20 de abr. de 2008

17) MALTHUS REDIVIVO


Vez por outra, o fantasma do economista inglês que viveu entre os séculos 18 e 19, Thomas Robert Malthus, reapresenta-se ao mundo para lembrar-nos de que as suas teses sobre a fome ainda permanecem insepultas.

Malthus, a respeito de quem fora cunhada uma outra denominação da Economia como sendo a “ciência lúgubre”, defendeu a tese de que a humanidade caminhava para o caos, pois, enquanto a população crescia numa proporção geométrica, a produção de alimentos crescia na proporção aritmética. Traduzindo para o chão dos mortais: haveria em algum momento na vida da humanidade uma escassez crônica e efetiva de alimentos.

Dois séculos se passaram, algumas crises na produção de alimentos aconteceram, foram superadas e o caos malthusiano nunca se confirmou na extensão que ele vaticinou. Razões de ordem tecnológica contribuíram para que o apregoado cruzamento das curvas de população e da produção de alimentos não viesse a acontecer de forma estrutural e permanente. Hodiernamente, a população cresce menos devido aos modernos métodos anticoncepcionais, conscientização pela paternidade responsável e maior e melhor nível educacional que devolveu ao ser humano parte considerável do exercício de gestão da própria vida que havia lhe sido surrupiada pelos obscurantismos cultural e religioso do passado. Ao mesmo tempo, ocorre um aumento brutal da produtividade agropecuária, quer pela sua mecanização, pesquisas científicas em todos os seus segmentos e, mais recentemente, até pela manipulação genética dos alimentos.

Tudo, então, resolvido? Que nada! A imprensa mundial começa a repercutir as trombetas dos alarmistas que entoam o toque malthusiano da falta de alimentos. Aumentos fantásticos nos preços de commodities como o arroz, o trigo e o milho, apenas para ficar em alguns dos grãos mais conhecidos. A culpa é atribuída, com excessiva ênfase, ao fato de que a cultura de alimentos está dando lugar para culturas de matérias-primas para a produção dos biocombustíveis. Alimentar as máquinas parece ser mais importante do que alimentar os homens. E o que seria, ainda, mais grave: indícios de revoltas populares, da queda de governos e outras catástrofes decorrentes da escassez alimentar já são vislumbrados no horizonte negro que temos pela frente. Os preços disparam e a inflação matará, como sempre o fez, os pobres do mundo.

Que verdades há nisto? Quais equívocos estão sendo cometidos – se é que estão – na análise de tema tão escabroso? Não basta a ameaça do aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, o declínio inexorável das reservas de petróleo e tantas outras mazelas a nos apoquentar diuturnamente e agora nos vêm com esse drama da falta de alimentos?

Novamente, puro alarmismo... Não faltarão alimentos e a humanidade não sucumbirá pela falta do "feijão-nosso-de-cada-dia". Malthus e suas teses podem voltar serenos para o túmulo da história e lá permanecerem ad-eternum, porque a mão invisível da economia que não se move a rogos e sim aos apelos capitalistas, colocará tudo nos seus devidos lugares.

O que vem ocorrendo é que uma massa enorme de humanos começa a emergir das profundezas da escala social para, também, comer melhor como bem o fazem aqueles que tiveram a fortuna de virem ao mundo sob as asas quentes das nações desenvolvidas. 400 milhões de chineses, 300 milhões de indianos, centenas de milhões de outros terráqueos começam a comer como não faziam há muito. Mau? Claro que não, ao contrário! Mudança de paradigmas? Isto sim!

Aqui está a reflexão que todos nós devemos fazer a todo instante: Uma parte considerável da humanidade mantém-se acapachada para que a outra desfile soberana com seus meios de produção, gozando das delícias de seus frutos.

Soberanamente, contudo, outros povos ao redor do mundo vêm optando pelo caminho do progresso, rejeitando os fracassados sistemas socialistas de produção controlada, criando riquezas, exportando seus excedentes, diversificando, privatizando e modernizando os meios de produção. Conclusão: mais gente comendo e por isso mais demanda por alimentos que num primeiro momento não encontra oferta em nível adequado. A mão invisível faz os preços aumentarem em busca do nível que equilibra oferta e procura. Tem sido assim, e assim será por todo o sempre...

Aqui entram os ajustes e a tal mudança de paradigma: Os países com potencial agrícola como é o caso do nosso Brasil, sempre tiveram que se render aos ditames das nações industrializadas que, aproveitando-se do gigantesco poder econômico que conquistaram ao longo dos tempos, ditam os preços das commodities no mercado internacional e ainda subsidiam generosamente seus agricultores sob o pretexto da pseudo-doutrina da segurança alimentar.

Quando temos bons excedentes de produtos agropecuários não conseguimos coloca-los nos países desenvolvidos por que os subsídios locais inviabilizam os negócios e assim nossas terras ficam ociosas, os preços internos baixam, os agricultores são mal remunerados e nossas metas de melhoria de vida são continuamente postergadas.

Mas a história não dá nó em si mesma. O que se mostrou bom para uns pode se repetir com os outros. A emergência de paises populosos e com potenciais adormecidos como Brasil, Rússia, China e Índia começa a desenhar um novo cenário neste começo de milênio. As regras do jogo estão sendo alteradas e os protagonistas do presente poderão ser coadjuvantes no futuro ou, no mínimo, terão que dividir o palco com outras estrelas.

Vejam que janela de oportunidades se abre para o Brasil: Temos um estoque enorme de terras disponíveis para a produção. Os países que renitentemente subsidiam suas agriculturas logo perceberão que as vantagens comparativas devem prevalecer em favor daqueles que produzem com maior competência e com custos menores, tal qual eles mesmos fazem em relação aos produtos industrializados. Daremos mais ocupação aos nossos recursos naturais e humanos e assim vamos viver melhor. Este raciocínio aplica-se não só ao Brasil, mas, também, aos países pobres da África e da América Latina que poderão se beneficiar de um novo modelo econômico mundial.

Esquecem os alarmistas de plantão que o mundo agrário malthusiano de permanente escassez de recursos, infligiu à humanidade todos os males próprios do autoritarismo e produziu os tiranos históricos que, juntamente com Malthus, insistem em atazanar a paz de nós os mortais.

Sem o jugo da necessidade premente, a tirania se dissolve como o gelo ao sol.

Edson Pinto
SP 20/4/08

Um comentário:

Unknown disse...

Caro Edson :

A palavra "crise" em Chines se escreve juntando 2 outros ideogramas: perigo e oportunidade. Em toda crise que enfrentamos, existe sim perigo, mas ao mesmo tempo surge uma oportunidade.Diante de um problema qualquer, geralmente os homens( ou mulheres) podem ser divididos em 2 grupos: os que se lamentam e os que buscam soluções. Os alarmistas de plantão ficam geralmente INERTES diante de qualquer problema.E o que é pior, influenciam todos ao seu redor de maneira negativa. Este texto mostra mais uma vez 2 das suas muitas virtude: precisão de análise e objetividade em propor soluções aos problemas.
Obrigado por compartilhar suas idéias por meio de seu blog.
Abraços
Neun Song