6 de set. de 2008

46) A EXTINÇÃO DO DODÔ (set'08)


Imagine uma ave de cerca de 1 metro de altura, 16 quilos, não-voadora e que ainda fosse muitíssimo dócil! Um peruzão de bondade. Assim era o Dodô (Raphus cucullatus), espécie nativa das Ilhas Maurício, costa leste da África, onde, até o final do século XVII vivia em perfeita harmonia com os outros componentes do seu ecossistema. Nesse ponto da história torna-se vitima da própria docilidade. Presa fácil dos caçadores humanos recém chegados que lhes comia a carne e dos ratos, que vieram com os homens, e lhes comia os ovos, bobinhos que eram, foram extintos para sempre...

Por tempos, o Dodô tem sido tomado como exemplo de que a bondade sem limites de alguns seres humanos e a falta de disposição para a luta pode lhes custar a preservação. Parece contraditório que preguemos a paz, o amor, a confiança plena no semelhante, o desprendimento e principalmente a entrega incondicional a tudo e a todos quando sabemos que o mundo não se nos apresenta assim tão favorável.

O preparo para a luta e até mesmo a luta propriamente dita, quando necessária, são os reguladores da extrema “dodolização da vida”. A cada momento é preciso tomar uma decisão importante: ser forte e vencer, ou ser fraco e se extinguir. O enfrentamento não é só com os nossos semelhantes, mas, principalmente, com o inimigo interno que nos tolhe o impulso para o bom combate; com o desânimo que nos impede a realização de uma nova e importante tarefa; com a fraqueza no cara a cara altivo com a doença que sói nos incomodar, e assim por diante. A aparência de bondade não deve necessariamente significar fraqueza por lutar. Mahatma Ghandi por trás de seu angelical semblante tinha uma estratégia de luta e soube vencer.

“Si vis pacem parabellum” esta locução latina quer dizer que se buscamos a paz temos que estar preparados para a guerra. A vida é uma guerra, queiramos ou não. Passar por ela sem ter que ultrapassar obstáculos, derrotar inimigos, sofrer privações e trilhar caminhos ásperos é mero exercício de ilusão. Aos gladiadores jogados na arena dos leões só lhes fazia sentido a vitória para continuar vivendo. Assim é também a vida...

A reflexão que faz todo o sentido para o sucesso contra os males que nos açoitam a cada momento é se devemos lutar como um gladiador, "matando um leão por dia" e assim continuarmos na arena dos vencedores ou se devemos nos entregar com a candura de um Dodô e sermos extintos para sempre?


Edson Pinto
postado em 06/09/08

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