Dei-me ao luxo de um refúgio sabático
e fiquei pouco mais de dois meses sem publicar novos textos no meu blog. Fiquei
preguiçoso? Não, pois dediquei parte expressiva desse tempo a realizar uma
tarefa que tenho certeza muitos de meus amigos também gostariam de fazer.
Alguns, quiçá, talvez até já a tenham feito - admito - mas arrisco-me a dizer
que são poucos. As razões são as obvias de sempre: O corre-corre da vida
moderna a privar-nos de tempo discricionário para o lazer, a, até recente,
indisponibilidade de recursos técnicos viáveis para o mister e (por que não?),
a falta de aptidão para se organizar as corriqueirices da vida.
Vou, neste texto de retomada do meu
blog, falar-lhes do que se trata:
Primeiro, uma digressão
técnico/cultural: Desde os seus primórdios, o homem vem se esforçando para
criar registros daquilo que observa ao seu redor. As pinturas rupestres estão
aí para nos provar esta assertiva. Consideremos a pintura que, de propósitos ligados
aos registros históricos, acabou se tornando arte. Ela não só registrava os momentos
que interessava serem recordados em tempos vindouros e legados às gerações
futuras, como denotava e ainda denota a sensibilidade estética do artista na
busca de uma interpretação às vezes até mesmo onírica de um objeto e/ou de um
instante significativo. Pintura de boa qualidade, portanto, é arte. Mas ela tem
lá suas limitações: É cara, de pequena produção e agrega pouco valor cientifico
por não retratar com fidelidade o seu objeto. Aí, em algum momento do século XIX aparece a
fotografia. Diziam que não era arte como a pintura, pois simplesmente captava
por processos químico/mecânicos a realidade que se observava sem, contudo lhes
propiciar a criatividade exclusiva do artista. Verdade, mas a fotografia logo
se impôs pelos seus outros atributos.
Bem, no mundo em que vivemos, o
processo fotográfico “caiu como uma luva” para as demandas de registros de
nossas memórias cada vez mais assoberbadas. O quanto a fotografia contribuiu
para o progresso da humanidade, ou vice-versa, não vem ao caso. O fato é que
pelo menos as três gerações que antecederam à nossa (refiro-me aos nossos pais,
avós e bisavós), vieram se familiarizando de forma gradativa com a fotografia.
As fotos, ao capturarem instantes vividos nos ajudam a lembrar o passado para
nossa alegria, tristeza e emoção. Depender só da memória é pouco para quem
gosta de pontuar momentos importantes para recordá-los mais adiante e também
compartilhá-los com seus circunstantes. A indústria da fotografia erigiu
grandes empresas e os processos continuaram evoluindo para o bem de todos. No
inicio, as fotografias eram em preto e branco e fotografar era tarefa para
iniciados e profissionais. Em seguida vieram as câmeras mais simples, filmes
mais baratos e aí se popularizou o seu uso. A fotografia a cores, e mais
recentemente a digitalização, a câmera acessível no telefone celular e todas as
possibilidades que a internet vem nos oferecendo para divulgar de forma rápida
e a baixo custo os registros fotográficos que fazemos cada vez mais abundante
coroam o sucesso dessa evolução tecnológica.
Com tudo isso fervilhando em
minha mente, dei-me conta de que todas aquelas fotos que tenho acumulado ao
longo de anos encontravam-se esquecidas em álbuns que ninguém mais folheava, em
fundos de gavetas de raro acesso, em portas-retratos que nem mais olhamos. Era
como nos versos de Olavo Bilac “ouro nativo, que na ganga impura, a bruta mina
entre os cascalhos vela...” Fotos preciosas como ouro que retratam momentos
importantes da vida de minha família guardas para uso em futuro incerto ou
talvez nunca, mesmo porque, principalmente as coloridas, perdem qualidade com o
passar do tempo e que – pelo menos no meu caso – em breve não se prestariam a
mais nada. Era, portanto, preciso fazer algo de imediato. A tecnologia existe e
o tempo agora me é favorável. Pus mãos à obra:
Na primeira etapa arranjei caixas
de papelão e preparei separadores com os anos em que as fotos haviam sido feitas.
Para várias, me foi necessário consultar parentes sobre as possíveis datas e os
eventos que retratavam. Trinta dias depois, já com tudo identificado e com
quatro caixas recheadas, consegui reunir precisamente 8.121 fotos. Usando um
recurso fantástico e gratuito do Google, o aplicativo “PICASA”, montei, por
anos e eventos principais, 114 álbuns. Usei um scanner para digitalizar as
fotos e aplicava – quando necessário, e foram várias vezes – o recurso
eletrônico de recuperação de fotos esmaecidas. Centenas delas já bem descoloridas
pelo tempo recuperaram quase que totalmente suas cores originais e foram salvas
para a posteridade.
Agora, tenho uma história de vida
que, além de poder ser contada com a imaginação do escritor amador que sou, ser
ilustrada, para muitas situações particulares, com um registro fotográfico que
traz a mim, aos parentes e aos amigos que partilharam comigo momentos
importantes do passado uma recordação cheia de significado. Com tudo no
computador, é possível enviar álbuns ou mesmo fotos individuais para pessoas
que nem sequer se lembravam daqueles momentos e assim despertar emoções e
estreitar laços de amizades. Consegui baixar no smartphone que uso todas essas
fotos. Compartilhá-las via WhatsApp, Facebook e outros recursos tornou-se uma
realidade inimaginável há tão pouco tempo.
Como as fotos antigas servem para
nos lembrar não apenas do que fomos, mas necessariamente do que somos agora, nada
melhor do que buscar nelas as situações que a nossa falível memória já começa a
perder. Assim, toda vez que olhar para a foto de 1955 que ilustra este texto
hei de me dar conta que bastava um corte de cabelo a “Príncipe Danilo”, uma
canetinha simples e nenhum celular, ou notebook, ou tablet ou smartphone para
ser, na época, uma criança feliz. Mas, comparando com os tempos atuais, ser
feliz, obrigatoriamente, já nos exige tecnologia até mesmo para nos lembrar do
passado inocente que, pelo menos, agora já se encontra registrado para a
posteridade.
Edson Pinto
Novembro’2013
11 comentários:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Depois de pouco mais de dois meses, volto a publicar um novo texto no meu blog.
Estive fazendo outras coisas como poderão saber e entender quando da leitura da crônica que hoje publico.
O final do ano se aproxima célere e isso nos remete, como sempre, a recordações, daí a razão do meu texto ALÉM DO IMAGINÁRIO. Vejam se gostam!
Edson Pinto
Edson,
Parabéns pelo empenho.
Quero ver a sua arte.
Estou aguardando as fotos que voce ficou de enviar.
Abraço,
Cristina Taurizano.
Edson,
Apesar desse pequeno espaço de tempo sem escrever suas crônicas, vejo que a opção pela FOTOGRAFIA,foi uma decisão excelente.
Parabéns.
Um abração do,
JBSantos.
Caro amigo Edson...
é um prazer enorme ler suas cronicas...obrigado!!!
Grande Edson
Lindo projeto...Traz boas lembranças de nossa extensa vida...graças a Deus !!!
Ve-lo em foto do ensino primário fez -me lembrar de uma minha ,idêntica,do ano de 1957,no Grupo Escolar do Bairro do Bras,onde recém chegado do Oriente Medio,fomos morar na região...
Bons tempos...
Um abraço e parabéns
Saleh
De: Junia Nogueira
Para: Edson Pinto
Oi Edson, Tudo bem!
Além do imaginário ficou muito bonito, com lembranças dos tempos
bons, como eramos felizes . Parabéns ! Gosto muito de ler suas croni
cas.
Abraços
De: James Katzwinkel
Para: Edson Pinto
Poucas e boas palavras que "retratam" nossas estórias de vida... Ao "focar" velhas e novas "imagens", nos faz sorrir por lembranças!
James
De: Angelo Faoro
Para: Edson Pinto
Edson
Estava com saudades do seus blog's, pois seus conteúdos são excelentes como este que você acaba de enviar.
Continue...gosto de explorar a arte e a sabedoria de seus textos.
Não é demagogia e sim reconhecer : é ler e refrescar o cérebro.
Meu abraço
Faoro
De: L. C. Melhado
Para: Edson Pinto
Amigo Edson,
Parabéns pela determinação de fazer acontecer e tornar real fatos e fotos!
Melhado
Caro Edson,
Realmente um trabalho de muita paciência, parabéns .
Mattoso
Se: Ataide Lopes
Para: Edson Pinto
Edson,
Duas coisas:
-vc voltar a escreve
-seu trabalho com as fotos.
Acho que precisamos "marcar uma reunião 'tecnica' e vc mostar o ""caminho das pedras"" para tornar mais fácil o trabalho" e assim não termos desculpas para imita-lo
Ataide
Postar um comentário