Razão e Emoção eram um casal.
E como todo casal que se preze, tinham
marcado um café para “conversar sobre a relação”, essa expressão que parece
inofensiva, mas carrega a tensão de um armistício.
— Eu só acho que a gente precisa de mais lógica nas nossas decisões, disse ele, mexendo no expresso com a precisão de um engenheiro em crise.
— E eu só acho que a gente precisa
sentir mais e calcular menos, respondeu ela, soprando o capuccino como quem
assopra mágoas pequenas.
Era terça-feira, três da tarde. Nem
cedo demais para desistir, nem tarde demais para tentar de novo.
— Você sempre quer ter controle de
tudo, reclamou ela. Até mesmo do que eu sinto.
— E você sempre se joga no abismo como
se tivesse asas garantidas, rebateu ele, tentando não parecer o vilão da
história.
Foram se acusando com a elegância de
quem se ama, mas anda tropeçando nas diferenças. Ele citava argumentos com
vírgulas. Ela respondia com silêncios que doíam mais que ponto final.
— Você me sufoca com previsões,
gráficos, “e se”...
— E você me enlouquece com impulsos,
intuições e essa mania de acreditar que tudo vai dar certo porque sim!
A garçonete trouxe a conta. Ele
conferiu cada centavo. Ela deixou gorjeta com um guardanapo desenhado em
coração. Era sempre assim. Um fazendo cálculos, o outro fazendo arte.
Mas naquela tarde, algo mudou. Talvez
o jeito como os olhos dele finalmente pararam de fugir dos dela. Ou o modo como
ela, cansada de girar em espiral, parou de querer vencer a discussão.
— Eu te amo, disse ele, baixinho.
— Eu também, respondeu ela, como quem
entrega o peito e não exige troco.
Ficaram em silêncio. Não o silêncio do
fim, mas aquele que antecede um recomeço. Como o intervalo entre uma pergunta
difícil e uma resposta que vem com abraço.
— Eu não sou perfeita, disse ela.
— E eu não sou infalível, disse ele.
Mas juntos, talvez, sejamos possíveis.
Deram-se as mãos por baixo da mesa. E
ali, entre farelos de biscoito e café frio, fizeram um acordo que não precisou
ser assinado. Firmaram um pacto de
equilíbrio, de compreensão mútua que era necessário revezarem-se ao volante. E, por fim e silenciosamente, entenderam que,
quando um tenta vencer o outro, o amor perde.
Saíram do café de passos lentos. Ele
deixou que ela escolhesse o caminho. Ela deixou que ele segurasse o mapa.
Porque amar, no fim das contas, é o um
eterno diálogo entre o sentir e o pensar. E o milagre acontece quando os dois
decidem caminhar lado a lado para o resto da vida.
Edson Pinto
Dezembro, 2025

3 comentários:
Muito lindo e verdadeiro!
Muito bom! Cenário que acontece com muitos casais ao longo da vida.
👏👏👏👏
Muito bom!
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