Muito se fala da roda como sendo a
grande e revolucionária invenção de todos os tempos. Foi a partir dela, dizem,
que o homem teria avançado e alcançado o progresso dos dias de hoje. Falam-se ainda
de invenções outras igualmente importantes: a prensa tipográfica que permitiu a
difusão do livro e por extensão da cultura e do saber; a máquina a vapor que foi
fundamental na revolução industrial do século XVIII; o papel; o avião; o
computador e por ai afora...
Como qualquer pessoa de bom senso,
eu também não deixaria de concordar com a importância das mencionadas invenções.
A favor delas apenas gostaria de pontuar que uma invenção torna-se importante
não necessariamente pela sua complexidade, pelo maior grau de pesquisas envolvidas
no seu desenvolvimento ou ainda pela notória genialidade de quem a concebeu.
Uma invenção é memorável quando permanece por muito tempo na vida das pessoas e
das sociedades. Pode ser até uma invenção bem simples, mas - desde que tenha
utilidade e longevidade - ela se torna realmente digna de ser rotulada como uma
“grande invenção”.
Você já parou pra pensou sobre
uma prosaica mesa? Esse móvel simples,
prático e útil que há milênios desempenha um papel relevante à humanidade? Ela estava nos palácios dos Faraós do Egito;
na Dinastia Shang da China antiga; na Grécia de Platão; na Roma do Imperador
Tácito e do poeta Virgilio; nas reuniões secretas dos Templários e na
conspiração dos Inconfidentes Mineiros. Ela está, hoje, em nossas casas, nos
escritórios, nas lojas, nas oficinas, nos museus, nas escolas, nos bares e em
mil outros lugares, especialmente em restaurantes.
Não dá para imaginar uma casa que não tenha
uma sequer, na maioria das vezes até para múltiplo uso. Serve para a refeição
do dia a dia, para o estudo das crianças, para o chá das visitas, o corte do tecido
da dona de casa costureira. Serve para suportar o arranjo de flores que dá vida
e alegria ao lar; serve para receber as compras quando se chega do supermercado
e, metaforicamente, até para a discussão da relação do casal e da família quando
a ela se apela dizendo: “vamos colocar nossos problemas sobre a mesa”. E não
esquecendo de que marcam as primeiras lições de Inglês dos nossos pequenos quando
se afirma, mesmo que jocosamente, “the book is on the table”...
Nos escritórios não dá nem para
imaginar como, sem uma mesa adequada, se produziria os relatórios, escreveriam
os textos, calculariam os resultados e fariam reuniões de trabalho. Em uma loja,
ela é imprescindível para demonstrar a mercadoria, fazer o pacote e servir ao
cliente em potencial o cafezinho que estimula o fechamento do negócio. Nas
oficinas é com ela que se consertam as peças, lixam-se a madeira, faz-se polir
o metal, apertam-se os parafusos e soldam-se as peças quebradas para fazer
reviver o velho aparelho doméstico. É ela que suporta esculturas nos museus, os
livros da professora na escola, os cadernos que os alunos aprendem as primeiras
e as mais avançadas letras, como também – em um bar – é nela que o boêmio afoga
as mágoas do amor perdido...
Nos restaurantes, ela acomoda os
casais, os grupos de amigos e as famílias que procuram um lugar tranquilo para
uma das atividades mais prazerosas que o ser humano pode ter: uma boa refeição,
um vinho na medida certa e acima de tudo um momento de convívio especial que o
tira da rotina e o coloca em uma nuvem de paz. Soubessem todos os
"restauranters" da importância de uma mesa para quem valoriza esses
momentos, jamais colocariam algumas no corredor, próximas a lugares
barulhentos, coladas à porta do banheiro ou em locais que sejam potencialmente
capazes de anular toda a atmosfera que se exige de um lugar aprazível.
Aqui eu entro com o que o pessoal
de casa atribui a mim como sendo uma das minhas chatices mais exageradas: sempre
tomo a iniciativa da escolha da mesa que julgo ser das melhores do restaurante.
Meu critério é muito simples: evito mesas em lugares de passagem onde circula
muita gente; busco uma que esteja em uma área bem arejada, de pouco ruído e de
preferência em um cantinho mais isolado que me permita falar sem incomodar ou
ser incomodado. Fujo daquelas que ficam coladas no toalete, na boca da cozinha
onde os garçons transitam com frenesi ou nas proximidades de outras mesas onde
grupos barulhentos já se instalaram.
Isso é ser chato?
Penso que não! Mesmo porque, não
sou de chegar tarde a restaurante e ter que ficar com a única mesa que todos
que me antecederam já recusaram. Principalmente, se sou frequentador assíduo de
determinado restaurante já até tenho a minha mesa de preferência e é para ela
que eu me dirijo. Onde frequento pouco, ou estou indo pela primeira vez, é que
me dou ao capricho dessa chamada chatice.
Será que eu estou errado ou
prestando uma reverência a essa majestade soberana, indispensável e de efeito mítico
que é a mesa?
Edson Pinto
Maio’2015
Um comentário:
De: Edson Pinto
Para: Amigos
Caros amigos (as):
Já perceberam que coisas importantes já de longa data incorporadas ao nosso dia a dia passam-nos, injustamente, esquecidas?
Na crônica desta semana resolvi falar sobre essa prosaica peça do mobiliário que serve, despretensiosamente, há milênios, a toda a humanidade, a mesa.
Bom final de semana a todos!
Edson Pinto
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