Os meus amigos mais próximos sabem que tenho acentuado, cada vez mais, essa minha mania de escrever sobre tudo o que, de um lado me incomoda, e de outro me encanta. Parece contraditório, mas é fato que sinto ímpeto idêntico tanto para criticar arbitrariedades, carências morais, éticas e injustiças flagrantes, como também, para tecer loas aos gestos puros, simples e ricos dos bons exemplos que felizmente a vida, ainda, nos dá de sobejo.
Não poupo o teclado de meu computador nem para criticar nem para elogiar. Se ele pudesse escolher, talvez optasse para que eu só digitasse temas encantadores, porque para os outros eu os faço maltratando suas inocentes teclas. Os de “meio-termo”, contudo, não merecem ser de minha lavra, posto que se mostrem em conformidade ao que podemos considerar atitudes adequadas; o natural dos bons atos humanos.
Nos últimos dois meses a mídia nacional repercutiu com rara profundidade, o episódio da morte horrorosa da menina Isabella e de toda a crueldade que há por detrás de um fato tão triste. Será o casal, incluindo o pai biológico de Isabella, o real assassino? Ciúmes? Distúrbio bipolar de uma madrasta que não conseguiria harmonizar a variação brusca de seu humor instável levando-a a prática de ato tão extremo? Um pai desalmado e manipulado pelo gênio irascível de uma maníaca depressiva? Tantas são as especulações que não me atrevo a colocar mais maldade nesse caldeirão do diabo. Torço apenas para que a justiça seja feita de forma limpa, criteriosa e que as precipitações e o “justiceirismo” que emergem do fato sejam contidos para que a lei se aplique de forma ampla e correta.
O que me motiva a escrever somente agora sobre o tema, é a percepção que me assola de que talvez meu subconsciente tenha articulado de forma furtiva para que eu me afastasse do drama de Isabella. Isto - penso - porque minha netinha tem exatamente o mesmo nome dessa nova mártir de nosso imaginário coletivo. Isabella com dois “eles” como a minha neta gosta de frisar. Mas, sinceramente falando, é muito difícil esquivarmos de considerações pertinentes sobre o caminho que toma a humanidade, quer foquemos o fato em particular como esse, quer abstraiamos para a complexidade da vida de todos os seres que formam essa que é considerada a mais privilegiada de todas as espécies criadas por Deus: a raça humana.
Se na verdade somos a espécie privilegiada do Criador, que desarranjo cruel em algumas mentes levaria ao desatino do ato infame? Por que Deus Onisciente, Onipresente, Perfeito e Soberano permitiria que um ou mais de seus filhos fizesse o que fizeram? Se não foi o casal, foi alguém com igual crueldade e, portanto, também, filho do mesmo Deus. Será que estamos sendo justos ao buscar no Supremo a resposta para tal inquietude ou a resposta está aqui mesmo entre nós? Deus não nos fez perfeitos. Para alguns deu braços fortes, para outros lhes negou pernas, para outros concedeu corações magnânimos e até mentes doentias para outros. Mas, a todos, de forma indistinta, deu-nos o livre-arbítrio, essa prerrogativa exclusiva que temos para sopesar nossos atos, controlar nossos impulsos e respeitar o próximo.
No centro dessa geléia moral há um dos mais cruéis de todos os defeitos que podem assolar uma pessoa. Trata-se do egoísmo. Esse amor excessivo e descontrolado a si próprio e a subordinação dos interesses alheios à ditadura de seu ego infantilizado. Em se confirmando as suspeitas do envolvimento da madrasta de Isabella ficaria aqui a constatação, inequívoca, de que aquela criatura, psicologicamente despreparada, não conseguiu se libertar das atitudes egocêntricas típicas da infância para se harmonizar socialmente, senão de forma altruísta que implica no inverso do egoísmo, pelo menos no respeito aos outros. Para o egoísta tudo o que contraria a sua visão fantasiosa de que está no centro do mundo deve ser rechaçada. Até mesmo um anjo inocente, puro e alegre como a menina Isabella.
Você já pensou quantas vezes nos pegamos em atos egoístas? Tenho que ser atendido na frente daquele outro, por que sou mais importante. Não aceito fazer isto ou aquilo por que não nasci para servir e sim para ser servido. “Farinha pouca, meu pirão primeiro” e lá vamos nós, dia após dia exercendo essa maldita sina de nos considerarmos o centro das atenções. Em certa dosagem, convenhamos, um pouco de egoísmo pode até nos impulsionar para sermos melhores. Excessivamente, contudo, nos tornamos péssimos cônjuges, pais brutos, filhos caprichosos, empregados relapsos, patrões desumanos, governantes tiranos e até mesmo assassinos desalmados.
Poderíamos até imaginar que uma patologia tenha provocado combinações macabras na cabeça de quem matou Isabella. Medicamentos com efeitos tenebrosos gerando comportamentos exóticos, estresse da vida agitada da cidade malucamente gigantesca, pressões financeiras que atormentam o cidadão moderno na busca inesgotável por padrão de vida mais elevado, tudo, tudo é possível de ser considerado para justificar atos absurdos. A única coisa que não encontra justificativa é a persistência da manutenção exacerbada do egoísmo, porque se alguém é capaz de imaginar, em sã consciência, que está no centro do universo, jamais conseguirá compreender que somos todos meras ocorrências periféricas de um ente maior e infinitamente bondoso que é o amor, móbile perpétuo do caminho que nos leva a Deus.
Se nos serve de algum consolo, fiquemos com a certeza irrefutável de que a imagem de uma mãe chorando a perda de uma filha inocente, como está sendo no caso de Isabella, mais contribui para a necessária reflexão sobre os males do egoísmo, porque isto tem a ver com a transcendência da alma, do que o clamor pela necessária justiça dos homens, porque isto tem a ver só com a nossa aparentemente inesgotável tentativa de correção das fraquezas humanas.
Edson Pinto
12/05/08
Não poupo o teclado de meu computador nem para criticar nem para elogiar. Se ele pudesse escolher, talvez optasse para que eu só digitasse temas encantadores, porque para os outros eu os faço maltratando suas inocentes teclas. Os de “meio-termo”, contudo, não merecem ser de minha lavra, posto que se mostrem em conformidade ao que podemos considerar atitudes adequadas; o natural dos bons atos humanos.
Nos últimos dois meses a mídia nacional repercutiu com rara profundidade, o episódio da morte horrorosa da menina Isabella e de toda a crueldade que há por detrás de um fato tão triste. Será o casal, incluindo o pai biológico de Isabella, o real assassino? Ciúmes? Distúrbio bipolar de uma madrasta que não conseguiria harmonizar a variação brusca de seu humor instável levando-a a prática de ato tão extremo? Um pai desalmado e manipulado pelo gênio irascível de uma maníaca depressiva? Tantas são as especulações que não me atrevo a colocar mais maldade nesse caldeirão do diabo. Torço apenas para que a justiça seja feita de forma limpa, criteriosa e que as precipitações e o “justiceirismo” que emergem do fato sejam contidos para que a lei se aplique de forma ampla e correta.
O que me motiva a escrever somente agora sobre o tema, é a percepção que me assola de que talvez meu subconsciente tenha articulado de forma furtiva para que eu me afastasse do drama de Isabella. Isto - penso - porque minha netinha tem exatamente o mesmo nome dessa nova mártir de nosso imaginário coletivo. Isabella com dois “eles” como a minha neta gosta de frisar. Mas, sinceramente falando, é muito difícil esquivarmos de considerações pertinentes sobre o caminho que toma a humanidade, quer foquemos o fato em particular como esse, quer abstraiamos para a complexidade da vida de todos os seres que formam essa que é considerada a mais privilegiada de todas as espécies criadas por Deus: a raça humana.
Se na verdade somos a espécie privilegiada do Criador, que desarranjo cruel em algumas mentes levaria ao desatino do ato infame? Por que Deus Onisciente, Onipresente, Perfeito e Soberano permitiria que um ou mais de seus filhos fizesse o que fizeram? Se não foi o casal, foi alguém com igual crueldade e, portanto, também, filho do mesmo Deus. Será que estamos sendo justos ao buscar no Supremo a resposta para tal inquietude ou a resposta está aqui mesmo entre nós? Deus não nos fez perfeitos. Para alguns deu braços fortes, para outros lhes negou pernas, para outros concedeu corações magnânimos e até mentes doentias para outros. Mas, a todos, de forma indistinta, deu-nos o livre-arbítrio, essa prerrogativa exclusiva que temos para sopesar nossos atos, controlar nossos impulsos e respeitar o próximo.
No centro dessa geléia moral há um dos mais cruéis de todos os defeitos que podem assolar uma pessoa. Trata-se do egoísmo. Esse amor excessivo e descontrolado a si próprio e a subordinação dos interesses alheios à ditadura de seu ego infantilizado. Em se confirmando as suspeitas do envolvimento da madrasta de Isabella ficaria aqui a constatação, inequívoca, de que aquela criatura, psicologicamente despreparada, não conseguiu se libertar das atitudes egocêntricas típicas da infância para se harmonizar socialmente, senão de forma altruísta que implica no inverso do egoísmo, pelo menos no respeito aos outros. Para o egoísta tudo o que contraria a sua visão fantasiosa de que está no centro do mundo deve ser rechaçada. Até mesmo um anjo inocente, puro e alegre como a menina Isabella.
Você já pensou quantas vezes nos pegamos em atos egoístas? Tenho que ser atendido na frente daquele outro, por que sou mais importante. Não aceito fazer isto ou aquilo por que não nasci para servir e sim para ser servido. “Farinha pouca, meu pirão primeiro” e lá vamos nós, dia após dia exercendo essa maldita sina de nos considerarmos o centro das atenções. Em certa dosagem, convenhamos, um pouco de egoísmo pode até nos impulsionar para sermos melhores. Excessivamente, contudo, nos tornamos péssimos cônjuges, pais brutos, filhos caprichosos, empregados relapsos, patrões desumanos, governantes tiranos e até mesmo assassinos desalmados.
Poderíamos até imaginar que uma patologia tenha provocado combinações macabras na cabeça de quem matou Isabella. Medicamentos com efeitos tenebrosos gerando comportamentos exóticos, estresse da vida agitada da cidade malucamente gigantesca, pressões financeiras que atormentam o cidadão moderno na busca inesgotável por padrão de vida mais elevado, tudo, tudo é possível de ser considerado para justificar atos absurdos. A única coisa que não encontra justificativa é a persistência da manutenção exacerbada do egoísmo, porque se alguém é capaz de imaginar, em sã consciência, que está no centro do universo, jamais conseguirá compreender que somos todos meras ocorrências periféricas de um ente maior e infinitamente bondoso que é o amor, móbile perpétuo do caminho que nos leva a Deus.
Se nos serve de algum consolo, fiquemos com a certeza irrefutável de que a imagem de uma mãe chorando a perda de uma filha inocente, como está sendo no caso de Isabella, mais contribui para a necessária reflexão sobre os males do egoísmo, porque isto tem a ver com a transcendência da alma, do que o clamor pela necessária justiça dos homens, porque isto tem a ver só com a nossa aparentemente inesgotável tentativa de correção das fraquezas humanas.
Edson Pinto
12/05/08
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