9 de nov. de 2009

105) NINGUÉM FUROU O OLHO DO CICLOPE

O ciclope Polifemo, gigante imortal com um só olho no centro da testa, vivia em uma caverna próximo da Sicília, junto ao Etna, cuidando de seu rebanho de ovelhas. Vida pacata e feliz até que por lá desembarcam Ulisses e seus homens a caminho de casa, em Ítaca, retornando vitoriosos da guerra de Tróia.

Não fosse a astúcia de Ulisses ao embebedar o gigante e assim evitar que ele continuasse a comer um a um de seus guerreiros, e quem sabe até ele mesmo, o final da grande Odisséia herdada do mundo grego clássico seria outro. Certamente muito menos excitante, porque Ulisses não teria reencontrado seu filho Telêmaco nem a sua amada Penélope.

Ulisses enganou o gigante Polifemo furando-lhe o olho enquanto dormia. Ao notar-se cego o ciclope pede o nome de quem o cegara. Ulisses disse ter sido Ninguém. Escapam da eventual fúria dos outros ciclopes, pois Polifemo diz a eles que Ninguém o cegara.

Ora, consideremos o povo brasileiro como se fosse o ciclope Polifemo. Lula, a turma do PT junto com o PMDB e demais partidos da base aliada, astutamente vivem a furar-lhe o único olho de que dispõe e sempre dizem que Ninguém é o culpado. O povo na forma do ciclope Polifemo acredita e, dia após dia, vai permitindo que a nossa odisséia se escreva de modo tão peculiar.

Ninguém é culpado pelo mensalão. Ninguém viu que os cartões corporativos estavam sendo usados de forma irresponsável. Ninguém quer um terceiro mandato para Lula. Ninguém levou dólares na cueca. Ninguém tem responsabilidade sobre os descalabros do nosso Senado e seus atos secretos. Ninguém viu Dilma intercedendo com Lina Vieira da Receita Federal para livrar a cara dos Sarneys...

Veja que maravilha o uso desse pronome indefinido: Refere-se a terceira pessoa de modo indeterminado, porém, se bem usado como na Odisséia de Homero ou na argumentação padrão do governo petista, pode nos surpreender com efeitos mágicos inesperados e até se transformar em um substantivo próprio.

Se dá certo muda-se para o pronome pessoal do caso reto na primeira pessoa do singular: EU. Não dá certo, joga-se a responsabilidade a terceira pessoa do plural: ELES. E quando não tiver escapatória usa-se sempre o mais famoso de todos os indefinidos livrando-se a própria cara: Ninguém. E não se fala mais nisso...

Edson Pinto
Novembro’ 2009

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

No calendário republicano estabelecido pela Revolução Francesa de 1789, os meses tinham outros nomes: O ano começava entre setembro e outubro do nosso calendário gregoriano, e chamava-se Vindário (homenagem à colheita das uvas). O segundo mês chamava-se Brumário em referência à bruma ou nevoeiro. O dia de hoje, 9 de novembro, correspondia no calendário republicano ao dia 18 de Brumário. Nessa data, precisamente em 1799 do calendário gregoriano ou, ano IV do republicano, Napoleão Bonaparte dá o seu famoso golpe de Estado e restaura para ele mesmo o poder imperial extinto com a tomada da Bastilha de 1789.

Anos mais tarde quando o mesmo fato volta a ocorrer com Napoleão III, sobrinho do original, Karl Marx, em seu livro “18 de Brumário de Louis Bonaparte”, perpetua a famosa frase “A história se repete como farsa”, que, de tão profunda e cristalina, dispensa comentários adicionais.

Se você quer ter um exemplo contemporâneo dessa frase, e aqui mesmo no nosso quintal, veja o meu texto desta semana, NINGUÉM FUROU O OLHO DO CICLOPE. É a história se repetindo cheia de farsas... O texto já está publicado no blog: http://blog-do-edson-pinto.blogspot.com e pode ser lido também na parte inferior deste e-mail

Lembre-se que quando terminarmos novembro entraremos em Frimário, ou mês das geadas. Sorte nossa que geada, nessa época, é coisa lá do hemisfério norte. Aqui no "patropi" será muito calor e – convenhamos - nada melhor do que miolos derretidos para suportar farsas que se repetem alucinadamente.

Edson Pinto