13 de ago. de 2006

3) MINHA MINAS AMARELA (agosto'06)

Os cientistas com sua frieza lógica decidiram chamá-la Tabebuia. Pode ter o sobrenome de Chrysotricha se for aquela menor, típica do cerrado, ou Serratifolia, de maior porte e nativa da nossa quase extinta Mata Atlântica.

Quando menino, ouvi chamá-la de Pau d’arco. Basta-me, contudo, vê-la com o popular e carinhoso nome de Ipê Amarelo. Transporta-me do terrestre ao celeste, escancarando-me todas as janelas do meu imaginário ainda incólume.

Para trás, tinha deixado o burburinho enlouquecido desta nossa metrópole de concreto, aço, muitos decibéis, ar de pouco oxigênio e para completar com o PCC ditando normas e aterrorizando nossos sonhos.

Agora o carro evoluía célere pela estrada que liga o coração da locomotiva econômica do país, São Paulo, ao coração de minhas reminiscências, a Minas Gerais de montanhas ímpares, ferro nas almas como disse Drummond ao recordar Itabira, dos boiadeiros de Guimarães Rosa ou das penhas entre as incultas brenhas da falta de esperança que Alvarenga Peixoto sentiu por não alcançar o sonho de rever a sua Bárbara Bela que lá ficou.

Cada vez que mais me aprofundava no caminho das montanhas, mais o amarelo intenso daquela que a que considero a rainha de todas as árvores se punha à minha frente. Cada qual com a sua beleza exuberante se destacando entre todas as outras espécies que caprichosamente as rodeava. É a natureza nos reproduzindo de forma inequívoca o culto ao belo, tal qual nos rendemos embasbacados à beleza interior de nossos semelhantes. A Tabebuia se nos impõe pela beleza de suas formas suaves e de seu amarelo ouro profundo que, ao contrário do que nos disse Bilac, não tem bruta mina que entre os cascalhos a vele.

Não há momento mais sublime para se lembrar dos amigos. Quando a natureza nos dá o efêmero prazer de gozar de sua generosidade é que pensamos o quanto gostaríamos de ter os nossos amigos juntos, compartilhando conosco daquele momento mágico. Existe algo mais emocionante do que contemplar um Ipê em flor, especialmente se for um amarelo da cor de nossa bandeira?


Não os convidei para ir a Minas comigo. Nem sequer lhes disse que ia para lá, fazer o que ou gozar de que prazer. Penitencio-me por tamanho egoísmo, por tamanha falta de modéstia por lhes falar a todo o momento que nasci entre as montanhas de Minas, onde o leite, o café e o ferro se combinam harmoniosamente para lembrar que mais do que o rótulo de berço da liberdade, Minas é, também, dourada, como os Ipês que lhes presenteio junto a este modesto, mas sincero texto.

Se um dia o coração lhes apertar ao se sentirem incrédulos da vida, que vão até Minas para contemplarem montanhas, liberdade e, se for em agosto, a beleza de um Ipê amarelo.


Edson P. Pinto
(em viagem a Minas no dia 13/8/2006)

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