12 de fev. de 2013

225) PRÉ-SAL DA SABEDORIA

Entre o final dos anos 50 e início dos anos 60 do século passado, andou por estas bandas e sob contrato com a Petrobrás um renomado geólogo americano de nome Walter K. Link. O senhor Link, após investigações científicas criteriosas, teve a ousadia de produzir um relatório técnico muito realista sobre o baixo potencial das reservas petrolíferas do território continental brasileiro.

A "patriotice" ferida em seu orgulho tupiniquim, inclusive porque ainda ecoava em seus ouvidos moucos o grito de “o petróleo é nosso” da era varguista, soltou os cachorros sobre o senhor Link. Acusaram-no, entre outras, de ser um espião a serviço dos interesses americanos. E tal interesse, no caso, seria o de manter o Brasil como um país eternamente secundário. Para isso, nada melhor do que não ter o ouro negro em seu subsolo. Honesto, contudo, o senhor Link recomendou ao final de seu relatório que a Petrobrás deveria pesquisar petróleo no mar e não desperdiçar recursos com pesquisas terrestres.

Sendo você da terra, e com certa rodagem como a que tenho, é claro que o meu leitor já deve ter imaginado o que veio a acontecer em seguida. É isso mesmo! Amaldiçoaram o gringo e gastaram fortunas extraídas do pobre contribuinte brasileiro para fazer furos e mais furos no Baixo Amazonas, na ilha de Marajó, no Maranhão, no Paraná, no Acre e no Médio Amazonas, tudo com resultado zero. Demorou até que dessem crédito ao senhor Link e só então foram fazer os primeiros furos no mar, tal qual recomendado por ele, na costa de Sergipe. E sabe o que encontram logo no segundo furo? Muito petróleo. Portanto, o homem era honesto, competente e tinha toda a razão.

Hoje, 85% do petróleo brasileiro vêm do mar e 95% das nossas reservas estão também lá. Toda vez que se tenta furar na terra, com raríssimas exceções, só faz confirmar a assertiva do senhor Link. O tesouro está, como sempre esteve, no mar exatamente na forma que nos disse o competente geólogo americano. E olha que nem estamos falando do gigantesco potencial do impúbere pré-sal que a nossa Petrobrás dos dias de hoje, mais pelas nefastas ingerências do governo do que pela competência de seu corpo técnico, ainda não conseguiu fazer jorrar em abundância. Quem sabe, um dia...

Que conclusão pode-se tirar dessa bela página de nossa história? Muitas, mas uma se sobressai nessa barafunda que é o pensamento nacional. Misturam-se no mesmo caldeirão, incompetência técnica, ideologia pobre, desgoverno, vaidade, interesses pessoais e políticos escusos, desprezo à sabedoria alheia e tudo o mais que juntos e misturados levam a decisões ruins com resultados medíocres. E como “la nave vá”, o contribuinte e a sociedade é que pagam o pato.

Feita esse resgate histórico, valho-me dele para uma analogia com um tema que ainda não mereceu a devida atenção e que tem também um potencial gigantesco aos moldes do pré-sal:

Assim como a Natureza acumulou lentamente hidrocarbonetos em rochas sedimentares no fundo do nosso Oceano e que só agora com o avanço tecnológico pode ser explorado, estamos também acumulando competências nos reservatórios de aposentados do Brasil. No passado não tão distante alguém se aposentava e só tinha uma estreita janela de vida para gozar - não raro com pouca saúde. Isso mudou e muito. Este fato merece, portanto, uma conveniente reflexão:

Nos dias de hoje, profissionais detentores de grande experiência se aposentam, mas ainda viverão por longos anos gozando saudáveis o merecido descanso do guerreiro. Certamente terão mais tempo para viagens de lazer, convívio com a família e com amigos, dedicação aos seus hobbies e até mesmo para dedicar à sociedade trabalhos voluntários. Tudo bem! Viva os tempos modernos; viva o avanço da medicina e tudo o mais que as condições econômicas atuais podem oferecer para que isso seja uma realidade para um número de pessoas cada vez maior. O que passa, contudo, despercebido é o fato de que muitos cidadãos e cidadãs agora aposentados ainda poderiam contribuir de forma mais efetiva com o progresso do País e não o fazem por motivos bem prosaicos: O primeiro, é que culturalmente entendemos que um aposentado é um ser desatualizado, talvez um inconveniente a tirar a oportunidade de jovens no mercado de trabalho. Outro motivo parece ser a crença ainda não desmitificada de que com os anos as pessoas perdem sua capacidade de apaixonar por desafios ou de serem criativas na busca de soluções inovadoras para os problemas da vida.

Vejam o quê acabamos de assistir com a aposentadoria compulsória de dois grandes juízes da nossa suprema corte: Tanta sabedoria como a dos ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres de Brito são descartadas compulsoriamente por terem chegado à idade limite previamente determinada no estatuto da magistratura. É como se pudéssemos desligar pelo simples premir de um botão todo o cabedal que os ilustres juristas vinham acumulando ao longo de tantos anos de dedicação ao Direito. Outros exemplos são fartamente encontrados na iniciativa privada. Empresas estabelecem limites de permanência de seus colaboradores e de um dia para o outro deixam de contar com toda a competência que ali havia sido estocada. Ah - diriam uns - mas ninguém é obrigado a trabalhar por toda a vida até que morram! Outros, que: “Devemos respeitar o direito de cada um se retirar depois de árduos anos de luta na profissão”. Certo! Mas, não seria pela restrição ao sagrado direito de aposentadoria a maneira mais criativa de se tirar proveito desse tesouro que tende a ficar esquecido no fundo de nosso mar de desperdício. Tenho ideias sobre isso:

Com o avanço das tecnologias de comunicação, a Internet e as maravilhas da Informática, hoje aposentados, ainda aptos profissionalmente, poderiam contribuir com o progresso do país fazendo trabalhos que usem suas sabedorias e conhecimentos a partir de suas próprias casas e sem necessidade de se submetê-los à loucura do trânsito de nossas cidades. Com o computador e outras ferramentas podem realizar pesquisas, produzir relatórios, aconselhar os jovens da linha de frente, subsidiando-lhes em decisões importantes de suas empresas, das instituições públicas, de escolas ou de quaisquer organizações onde suas competências possam ser úteis. Ganhariam as empresas, os órgãos públicos, as instituições em geral e finalmente a sociedade. O que falta, ao que me parece, é uma mudança de atitude quanto a esta matéria. Faz-se, ainda necessária, a adequação da legislação para acolher um modelo novo de relacionamento trabalhista de forma desburocratizada e sem entraves de qualquer natureza. Resumidamente, o que falta é encontrar uma forma inteligente de se perfurar a camada de sal que isola da superfície da vida esse outro tesouro que começamos a acumular no fundo de nosso oceano pátrio.

A propósito, o senhor Link quando veio prestar seus relevantes serviços ao Brasil no final dos anos 50 já era um profissional aposentado. A sua longa experiência no mundo do petróleo desenvolvido na Standard Oil Company fazia dele uma preciosidade como, de fato e pelo trabalho que desenvolveu no Brasil, ele provou ser. Quantos senhores Links não se encontram disponíveis por aí?

Edson Pinto
Fevereiro’2013

5 comentários:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos:

Ufa! Passado o carnaval, finalmente começamos a nossa luta para fazer de 2013 um ano melhor do que nos foram os anteriores.

Se em 2011 ficamos com aquele “pibinho” roscofe de 2,7%, o de 2012, como todos nós já sabemos de antemão, irá nos apresentar algo ainda pior: 1,0%, se tanto.

Nada de chorar! Vamos arregaçar as mangas e trabalhar, fiscalizar nossos políticos, exigir competência do governo, exigir punição aos corruptos e continuar rezando...

De minha parte, volto após o recesso de virada do ano com muito entusiasmo para dar a minha contribuição que inclui, entre outras coisas, continuar no exercício de meu hobby de escrever e eventualmente publicar minhas reflexões sobre temas variados no meu blog.

Espero continuar contando com o prestigio dos amigos!

Como falei de trabalho, começo com um texto bem apropriado sobre o tema, pois tem o potencial de ajudar o Brasil a voltar a ter “pibões” e não apenas os sofríveis “pibinhos” que nos tornam ainda mais distante o momento em que poderemos nos considerar um país desenvolvido e justo. Afinal, como mostram as estatísticas, a nossa força de trabalho disponível anda escasseando. E - por ironia do destino - o pouco de gente que ainda poderia ir a luta, ou está na zona de conforto dos programas de assistência social ou carece de qualificação, competência e sabedoria.

Leiam o meu texto desta semana: PRÉ-SAL DA SABEDORIA

Bom ano de trabalho a todos!

Edson Pinto

Blog do Edson Pinto disse...

De: Sylvio Silvestre
Para: Edson Pinto

É isso a Edson!
Você mesmo é um Sr. Link...

Abraço

Sylvio

Blog do Edson Pinto disse...

De: Dirnei Almeida
Para: Edson Pinto

EDSON, EXCELENTE GOSTEI MUITO PARABÉNS, TUDO DE BOM, DIRNEI

Blog do Edson Pinto disse...

De: Paulo Mococa
Para: Edson Pinto

EDSON,

QUE ESTE ANO SEJA MELHOR PARA TODOS NÓS. EXCELENTE "PRÉ-SAL DA SABEDORIA".

PAULO H. B. MOLLO
MOCOCA

André D'Elia disse...

Gostaria de saber o que vai acontecer depois da Olimpíadas. Quanto será o prejuizo que teremos que pagar? Será que os petralhas continuarão no poder? Infelizmente nossos governantes não aceitam sugestões e previsões dos senhores Link que estão por ai dando seus pitacos.Abraços Edson.