A pedra tosca desprende-se da montanha crua e rola até estacionar-se inerte bem na borda do poço. Olha para um lado, olha para o outro, e não tendo mais o que fazer deixa-se cair sem se dar prévia conta do que lhe reserva o fim da jornada.
Bate de cá, bate de lá, e não pára de rolar. Só lhe faz sentido notar que, quanto mais caía, mais escuro ficava. Quanto mais ao fundo ia, mais não sabia o que encontrar; nem uma luzinha de esperança, muito menos uma mãozinha, que julgasse ao menos amiga, para lhe amparar.
E rola tanto e tanto se esfola que as suas arestas vão gradativamente sendo aparadas. As partes frágeis e inúteis de sua capa ilusória se desprendem nos solavancos de seu infindo rolar.
E mais rola e mais rala e mais se arredonda até ficar reduzida a sua essência: um núcleo sólido, brilhante, polido, tão puro como um quartzo, tão vistoso como um rubi, tão fascinante como uma esmeralda e duro, resistente, como um diamante. Ela mesma se espanta. Jamais imaginara a si mesma tendo sido feita de matéria tão vistosa.
E não tendo mais para onde rolar, mergulha plácida na água fresca e pura do fundo do poço. E ela que tanto temia estar indo de encontro ao fogo do inferno, só então percebe o quanto valera a pena tanto rolar. Da bruta pedra que hesitante na borda do poço penara ao decidir deixar-se sofrer nas quedas livres ao ar, agora, via contente, uma reluzente pedra preciosa acabara de se revelar.
E como uma mágica, sem explicação, sem a lógica dos formais, sem a ajuda de mãos dos mortais, percebe o fundo do poço abrir-se numa cachoeira resplendorosa a lhe revelar um novo e maravilhoso mundo.
Agora, sim, pronta para ser descoberta e nunca mais deixar de brilhar.
Edson Pinto
postado em 11/07/08
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