5 de dez. de 2025

356) DOIS CAFÉS E UM CONFLITO INTERNO

 

Razão e Emoção eram um casal.

E como todo casal que se preze, tinham marcado um café para “conversar sobre a relação”, essa expressão que parece inofensiva, mas carrega a tensão de um armistício.

— Eu só acho que a gente precisa de mais lógica nas nossas  decisões, disse ele, mexendo no expresso com a precisão de um engenheiro em crise.

— E eu só acho que a gente precisa sentir mais e calcular menos, respondeu ela, soprando o capuccino como quem assopra mágoas pequenas.

Era terça-feira, três da tarde. Nem cedo demais para desistir, nem tarde demais para tentar de novo.

— Você sempre quer ter controle de tudo, reclamou ela. Até mesmo do que eu sinto.

— E você sempre se joga no abismo como se tivesse asas garantidas, rebateu ele, tentando não parecer o vilão da história.

Foram se acusando com a elegância de quem se ama, mas anda tropeçando nas diferenças. Ele citava argumentos com vírgulas. Ela respondia com silêncios que doíam mais que ponto final.

— Você me sufoca com previsões, gráficos, “e se”...

— E você me enlouquece com impulsos, intuições e essa mania de acreditar que tudo vai dar certo porque sim!

A garçonete trouxe a conta. Ele conferiu cada centavo. Ela deixou gorjeta com um guardanapo desenhado em coração. Era sempre assim. Um fazendo cálculos, o outro fazendo arte.

Mas naquela tarde, algo mudou. Talvez o jeito como os olhos dele finalmente pararam de fugir dos dela. Ou o modo como ela, cansada de girar em espiral, parou de querer vencer a discussão.

— Eu te amo, disse ele, baixinho.

— Eu também, respondeu ela, como quem entrega o peito e não exige troco.

Ficaram em silêncio. Não o silêncio do fim, mas aquele que antecede um recomeço. Como o intervalo entre uma pergunta difícil e uma resposta que vem com abraço.

— Eu não sou perfeita, disse ela.

— E eu não sou infalível, disse ele. Mas juntos, talvez, sejamos possíveis.

Deram-se as mãos por baixo da mesa. E ali, entre farelos de biscoito e café frio, fizeram um acordo que não precisou ser assinado. Firmaram um pacto de equilíbrio, de compreensão mútua que era necessário revezarem-se ao volante.  E, por fim e silenciosamente, entenderam que, quando um tenta vencer o outro, o amor perde.

Saíram do café de passos lentos. Ele deixou que ela escolhesse o caminho. Ela deixou que ele segurasse o mapa.

Porque amar, no fim das contas, é o um eterno diálogo entre o sentir e o pensar. E o milagre acontece quando os dois decidem caminhar lado a lado para o resto da vida.

 

Edson Pinto

Dezembro, 2025

3 comentários:

Edson Taurizano disse...

Muito lindo e verdadeiro!

Anônimo disse...

Muito bom! Cenário que acontece com muitos casais ao longo da vida.
👏👏👏👏

Anônimo disse...

Muito bom!