7 de mai. de 2015

293) SUA MAJESTADE A MESA


Muito se fala da roda como sendo a grande e revolucionária invenção de todos os tempos. Foi a partir dela, dizem, que o homem teria avançado e alcançado o progresso dos dias de hoje. Falam-se ainda de invenções outras igualmente importantes: a prensa tipográfica que permitiu a difusão do livro e por extensão da cultura e do saber; a máquina a vapor que foi fundamental na revolução industrial do século XVIII; o papel; o avião; o computador e por ai afora...

Como qualquer pessoa de bom senso, eu também não deixaria de concordar com a importância das mencionadas invenções. A favor delas apenas gostaria de pontuar que uma invenção torna-se importante não necessariamente pela sua complexidade, pelo maior grau de pesquisas envolvidas no seu desenvolvimento ou ainda pela notória genialidade de quem a concebeu. Uma invenção é memorável quando permanece por muito tempo na vida das pessoas e das sociedades. Pode ser até uma invenção bem simples, mas - desde que tenha utilidade e longevidade - ela se torna realmente digna de ser rotulada como uma “grande invenção”.

Você já parou pra pensou sobre uma prosaica mesa?  Esse móvel simples, prático e útil que há milênios desempenha um papel relevante à humanidade?  Ela estava nos palácios dos Faraós do Egito; na Dinastia Shang da China antiga; na Grécia de Platão; na Roma do Imperador Tácito e do poeta Virgilio; nas reuniões secretas dos Templários e na conspiração dos Inconfidentes Mineiros. Ela está, hoje, em nossas casas, nos escritórios, nas lojas, nas oficinas, nos museus, nas escolas, nos bares e em mil outros lugares, especialmente em restaurantes.

 Não dá para imaginar uma casa que não tenha uma sequer, na maioria das vezes até para múltiplo uso. Serve para a refeição do dia a dia, para o estudo das crianças, para o chá das visitas, o corte do tecido da dona de casa costureira. Serve para suportar o arranjo de flores que dá vida e alegria ao lar; serve para receber as compras quando se chega do supermercado e, metaforicamente, até para a discussão da relação do casal e da família quando a ela se apela dizendo: “vamos colocar nossos problemas sobre a mesa”. E não esquecendo de que marcam as primeiras lições de Inglês dos nossos pequenos quando se afirma, mesmo que jocosamente, “the book is on the table”...

Nos escritórios não dá nem para imaginar como, sem uma mesa adequada, se produziria os relatórios, escreveriam os textos, calculariam os resultados e fariam reuniões de trabalho. Em uma loja, ela é imprescindível para demonstrar a mercadoria, fazer o pacote e servir ao cliente em potencial o cafezinho que estimula o fechamento do negócio. Nas oficinas é com ela que se consertam as peças, lixam-se a madeira, faz-se polir o metal, apertam-se os parafusos e soldam-se as peças quebradas para fazer reviver o velho aparelho doméstico. É ela que suporta esculturas nos museus, os livros da professora na escola, os cadernos que os alunos aprendem as primeiras e as mais avançadas letras, como também – em um bar – é nela que o boêmio afoga as mágoas do amor perdido...

Nos restaurantes, ela acomoda os casais, os grupos de amigos e as famílias que procuram um lugar tranquilo para uma das atividades mais prazerosas que o ser humano pode ter: uma boa refeição, um vinho na medida certa e acima de tudo um momento de convívio especial que o tira da rotina e o coloca em uma nuvem de paz. Soubessem todos os "restauranters" da importância de uma mesa para quem valoriza esses momentos, jamais colocariam algumas no corredor, próximas a lugares barulhentos, coladas à porta do banheiro ou em locais que sejam potencialmente capazes de anular toda a atmosfera que se exige de um lugar aprazível.

Aqui eu entro com o que o pessoal de casa atribui a mim como sendo uma das minhas chatices mais exageradas: sempre tomo a iniciativa da escolha da mesa que julgo ser das melhores do restaurante. Meu critério é muito simples: evito mesas em lugares de passagem onde circula muita gente; busco uma que esteja em uma área bem arejada, de pouco ruído e de preferência em um cantinho mais isolado que me permita falar sem incomodar ou ser incomodado. Fujo daquelas que ficam coladas no toalete, na boca da cozinha onde os garçons transitam com frenesi ou nas proximidades de outras mesas onde grupos barulhentos já se instalaram.

Isso é ser chato?

Penso que não! Mesmo porque, não sou de chegar tarde a restaurante e ter que ficar com a única mesa que todos que me antecederam já recusaram. Principalmente, se sou frequentador assíduo de determinado restaurante já até tenho a minha mesa de preferência e é para ela que eu me dirijo. Onde frequento pouco, ou estou indo pela primeira vez, é que me dou ao capricho dessa chamada chatice.

Será que eu estou errado ou prestando uma reverência a essa majestade soberana, indispensável e de efeito mítico que é a mesa?

Edson Pinto

Maio’2015 

Um comentário:

Blog do Edson Pinto disse...

De: Edson Pinto
Para: Amigos

Caros amigos (as):

Já perceberam que coisas importantes já de longa data incorporadas ao nosso dia a dia passam-nos, injustamente, esquecidas?

Na crônica desta semana resolvi falar sobre essa prosaica peça do mobiliário que serve, despretensiosamente, há milênios, a toda a humanidade, a mesa.

Bom final de semana a todos!

Edson Pinto