Nunca me preocupei em estudar as ra-zões pelas quais sonhamos. Acho até mesmo que isto se deve ao fato de que não sou um sonhador assíduo no estrito e real sentido do termo. Claro que sei que Sigmund Freud elaborou profunda teoria sobre o inconsciente humano e suas manifestações através dos sonhos. O que me interessa é que, quando sonho, sempre encontro nos fatos recém ocorridos, mais notadamente os do dia anterior, as ligações que levaram meu subconsciente a se manifestar enquanto dormia o sono dos justos.
Bem, mas não vem ao caso, exatamente, a história do padre Adelir. O que quero narrar é que no meu sonho a proeza de subir ao céu por meio de mil inocentes balões de festinha infantil era protagonizada pelo nosso presidente Lula. Logo o Lula, vejam só, que sempre manifestou medo de viajar de avião, agora, estava tomado da maior de todas as astúcias e decidira subir ao infinito sideral para mostrar que não havia cristão que o impedisse de chegar a qualquer lugar que quisesse; fosse o reconhecimento como o melhor presidente “nunca visto na história deste país”, fosse o terceiro mandato tão negado, mas tão acalentado por ele, fosse lá, até mesmo como ele dizia, somente para subir, subir, subir, até - se fosse o caso – para dialogar frente a frente com o Chefão lá de cima. A propósito, juro que no meu sonho ouvi Lula dizer: “Se Ele está eternamente lá no poder central, por que eu não posso ficar pelo menos mais quatro anos no comando daqui? Somos, ambos, perfeitos”, e piscou marotamente para o júbilo dos petistas que seguravam a corda dos balões.
__ Mas presidente Lula, ponderou o ministro Mantega, o senhor não deve levantar vôo com as condições atmosféricas tão desfavoráveis. Não seria melhor esperar momento mais adequado? __ Meu caro pinóquio genovês, você está me dizendo - respondeu com a irreverência de seus anos dourados de militante sindical - que o tempo não está a meu favor? Ledo engano. Para quem saiu de Garanhuns sem eira nem beira, não precisou enfrentar os bancos escolares, chega à presidência da república e ainda trata o Bush de “meu”, você acha, sinceramente, que uma nuvenzinha qualquer me vai por medo? Nem pensar... Lula dá um pulinho desavergonhado e se acomoda apertadamente na cadeirinha do fusquinha 63 que seu compadre Dario Morelli tinha preparado para a viagem.
__ Senhor presidente, brandiu o “simpático e sempre bem-humorado” assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o senhor não quis tomar lições para o uso do aparelho de GPS que está na sua sacola de viagem. Pode ser que venha a lhe fazer falta no caso de o senhor se ver perdido lá no infinito. __ Ah! Ah! Marquinhos, meu marxista gaúcho de estimação, exclamou Lula com enorme intimidade. Não precisarei jamais dessa maquininha. Nunca freqüentei Universidade, você sabe. Sou formado na escola da vida, e na escola da vida aprende-se que quem deve saber onde se está é você mesmo, não é? Além do mais, quem sabe, como eu bem sei, onde os votos se encontram, não vai lá saber a que altura e em que rumo está se dirigindo? Ah! Ah! Ah! e ordenou que soltassem as amarras para iniciar a subida.
__ Presidente, meu amor, não vai levar nem um lanchinho para o caso de uma emergência? __ Como assim minha Barbie oriundi, minha remoçada esposa Marisa Letícia? Quem criou o “Fome Zero” vai lá precisar de uma bolsa sanduíche? Lula estava realmente impossível... Opa! Opa! Opa! Já estou subindo. Agora só quero ouvir os aplausos, discursou emocionadamente Lula, sentindo apenas a falta de Dilma, a ex-militante do Comando de Libertação Nacional, COLINA e atual mãe do PAC e que nos últimos tempos colou-se a ele como o grude que prende a taquara na pipa.
Boa viagem presidente, exclamou o vice Alencar, sem não antes apregoar em alto e bom som que, por mais que Lula subisse, dificilmente atingiria a altura dos juros impostos pela turma do Meirelles. No fundo, no fundo, Alencar - com a história de sugerir o terceiro mandato para Lula - estava na raiz daquela convicção do presidente de que nada poderia detê-lo no seu oculto propósito de vôos cada vez mais altos.
Em menos de 10 minutos Lula já tinha superado a grossa camada de nuvens que cobria o céu - parece – de todo o mundo. Ora, ora, pensou Lula enquanto seus balõezinhos inflados com o gás do Evo aparentemente davam conta do recado, o mundo está na pior: vejam quantas nuvens, mas o Brasil de meu governo – “como nunca na história deste país”, reprisou eufórico – por meu mérito, pela minha competência, sabedoria, astúcia, carisma, beleza e sei lá mais o que, está a salvo. O nosso céu é de brigadeiro general Heleno, desabafou com a arrogância dos vencedores. Vai para a Raposa Serra do Sol, meu comandado, que eu vou subir, subir, subir, disse gargalhando de tanta alegria.
__ Espera aí... Não posso acreditar: um bando de urubus vindo na minha direção? E o que trazem escrito naquela faixa? O que? Será que não estou entendendo bem? MUSB: Movimento dos Urubus sem Balões? Seria isto mesmo, meu Deus? Não! Não!. Não posso deixar que aquele urubu com cara do Stedilli fure os meus balões. E aquele outro com cara do Delúbio? Não, meu Deus, mais outro com a cara do Renan, outro ali com cara de Severino, o Genoino, Dirceu, Valério... Não, não, Hugo Chaves, Fidel e agora o Bispo Fernando Lugo do Paraguai? Não vou suportar...
Pluft, pluft, pluft, e os balões foram estourando que nem bombinhas nas festas juninas de Garanhuns. __ Não sei usar o GPS, meu Deus! Nem um lanchinho eu trouxe para uma emergência. E meu terceiro mandato? Por que esse bando de urubus para os qual eu fui tão bondoso furou meus balões, isto é, meus planos? E o povo, será que vai me segurar lá em baixo? E eram tantos os plufts de balões estourando que até mesmo os tubarões que espreitavam das águas oleosas da Bacia de Santos junto aos factóides de Tupi e Carioca abriram suas bocarras para o céu.
O que aconteceu? Juro que não sei... Quando acordei, apenas fiquei com a impressão, pela primeira vez na história de meus sonhos, que havia algo para ser interpretado. Por isso, prometi a mim mesmo, tão logo possível dar uma passadinha na biblioteca mais próxima para ler Sigmund Freud. Não que tenha interesse em estudar o complexo de Édipo, o Id, o Ego, o Superego ou a Libido, mas para buscar luzes em uma de suas grandes obras científicas que tem o título “A Interpretação dos Sonhos”.
Edson Pinto
01/05/08
Nenhum comentário:
Postar um comentário