17 de mai. de 2008

24) UM ENSAIO SOBRE ÉTICA E MORAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA (maio'08)

 

Está contida nesta pergunta e em suas possíveis respostas a questão crucial da Moral e da Ética, pois trata do julgamento do caráter de uma determinada pessoa e de como ela age ou deveria agir para não ultrapassar o código comportamental vigente na sociedade. Mais objetivamente, o que daria, então, contornos ético/morais ao comportamento do homem quer esteja na atividade privada, quer, talvez até mais intensamente, na atividade pública?

Segundo Augusto Comte, "A Moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas." Entende-se por instintos simpáticos aqueles que aproximam o indivíduo dos outros.

Para Piaget, toda Moral é um sistema de regras e a essência de toda a moralidade consiste no respeito que o indivíduo sente por tais regras.

Hemingway manifestou em Morte na Tarde, que: “Eu sei o que é moral apenas quando você se sente bem após fazê-lo e o que é imoral é quando você se sente mal, após”.

Talvez, aqui, esteja a resposta para a nosso dilema moral. Se o que se faz nos faz sentir bem após fazê-lo, o nosso ato teria sido moralmente bom. O contrário, não. Mas o problema parece ser exatamente porque as pessoas têm sentimentos diferentes sobre os mesmos comportamentos.

Diz um homem em posto de mando, normalmente em cargos públicos: Não vejo nenhum problema em dar bons empregos e bons salários para meus parentes. Eles são todos competentes e confio muito neles. Ou, não vejo nenhum problema em fazer benfeitorias naquela região onde tenho meus interesses pessoais, pois em acho que também mereço e, além do mais, devo muito ao meu povo local.

Tudo bonito, mas observem que o objetivo maior que seria o do bem público pode estar sendo relegado em detrimento de um objetivo pessoal. Não seria – para o maior eficácia da função pública – o emprego ser dado a uma outra pessoa com maior qualificação do que a do parente? Não seriam os escassos recursos públicos aplicados para maior retorno social em uma obra ou localidade ou instituição diferente daquela que o homem em poder de mando decidiu só para se beneficar pessoalmente ou ao seu ciclo restrito de relacionamento?

Parece óbvio, mas nunca custa falar: O brasileiro tem em geral o maior prazer e verdadeiro espírito de solidariedade ao participar, sem interesse financeiro pessoal, da direção do condomíno residencial do prédio em que mora, das atividades esportivas do clube em que seus filhos praticam esportes, das atividades da igreja de sua comunidade. Mas, quando investidos de um cargo público tudo é diferente...

Ressalvados os funcionários públicos que trabalham profissionalmente nos órgãos do governo, penso que a política deveriam ser algo como um sacerdócio, isto é, uma atividade nobre, honrosa que as pessoas bem dotadas de experiência, sabedoria, equilíbrio, bom senso e de moral ilibada deveriam – graciosamente – conceder ao seu país. É como se fosse uma retribuição e uma colaboração à sociedade pelo simples fato de ser um de seus membros.

Dito assim, serei claramente criticado por, limitar às pessoas de certa posse, o acesso ao cargos políticos, pois elas não precisariam de dinheiro para sobreviverem, enquanto outros, também capazes mas de parcos recursos, não teriam acesso aos cargos políticos. Seria uma aristocracia no sentido de que o governo é entregue à um número reduzido de privilegiados pelos suas condições de posse. Ou, poderíamos entender a aristocracia pelo seu sentido puro no qual há a formação de um grupo de pessoas que se distinguem pelo saber e pelas caracteristicas superiores aos demais?

O debate é inconcluso e tem muito a ver com a complexidade do tema. Enquanto isso, só nos resta aplicar em nossas próprias vidas os coonceito de moral e da ética. Quando estivermos todos habituados ao comportamento ético poderemos exigir o mesmo daqueles a quem elegemos democraticamente para nos representar nas instituições que comandam o país.

Edson Pinto

postado em 17/05/2008A Revista Veja de 19/03/08, edição 2.052, nos presenteou com uma excelente entrevista do embaixador, ex-ministro da Fazenda e polivalente servidor público de alto nível, Marcílio Marques Moreira.

Recentemente, Marcílio antecipou sua saída da presidência da Comissão de Ética do governo Lula quase que como conseqüência de um enorme desgaste republicano com a posição dúbia do ministro Carlos Lupi, por este acumular sua nobre função de ministro de Estado encarregado da pasta do Trabalho com a direção do PDT do qual ele é o presidente.

À parte esse episódio e outros que de forma bem clara são relatados durante a entrevista, o que chama a atenção é a – infelizmente, se é assim que podemos dizer - falta de ética reinante no mundo político brasileiro.

Não há boas intenções, mecanismos de controle, imprensa livre e opinião pública indignada que sejam capazes de dar aos homens que assumem cargos públicos a mínima e indispensável noção do que seja ético fazerem, ou não, enquanto investidos das responsabilidades dos cargos que assumem.

O nobre Embaixador nos recapitula os cinco princípios constitucionais que deveriam guiar a administração pública: Legalidade; Moralidade; Publicidade; Impessoalidade e Eficácia.

Pergunta mais do que objetiva: É possível ver esses princípios simultaneamente orientando o comportamento dos homens públicos no Brasil de hoje? Até uma criança já aprendeu que não.

E, o porquê disto estar acontecendo dessa maneira? As nossas Instituições democráticas são fracas e falhas? A falta de moralidade já contaminou a todos nós de tal forma que convivemos com ela sem qualquer problema? Ou, o que mais haveria de nos preocupar: o brasileiro tem uma frouxa ou quase inexistente noção sobre o que é ser e agir de conformidade com os preceitos morais e éticos?

No Brasil de hoje em que, o até recentemente o bem respeitado jornalista Pedro Bial, classifica como heróis os macacos uivantes do Big Brother - claro que de olho no faturamento das dezenas de milhões de ligações telefônicas que o povo não politizado e culturalmente apequenado lhes propicia - ou mesmo o tratamento de quase celebridade dado a cafetina capixaba que tem por “mérito” ser a pivô da queda do governador de Nova York porque o delatou, podemos esperar coisa melhor?

Salve-nos Deus, se esta for a principal razão de nossas desgraças...

Vamos nos deter um pouco sobre o conceito de moral como objeto de estudo da Ética, este campo de reflexões filosóficas que investiga a relações entre os seres humanos naquilo que concerne ao seu modo de pensar e de ser.

À parte o debate filosófico profundo sobre o que é ser moral e ético, vale simplificar para o propósito deste ensaio, saber que, o fato de o homem viver em sociedade e por conseqüência ser necessário bem conviver com os seus semelhantes, obriga-lhe a ter pronta resposta para a seguinte e fundamental questão: “Como devo agir perante os outros?”.

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