Sempre que assisto a uma partida de
futebol do meu querido Atlético Mineiro, o Galo, percebo que há muito mais
gente em campo do que os 22 que a televisão insiste em mostrar. Há também os
medos, as expectativas, as promessas feitas no vestiário, os santos de devoção,
os traumas de infância, as cobranças de salário atrasado e, sobretudo, aquele
personagem que ninguém vê, mas que decide tudo que é a psicologia. Sim, ela
mesma. Sorrateira, silenciosa e, na maior parte do tempo, muito mais veloz do
que os alas e os volantes.
E é por isso que, às vezes, o time cheio de craques perde para o time “arrumadinho”, que a imprensa descreve com aquele ar paternalista de quem fala de um sobrinho esforçado. Craque demais entra em campo com peso. Peso de salário, peso de manchete, peso de expectativa. Joga com uma mala imaginária nas costas e nem sempre é mala leve. Já o limitado joga leve porque, francamente, ninguém espera muita coisa dele. E quando ninguém espera, tudo o que acontece vira surpresa, e surpresa é combustível psicológico de primeira.
A torcida, coitada, não sabe o poder
que tem. Ou sabe e exagera. Porque, quando o time está bem, ela empurra. Mas
quando está mal, ela empurra… para o abismo. Torcida é como família, ama, mas
exige. Grita, mas apoia. Cobra, mas abraça. E às vezes basta um resmungo vindo
da arquibancada para um zagueiro que estava em paz descobrir que possui a rara
capacidade de tropeçar em si mesmo.
Mas, claro, não se pode esquecer da
sorte. Ela é o cronista malandro do futebol, desses que chegam no último
parágrafo para virar a história. A bola bate na trave, pega no zagueiro, volta
no goleiro e entra. Pronto! Já temos tese de doutorado sobre “as contingências
metafísicas do chute despretensioso”. O acaso gosta de participar do jogo, nem
que seja só para provar que nenhuma planilha prevê o imponderável. Nem Carlo
Ancelotti, nem Jorge Sampaoli escapam.
Agora, o que realmente me fascina, e
aí entro no meu território filosófico favorito, são as condições internas do
clube. Certa vez pensei que time de futebol fosse apenas grupo de jogadores.
Ingenuidade minha. O time leva para o campo a temperatura da diretoria, o humor
do treinador, a fofoca da semana, a conta de luz atrasada, o jantar mal dormido
e até a discussão conjugal do lateral, que entrou em campo com a alma em
atraso. Tudo isso joga. E, às vezes, joga contra.
E, no entanto, como acontece conosco,
há momentos em que um time inteiro resolve acreditar que pode. Não que tenha
obrigação, mas que pode. E aí acontece aquele fenômeno bonito que não está nos
livros de psicologia, ou seja, o gol invisível. É o gol feito antes da bola
rolar, marcado na conversa, no silêncio, no aperto de mão, na respiração funda.
Um gol que nasce no espírito e só depois se materializa na rede, quando o corpo
finalmente entende o recado.
No fim das contas, ou melhor, no fim
da partida, o futebol é um resumo da existência. Ganha não quem tem mais
qualidades, mas quem, no instante crítico, acredita mais profundamente que
merece vencer. E é por isso que, de vez em quando, Davi acerta uma pedrada em
Golias e o VAR, por mais moderno que seja, não consegue anular aquilo que a
alma decidiu marcar.
Porque, eu diria, sem medo de errar,
que, no futebol, como na vida, o gol mais importante é aquele que ninguém viu,
mas que já estava decidido lá dentro, naquele território misterioso onde moram
a motivação, a crença e o acaso. Todos sem esquema tático perfeito, sem
técnico, sem planilha, mas com uma vontade danada de surpreender.
Espero que amanhã, sábado, 22/11/2025,
em Assunção, no Paraguai, o meu galo entre em campo com gol invisíveis já
marcados e que adicione alguns gols visíveis para a dele e nossa glória.
Edson
Pinto
Novembro,
2025

2 comentários:
👏👏👏👏 Aqui é galo!
Boa Sorte, para seu Galo amanhã!
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