13 de ago. de 2008

39) UM COMPORTAMENTO OLÍMPICO (agosto'08)



Duas condutas independentes em suas essências, porém interligadas por um elemento de cunho psicológico maior e comum, vêm chamando minha atenção nessa última semana. Não gostaria, ipso facto, de deixar que o tempo as apagasse de minha memória antes que eu manifestasse modesta opinião sobre elas.

Observem um detalhe na primeira foto acima: Para aqueles que têm acompanhado o desenrolar das eleições americanas, já devem ter notado que, à parte o fato do Democrata Barack Hussein Obama Jr. representar a juventude, a mudança na direção do novo, a vitória da igualdade sobre ultrapassados preconceitos e, com oportuna competência, ter demonstrado sua habilidade em agregar séqüitos de todos os matizes na variada formação étnico-social americana, ele tem – queiram ou não - certo ar de arrogância.

A cabeça de Obama apresenta-se sempre erguida em excesso, o que para Pierre Weil e Rolan Tompakow em seu importante livro “O Corpo Fala”, Editora Vozes, interpreta como sendo uma prejudicial hipertrofia do controle mental de quem assim se porta. Já, o Republicano John Sidney McCain III, reconhecido herói de guerra, tem sempre a cabeça na posição normal o que sugere um controle adequadamente regular de sua mente.

Aí vem as Olimpíadas da China: Vimos pela TV e certamente os americanos mais ainda, a figura – isto ninguém pode negar – simpática, descontraída, diria, até mesmo humilde e popular de um Bush, hoje um presidente capenga, agitando a bandeirinha americana, tirando fotos com atletas de vários países e torcendo como um simples mortal nas arquibancadas dos belíssimos ginásios de esportes da remoçada Pequim.

Os americanos, com justa razão, adoram os esportes em geral, especialmente quando isso se dá nos palcos iluminados de um evento grandioso como os de uma Olimpíada. Nesse momento mágico e de plena exuberância, seus atletas de primeiríssima linha simbolizam a supremacia da grande e poderosa nação tal qual sonharam George Washington e os outros fundadores da pátria.

Ao mesmo tempo, Michael Phelps, o admirável nadador americano, recordista histórico em número de medalhas, um jovem com aparência de sujeito simples, também muito simpático, vibra à borda da piscina, bem no nosso mais puro estilo latino. Incentiva os seus companheiros com a humildade de quem pode, tal como os demais mortais, também perder.

As outrora arrogantes figuras do basquetebol americano, o chamado “Dream Team” agora está sendo representado por um novo ícone, um campeão de simpatia, Kobe Bryant. Dá entrevista a todos que lhe acercam, cita nome de atletas de outros países (inclusive falou que admira o nosso Ronaldinho), assiste a jogos de vôlei de praia e distribui tantos sorrisos como autógrafos.

Temos - é certo - que esperar até o fim das olimpíadas para a confirmação dessa minha suspeita de que a nação inventora do Marketing segue implementando um bem elaborado projeto para melhoria, tanto externa como interna, de sua imagem. “Por prudência, é melhor” - me lembra um de meus filhos – “esperarmos a entrada em cena da turma do atletismo americano”. Aquela plêiade de estrelas fenomenais, recheada de egos excêntricos, de "pavonismo" pitoresco com suas sapatilhas douradas e queixos apontados para o céu a sustentarem a maléfica hybris, arrogância suprema de quem, por vencer tanto e de modo tão convincente, com o tempo passa a menosprezar seus adversários.

Sempre gostei de ver as coisas pelo lado bom que elas têm. Por isso, estou convencido de que a “Inteligentsia” americana, seu núcleo pensante de alto nível, deve ter diagnosticado que a imagem de arrogância ostentada por tanto tempo por sua nação já havia causado desgastes demais mundo afora e até mesmo dentro de sua própria hoste.

Concertaram, imagino eu, uma estratégia para mostrarem ao mundo e à dissidência interna americana que o país precisava ser visto de forma diferente. Uma nova imagem que transmitisse simpatia e um pouco de humildade. Não querem mais perder outra janela de sorte para terem o mundo ao seu lado como fizeram no doloroso pós 11 de setembro, momento em que a humanidade, quase em peso, lhes disponibilizou o ombro amigo da solidariedade.

Que bem nos tem feito a globalização das últimas décadas! Não tivesse o mundo além fronteiras americanas, buscado o seu crescimento e com isso gerado novas e poderosas economias a fazerem frente ao seu inexpugnável domínio, continuaríamos gravitando em torno da estrela de primeira grandeza mal comandada pelo Bush mais desajustado da família.

E vejam a bela e rápida resposta dada àqueles que imaginavam que o fim da União Soviética, até então bipolarizado com os Estados Unidos, nos levaria à monopolização comandada pela única superpotência remanescente. O mundo agora se mostra mais e mais multipolar, por isso a América precisa ser mais humilde, mais compreensiva, menos petulante...

E Obama com isso? Sua cabeça excessivamente erguida, infelizmente, tem muita semelhança com uma América arrogante que nem os próprios americanos querem ver mais. O problema de quem vai comandar os Estados Unidos a partir do próximo pleito é um problema nitidamente do povo americano, mas, daqui debaixo da linha do equador e vendo o que vejo, me arrisco a prever que John McCain, Republicano como George W. Bush, mesmo em desvantagem nas pesquisas, vai sentar-se no salão oval da Casa Branca a partir de janeiro do próximo ano.

Uma América mais humilde, menos belicosa, mais progressista, mais fraterna, menos arrogante e mais simpática, é tudo o que o mundo quer e precisa.

Podiam, muito bem, me convidar para a posse de McCain...


Edson Pinto
13/08/08

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