3 de abr. de 2014

259) SUAVITER IN MODO, FORTITER IN RES

Quem nunca ouviu a expressão título deste texto em suas múltiplas versões, como: suavidade nos modos, firmeza no trato das coisas; modos gentis, espírito firme; endurecer sem, contudo perder a ternura; gentileza gera gentileza, entre outras?

Se em matéria de relacionamento humano existem muitas outras receitas úteis que mereceriam ser observadas, esta simbolizada na expressão aqui mencionada, pelo menos sob a minha restrita experiência de vida, é a que considero como sendo - se não a mais - certamente uma das mais importantes. Por isso, contando com a “gentileza” de meus amigos permito-me submetê-la a uma pequena análise. Começo, então por decompô-la em suas duas partes fundamentais:

Primeiro: Suaviter in modo, ou seja, “suavidade no modo, na maneira” relaciona-se diretamente com a forma pela qual podemos nos expressar e agir, especialmente quando travamos um diálogo ou damos uma ordem quer a um empregado, a um filho ou a quaisquer outras pessoas com as quais a vida social nos obriga interagir. Há pessoas que são extremamente educadas e com isso granjeiam muita simpatia mesmo quando os temas que transmitem careçam da consistência ou mesmo faltam ou omitam a verdade em sua extensão plena. 

Há, por outro lado, pessoas que são ríspidas, coléricas e que atingem as raias da brusquidão e da grosseria quando interagem.  Dão ordens ou tentam impor sem a menor e necessária atenção ao que se convencionou chamar de “boas maneiras”. Esses tipos, ao contrário dos primeiros, apresentam um potencial enorme para despertar na outra parte o ódio, a má vontade, o desrespeito e, no extremo, o revide, mesmo quando o conteúdo de suas falas é verdadeiro e consistente.

Segundo: Fortiter in res, ou seja, “firmeza nas coisas” relaciona-se à consistência e aos propósitos nobres daquilo que se comunica, ou da ordem que se dá. Não só a firmeza da ordem ou do argumento que se quer transmitir, mas a segurança e determinação para que tal ordem - se for o caso - aconteça, ou tal ideia - também se for o caso - seja assimilada com proveito. Isso há de se revestir da perseverança e tenacidade adequadas. Sem firmeza no que se transmite corre-se o risco de se colher o fruto da indolência ou da dificuldade de compreensão da outra parte. Nestes casos, a gentileza empregada não foi o suficiente para fazer com que as coisas acontecessem.

Bem, todos nós sabemos diferenciar uma pessoa gentil de uma pessoa grosseira. Também sabemos identificar uma intervenção proveitosa, inteligível, exequível e firme de outra que resulta em nada. Fácil entender que o ideal seria unir gentileza com firmeza de espírito para que tudo ocorresse da maneira mais adequada. De que vale ser gentil se não se é firme no propósito. Isto redundará em nada. Também, de que vale ser rude e grosseiro para se tentar conseguir algo se tal pode não ocorrer, ou se ocorrer, isso se dará só por conta da fraqueza, da timidez ou da covardia da outra parte?

Aquele que, de maneira grosseira, trata o garçom que lhe serve no restaurante só porque este não entendeu uma de suas arrogantes ordens pode até lograr ter a sua taça de vinho servida com o capricho e mesuras que seu espírito fútil exige, mas com toda certeza angariará antipatia e menosprezo não só do humilhado servidor como até mesmo de outras pessoas que assistam a cena. Pode não ser nada naquele momento para o arrogante, mas na extensão de sua vida aquele falta de gentileza que caracteriza o seu comportamento padrão encontrará em algum momento e em outras circunstâncias a devida desaprovação e suas consequencias.

O homem verdadeiramente sábio é aquele que é capaz de unir as duas coisas: a gentileza no trato com seu semelhante e a firmeza de espírito para saber se comunicar e disso conseguir obter o seu intento. Se tivermos por força de determinado cargo de autoridade ou de uma posição social mais elevada devemos ter em mente que se emitirmos ordens com gentileza elas, com grande probabilidade, serão atendidas a tempo, com qualidade e de força reciprocamente gentil. Quando, ao contrário, se essas ordens forem somente revestidas de firmeza, mas desprovidas de gentileza, o que devemos esperar é a má vontade e o desleixo.

Se nos confrontamos com a situação em que pedir um favor é uma necessidade ou mesmo quando pleiteamos, por direito, uma atenção ou o cumprimento de uma obrigação de outrem, devemos lembrar que a gentileza e a firmeza do propósito são os elementos fundamentais para o sucesso. Não é porque se está na posição de ser servido que a gentileza pode ser dispensada. Somos pela natureza humana todos iguais. O que nos diferem esporadicamente são os papeis que assumimos nesta vida transitória e curta. O respeito ao semelhante resgata a necessária consciência que devemos ter sobre a origem e o fim comuns que temos na vida.

Infelizmente, o que temos visto é que existe muito descasamento entre os dois pontos que analisei. Boa parte das pessoas é formada por pessoas gentis no trato mais não são firmes nas coisas, nos propósitos, no espírito. Outra boa parte é formada por pessoas que são firmes, duras e resolutas, mas negligencia os bons modos da gentileza. O desafio e, portanto, o que seria sábio de se fazer é exatamente conseguir a união desses dois aspectos do relacionamento humano em prol do sucesso das relações interpessoais. Nem sempre é fácil, devido às circunstâncias, mas seria pura sabedoria se soubéssemos exercitar e praticar a gentileza no trato associado à firmeza nos nossos propósitos, ou:

Suaviter in modo, fortiter in res...

Edson Pinto

Abril’2014

2 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Embora nem sempre consiga - confesso - tenho, ao longo da minha vida, tentado seguir o que o título do meu texto desta semana sugere.

Acho, até mesmo, que as relações humanas seriam muito mais efetivas, produtivas e calorosas se este preceito fosse tomado como procedimento geral.

Leiam SUAVITER IN MODO, FORTITER IN RES que já se encontra publicado no meu blog.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto

Anônimo disse...

Uma vez mais você nos brinda com uma excelente narrativa onde o princípio básico da educação esta ligado fortemente a GENTILEZA e a FIRMEZA um binômio que bem trabalhado resulta no sucesso das relações interpessoais. Parabéns e continue nos brindando com essas reflexões. um grande abraço do JB.