice de desenvolvimento
humano elevou-se. A miséria foi erradicada e atingimos nível de qualidade de
vida próximo ao das nações desenvolvidas do chamado primeiro mundo.
VERDADE: Divulgado, nesta
semana, pela ONU, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mostrando que
evoluímos apenas uma posição no último ano. Demos um pulinho dos 80% para o 79%
lugar entre 173 nações e mesmo assim ficamos abaixo da média dos países latinos
americanos, muitos deles beneficiados com ajuda generosa dos contribuintes
brasileiros. Estamos abaixo, entre outros, de Cuba, Argentina, Uruguai, Chile,
México e até da Venezuela.
MITO 3: Somos hoje, além de potência
econômica, também potência política do mundo. Estamos a caminho de assumir
lideranças até agora reservado aos países desenvolvidos. Somos fortes, respeitados
e até mesmo invejados.
VERDADE: Caminhamos para perder
a posição de 7ª posição econômica em valores absolutos, pois outros países já
se recuperam e estão prestes a nos superar. Em termos de PIB per capita, nossa
posição é por volta dos 65% lugar. Em matéria de relações internacionais,
acabamos de ser taxados como “um anão diplomático” derrubando com isso o
orgulho que sempre tivemos da nossa política externa que vem desde o Barão do
Rio Branco passando por Rui Barbosa e outros próceres. É uma mancada após
outra: Apoiamos países, governantes e teses erradas. Já viramos piada de salão
mundo a fora. Nem mais futebol de qualidade nós temos mais para usar em
contraposição.
Como dizem Brasil afora: “Tá danado”...
Edson Pinto
Agosto’ 2014
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Eleições majoritárias de outubro já começam a dar o tom do que vem por aí: Promessas, desculpas, planos mirabolantes, e muita mentira.
Aqueles que não estão ligados nos fatos reais formam a massa de manobra dos políticos mal-intencionados.
Fiquemos, portanto, de olhos bem abertos e agucemos o nosso, às vezes, meio sonolento senso crítico.
Por conta dessa reflexão que fiz sobre o tema, acabei por escrever a crônica “MITO E VERDADE”. Ela é fruto da constatação de que o que parece pode não ser a verdade, e o que realmente é, pode até ser verdade, mas mostrado de forma diferente, convenientemente manipulada...
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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