“Aparentemente, nada é mais difícil de
suportar, para o homem comum, do que o sentimento de não se identificar com o
grupo” (Erich Fromm).
No meu texto recente, “260) Parteiros do Próprio Nascimento”,
terminei falando da necessidade que o ser humano tem de se relacionar com
outros. Podemos – em princípio – ver nisso uma aparente contradição, pois o
homem, após enorme esforço para descobrir o propósito de sua vida e assim
superar o seu sentimento de alienação ao mundo, vê-se diante da necessidade –
não raro – de se submeter ao jugo das normas e valores de um grupo ou de outrem
para tão somente ser aceito. E a sua autodefinição? Suas singularidades? Suas
habilidades e sua particular maneira de ver a vida que em suma o torna um
individuo?
Mas, se considerarmos que é
preciso abandonar o estado de solidão que a vida individualizada nos impõe para
podermos ser aceitos, existe então um caminho seguro para que isso aconteça: Este
caminho é o amor! Para o autor da frase que abre este texto, Erich Fromm, amar
é uma capacidade inata que, no entanto, requer permanente exercício prático para
que as relações interpessoais sejam produtivas. Vale tanto para o
relacionamento com os grupos distintos com os quais nos deparamos durante a
vida como com a relação entre pessoas. Amar no sentido pessoal implica na
compreensão de alguns fundamentos:
O primeiro e o mais genérico de
todos seria o respeito mútuo pelas duas partes sobre as respectivas
características individuais. O amor verdadeiro não abre mão da autonomia
individual de cada um, pelo contrário, as respeita. Tentar fazer das duas
personalidades que busca entre si o amor, uma só, é no mínimo um grande erro.
Impossível encontrar o verdadeiro amor quando uma das partes tenta fazer com
que a outra se encaixe perfeitamente ao seu próprio molde.
A única e real forma de amar é quando
se respeita as diferenças de opiniões, de crenças, de comportamentos e até
mesmo das escolhas individuais do outro. Como diz Erich Fromm: “amor é a união
com alguém ou alguma coisa exterior a si sob a condição de se manter a
separação e a integridade do individuo”. Muitas pessoas imaginam-se amando
quando na verdade nada mais fazem do que submeterem-se ao conformismo de uma
nova conduta que contraria o seu próprio “eu” tão arduamente conquistado quando
do autoentendimento da vida. Muitos dizem abertamente: “eu te amo”, sem saber
que o que efetivamente estão expressando é algo como “você me pertence”; “eu me
vejo em você”, ou expressam sentimentos do gênero.
Esse cego e distorcido desejo por
uma existência única na qual dois seres hão de se tornar uma só personalidade
implica em que as particularidades de um se sobreponha às do outro. Algo assemelhado
a como se olhar no espelho e se ver na imagem do outro, ou vice versa. Outro
grande engano é comumente cometido por aqueles que investem na modelagem de uma
maneira especial de ser com a qual acreditam serem mais facilmente aceitos,
desejados e amados. O importante para ser feliz é a manutenção firme daquilo
que cada um já se convenceu previamente como sendo a maneira mais correta de
interpretar o mundo e a vida. Não que mudanças de pensamentos não possam ser
feitas, mas que sejam mudanças autênticas e não apenas para satisfação do
intento de ser amado.
Há ainda fundamentos adicionais
que alicerçam o relacionamento e o tornam duradouro: Há de se ter cuidado, pois
quem ama cuida e não abandona o objeto do amor. Amar é proteger como é também
ter responsabilidade para com o outro. Quem, na adolescência, nunca teve a
leitura, quase obrigatória, de Antoine de Sant-Exupéry em que ele nos ensinou
aquela verdade tão simples de que nos tornamos eternamente responsáveis por
aquilo que cativamos? Quantas pessoas brincam com os sentimentos alheios.
Provocam-nos, aguçam-nos e depois os desprezam como se nada tivesse acontecido.
E por que não procurar conhecer o mais profundamente possível o forma de ser,
de pensar, de agir, os desejos, sonhos e as necessidades do outro? Sem isso,
amar pode ser uma aventura no escuro sujeita ao fracasso.
Por fim, um alerta àqueles que só
consideram ser objeto do amor dos outros e desprezam a necessidade de retribuir
sendo também amorosos: Cuidado com o egoísmo! Amor não é uma relação comercial
em que se procura obter lucro dando-se pouco e ganhando-se muito. A felicidade
verdadeira depende, primeiro, do sentido que se dá a própria vida e, segundo, da capacidade que se tem de relacionar-se com
equilíbrio exigindo respeito à própria individualidade, mas respeitando
reciprocamente a individualidade do outro. Com equilíbrio, compreensão,
cuidado, responsabilidade e respeito o amor faz da vida uma transição feliz.
Edson Pinto
Abril’ 2014
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Nesta semana, conforme prometido a alguns seguidores do meu blog, faço uma reflexão sobre o que entendo por amor responsável.
Como “amor” é um tema atemporal, amplo, mas muitas vezes controverso, penso que qualquer abordagem sobre ele vale à pena.
Vejam se gostam do texto AMOR RESPONSÁVEL que publico hoje.
Boa final de semana a todos!
Edson Pinto
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