Há várias formas de se avaliar o crescimento de um país. Os indicadores econômicos e sociais apurados e divulgados por entidades sérias são, evidentemente, os mais confiáveis e os que deveriam servir de fundamentos para nossas lucubrações. Inundam os jornais diários, as revistas semanais, a TV e fazem a festa de quem - para o bem ou para o mal - se utiliza deles. Na banca de revista, diante a tantas cifras e análises não nos resta outra coisa, principalmente para os mais coroas, senão nos lembrar da famosa canção dos anos 60, de Caetano Veloso, no Festival da Record e perguntar: Quem lê tanta notícia?”
O que não nos faltam são estatísticas de tudo, indicadores de desempenho disso, daquilo, IDH, índice de felicidade, PIB, arrecadação tributária, índice de alfabetização, resultados da balança de pagamentos, da balança comercial, taxa de mortalidade infantil, nível de emprego, movimento das bolsas de valores, entrada de capital estrangeiro no País e tantos outros. Os que são bons enchem os governos do momento de orgulho. Os ruins, normalmente, turbinam os argumentos da oposição. E assim a vida segue...
Na posição de simples cidadãos que vivem o cotidiano, às vezes o que mais nos vale é a observação direta, empírica, daquilo que se capta da experiência que a vida nos proporciona. Não é cientifico - eu sei - mas não há como negar que até mesmo as ciências se constroem sobre a observação metódica do que é real, palpável, visível e sensível. É sob este ponto de vista que quero transmitir a avaliação que venho fazendo em anos recentes:
Há quase 40 anos morando entre São Paulo e em outras plagas, vez por outra faço viagens de cunho familiar até Belo Horizonte pela Rodovia Fernão Dias. Quantas vezes, no passado, não amaldiçoei a estrada que era de pista única e perigosa bem como os precários restaurantes de que dispúnhamos em seu percurso. Além disso, condoia-me com a feiúra e pobreza das pequenas cidades que ia apreciando enquanto avançava na mal conservada estrada, única a ligar dois dos mais importantes centros urbanos do País. Não havia outro jeito. Era aquilo ou uma viagem aérea que levava de aeroportos ruins para outros piores. A viagem, como podem imaginar, era um horror. Salvo as maravilhosas montanhas de Minas que sempre estiveram lá, por obra do Criador, tudo o mais que fora feito pelo homem deixava muitíssimo a desejar.
De algum tempo para cá e fazendo a mesma viagem, observo que o cenário mudou muito, e para melhor. A antiga estrada está toda duplicada e privatizada. Há muito mais segurança e conforto. O asfalto tem sido constantemente renovado, restaurantes e postos de serviços bons surgiram quase que por encanto e a paisagem urbana das pequenas cidades que se consegue observar da estrada demonstra progresso nunca antes visto. Normalmente, divido minha viagem em duas partes: Vou até Três Corações que dista exatos trezentos quilômetros de São Paulo, onde tenho parentes, e depois, se for o caso, sigo até Belo Horizonte.
Já deixando São Paulo, logo após Bragança Paulista, entro em Minas tendo a sua primeira cidade, Extrema, como um verdadeiro cartão de visitas. Há um grande parque industrial florescendo à beira da estrada. Empresas recém-instaladas ali com galpões gigantescos que ostentam placas vistosas. A cidade, para quem puder observar à direita, está repleta de bairros novos e construções de bom nível. Prossigo passando por Itapeva, Camanducaia, Cambuí, Pouso Alegre e outras cidades até chegar a Três Corações no entroncamento com a estrada de Varginha.
Tudo o que observo ao redor me parece mais atual. Vejo dinamismo, vejo progresso. Admiro os cafezais verdejantes que antes não existiam, as fazendas salpicadas de gado branquinho, campos de morangos a perder de vista e prédios novos nas cidadezinhas. Penso se não seria melhor apenas casas, tendo tanto terra disponível? Mas, acho que, para aquela gente, morar em prédio deve ser uma questão de ascensão social. Por isso, imagino, lá estão eles cada vez em maior quantidade para confirmar que o Brasil dos rincões também é próspero.
Em Três Corações, por sinal a terra de Pelé que acaba de homenageá-lo com a revitalização de sua casa natal, 72 mil habitantes, sinto-me ainda mais confortável. Do 9º andar do prédio, apartamento de minha mãe, lanço olhar no horizonte e não vejo favelas, não vejo ruas sem pavimentos, não vejo a miséria que era a marca registrada da paisagem urbana brasileira. Carros novos deslizam por ruas bem conservadas, enquanto parques e clubes da cidade acolhem a todos indistintamente. O sino da matriz toca como sempre, o Rio Verde que faz três caprichosos meandros no formato de corações dentro da cidade segue sereno, indiferente à locomotiva que sobre uma de suas pontes apita rouca levando minério, trazendo carvão, levando bobinas de aço de e para o mundo.
Fico pensando: Que bom que já começamos a perceber que o nosso país tem também o seu próprio “destino manifesto”. Sabemos que há ainda muito por ser feito. Estamos distantes dos níveis de qualidade de vida de muitos países, mas devemos reconhecer que, mesmo aos trancos e barrancos, a vida caminha para melhor. É aqui que reside o ponto fundamental da cidadania: Não devemos, como no passado, achar que tudo vai bem e assim placidamente deitarmos no berço esplendido deixando que os velhacos de sempre usurpem as nossas riquezas e as nossas almas. Mesmo que a política continue sendo uma atividade eivada de más condutas, não devemos perder a noção de que ela é essencial.
Quando tivermos completado a faxina que a política nacional necessita, como a do atual julgamento do mensalão e outras tantas que estão na fila, alguém ainda será capaz de duvidar do futuro brilhante nos aguarda?
Vejam que, mesmo com todos os problemas que temos, esta terra abençoada consegue produzir e mostrar o que pode. Vamos continuar andando firmes como nos sugere o comercial de uma famosa marca de bebidas.
Keep walking, Brazil!
Edson Pinto
Novembro’2012
3 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos:
Nós os brasileiros mantemos posições dúbias quanto ao nosso amor-próprio.
Entre nós, somos severos críticos com tudo o que temos e fazemos, mas agimos como raivosos cães de guarda sempre preparados para avançar na jugular de qualquer estrangeiro que fale mal de nosso país. Temos orgulho desta terra e isso é muito bom...
Nesta semana, passado o segundo turno das eleições municipais, resolvi colocar no papel a forma como tenho visto as mudanças que o País tem experimentado desde que, no inicio dos anos 90, começamos a fazer ajustes há muito necessários.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
Caro Edson,
Mais uma vez gostei do teu texto, obrigado.
Quero te dizer que, durante os debates dos candidatos a Prefeito de São Paulo, à parte dos aspectos políticos, fiquei consternado com o negativismo do Fernando Haddad com relação à nossa maravilhosa cidade.
Entendo que ele queria desqualificar o oponente e inimigo Serra, atacando seu ex-companheiro Kassab, mas o seu discurso falava da nossa cidade, que ele diz que também é dele e da qual ele tem orgulho de ter nascido e morar!!??
Disse ele: esta cidade é um caos, seu trânsito, falta tudo nesta cidade, desde iluminação até hospitais e centros de saúde, falta urbanização, ruas, canalizações de córregos, faltam moradias, falta dignidade às pessoas, sem suma a cidade está feia e está muito ruim!!??
Durante estes dias dos debates, procurei observar com mais atenção a nossa cidade e passei a admirá-la ainda mais: é uma cidade linda, está limpa, sem a poluição das placas de publicidade, a marginal foi amplamente alargada, o piso das ruas com bom calçamento (claro que não se compara à qualidade dos pisos da Europa ou do Japão), muitos logradouros públicos com bonito paisagismo, etc, etc...
É claro que há regiões na extrema periferia em que há grandes carências, mas muitas delas causadas pelo próprios moradores que não possuem educação que permita cuidar adequadamente do seu próprio lar e do local onde vive... Já vi em muitos lugares gente vivendo de forma simples, mas tudo limpinho, arrumadinho, com vasos com flores, ninguém joga lixo a poucos metros da sua própria porta, etc... Isso para não falar de gente que invade, tomam de assalto, locais inadequados, insalubres e até de proteção ambiental, onde os governantes nada podem fazer pois a própria lei os proíbe de executar obras de urbanização, etc, etc...
Em fim, o teu texto permitiu-me externar o meu amor pela nossa SAMPA.
Abs, Giba Canto.
Só agora estou me manifestando. A ex. do Sr. Giba Canto, apreciei muitíssimo, causando-me o mesmo efeito positivo, este seu agradável relato. Muito obrigado meu bom amigo. João Paulo
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