17 de jul. de 2007

7) TAM JJ-3054: O VÔO DA MORTE (julho'07)

 Estamos todos chocados com mais esse acidente que ceifa vidas e enluta famílias por gerações. Acho que sofremos uma crise de liderança. Explico melhor a minha tese:

  • O progresso nos impõe mais tecnologia, mais velocidade e como conseqüência mais riscos...
  • O Poder Econômico, para tirar proveito dos avanços tecnológicos, busca de forma quase irresponsável a redução de custos, a ampliação ilimitada dos mercados e como conseqüência reduz as margens de segurança...
  • O Poder Público faz o jogo dos interesses, acomodando demandas contraditórias e com isso deixa de fiscalizar e agir como lhe são de competência.
  • O cidadão, atordoado pelo sistema que igualmente lhe impõe a mesma postura de rapidez, economia e atendimento às suas vaidades, se irrita e briga - às vezes até de forma histérica - quando há um atraso num vôo mesmo que a origem de tal atraso seja por medida de segurança...
Por que falei em crise de liderança?

Simplesmente porque cabe ao lideres o bom senso de diagnosticar a situação e conduzi-la da forma mais adequada que a moralidade determina. Neste caso, entre tantas outras considerações que a crise aérea brasileira vem nos apresentando, deveriam, no mínimo, observar, com rigor, algumas das seguintes premissas:
Mais vôos e mais aviões só quando tivermos mais aeroportos, pistas mais longas e tecnologia de ponta para se evitar acidentes. Se o aeroporto deixou de ser seguro como é o caso de Congonhas, pois fora engolido pela cidade, que o desative... Este assunto é muito antigo e até hoje o que se fez foi aquilo que todos nós sabemos: enfeitaram o terminal com luxuosas alas e shoppings, mas a pista continua do mesmo tamanho que tinha quando nos anos 40 lá pousavam os modorrentos Electras movidos à hélice e não pelas poderosas turbinas de hoje em dia.
Seria mais seguro e talvez menos custoso ligar com trens de alta velocidade tanto Viracopos como Cumbica. Não, o que fizeram foi tornar Congonhas o aeroporto de maior tráfego da América do Sul. Interesse financeiro de quem? Quem nunca teve medo dentro de um avião que se aproxima da pista de Congonhas passando raspando em tantos prédios e com uma pista de menos de 2.000 metros? A área de segurança pré e pós ponto de contato é de cerca de 90 metros. E o que são 90 metros para uma máquina de dezenas de toneladas como é o caso de um Airbus ou de outras aeronaves gigantes?
Do lado do consumidor, falta também um pouco de cuidado, mais humildade e menos arrogância. Não quero me colocar como exemplo, mas acho que racionalizei um pouco esse assunto: Tenho negócios em Belo Horizonte e nos últimos 12 meses já fui até lá umas 15 vezes. 8 de carro; 6 de ônibus e somente uma de avião, da qual me arrependi pelos incômodos que todos nós sabemos. De carro e de ônibus curto a paisagem e ainda me permito ao hábito da leitura, com isso mitigando um pouco a minha inata ignorância. Claro que para destinos mais distantes o avião ainda é insubstituível, porém se as pessoas que tem destinos próximos trocassem suas viagens por meios alternativos, os aeroportos ficariam menos lotados e menos inseguros.
Fica aqui a minha superficial análise sobre o tema.

Enquanto não tivermos bom senso e responsabilidade sobre esse assunto da crise aérea, de minha parte pelo menos, evitarei, ao máximo, viajar de avião. Fico, contudo e ainda, apreensivo quanto à possibilidade de que uma dessas poderosas máquinas de voar - pela incompetência de nossas lideranças - venha a cair sobre minha cabeça... Que Deus nos proteja!!!

Edson P. Pinto
SP 17/7/07

12 de jul. de 2007

6) O FIO DO BIGODE OU A MORTE (julho'07)



Tenho um parente que resolveu mudar de vida de forma radical: Depois de passar a totalidade de seus dias em cidades grandes, não suportou mais os congestionamentos intermináveis de vias entupidas de carros, a falta de segurança das ruas, o enfrentamento constante de filas quilométricas para tudo e às vezes por nada... Enfim, todas essas mazelas que milhões de brasileiros que habitam as metrópoles conhecem muito bem.

Ou mudava tudo radicalmente, pensou ele, ou passaria a considerar apenas a morte como a única alternativa de descanso.

Optou, naturalmente, por alterar o seu estilo de vida. Mudar para o interior? É isso! Tanto questionou, como exclamou... E de maravilhado, em principio, com a brilhante idéia transpôs-se num átimo para o rol de preocupações sobre as barreiras a superar para que ela se tornasse realidade:

Tantas coisas precisariam ser arranjadas, é claro, mas a mais cruel, como lhe pareceu ser, seria: como conseguir alugar uma casa em uma outra cidade sem ter que apresentar aquela montanha de documentos, provas de seus rendimentos, carteira de trabalho, imposto de renda, certidões e muito mais, sem, é claro, se esquecer daquele que é o mais constrangedor dos favores que se pode pedir a um amigo ou parente: a fiança?

Já quase abortando o seu sonho ainda em gestação, encorajou-se, contudo, a seguir um pouco em frente, pois lhe ocorreu a lembrança de que na pequena cidade para onde planejava se transferir, tinha alguns amigos. Vamos lá, pensou, e convocou a mulher para uma primeira visita ao paraíso imaginado.

Entre maravilhado e constrangido após visitar, com a apresentação de seu amigo, uma bela casa que tinha tudo o que sonhara, já fora imaginando todas as dificuldades para o aluguel, mais a burocracia da Imobiliária, os custos para ele e para o locador, entre outros. Respirou fundo e perguntou ao proprietário que também estava presente quais seriam os próximos passos para a locação. Foi quando ouviu:

__ Gostou da casa?
__ O preço está bom para você?

__ “Claro”, respondeu imediatamente para ambas as perguntas.

__ Então, aqui estão as chaves. Você muda quando quiser e não temos contrato formal. O compromisso é sobre o que está aqui apalavrado na presença de nosso amigo comum.

Espantado ele se deu conta de que o termo “apalavrado” não freqüentava com habitualidade o seu vocabulário e nem imaginou que pudesse fazer negócios sem toda aquela burocracia que custa muito dinheiro e acima de tudo dificulta em muito o progresso do país.

__ Sim, mas o senhor me alugaria sem contrato? Sem analisar meus documentos? Sem fiador? E se eu deixar de pagar os aluguéis?

__ Ora, meu filho, na cidade grande vocês não têm tempo nem para imaginar o quanto a burocracia aumenta os custos das transações sem qualquer efeito prático.
__ Veja neste nosso caso:

__ Se formos seguir as práticas de vocês, haveria uma Imobiliária fingindo que está prestando um serviço útil, mas não estaria. Estaria apenas aumentando o custo da transação ao cobrar honorários e comissões sobre o negócio. Eu pagaria, mas colocaria no custo do aluguel. Teríamos outros custos com cartórios e o constrangimento de fiadores. Se você deixasse de me pagar, eu deveria acionar uma Justiça que além de lenta é custosa, e você, certamente, ainda tiraria todo o proveito de tal lentidão para não me pagar.

No “fio do bigode” fazemos a operação com menor custo e mais rápido. Tanto você como eu, ganhamos tempo e dinheiro. Se lá na frente você tiver dificuldade de me pagar, aí vamos conversar e saberemos, nós mesmos, como encontrar uma solução.

Ao me contar esta história, que é verdadeira, comecei a refletir sobre o quanto nos deixamos sucumbir aos ditames da burocracia ineficaz que permeia a vida de todos nós brasileiros.

Tudo é complicado, tudo custa muito dinheiro, gastamos demais com papéis destruindo nossas florestas para isso, pagamos taxas, pagamos honorários, pedimos certidões, pagamos Cartórios para registrar contratos, reconhecer firmas, autenticar documentos, pagamos Despachantes para acelerar a obtenção de papéis, Motoqueiros para levá-los mais rápido para o nada, selos para enfeitá-los, carimbos para dar idéia de seriedade e tantos outras coisas. Tudo, tudo num fantástico jogo de cena onde o fingimento é a face mais visível desse monstro que sufoca o cidadão e impede o crescimento de nosso país.

Voltássemos aos acordos de “fio do bigode”, à caderneta do açougue e da farmácia que ainda prevalece em lugares menores e teríamos um país mais ágil, menos custoso e mais justo.

Está na hora de confiarmos mais nas pessoas e menos nos papéis. Está na hora de valorizarmos mais as boas indicações do que os documentos fabricados que atendem os propósitos da encomenda.

Está na hora de simplificarmos os rituais para concessão de crédito, para validação de assinaturas de autenticidade. Não dá mais para pagar fortunas para um carimbo numa folha de papel, um registro de cartório, um selo de brincadeirinha.

Ou voltamos à algo parecido com o acordo do tipo “Fio do Bigode” ou vamos todos morrer pobres e sufocados pela maior das catástrofes que poderia assolar qualquer Nação do mundo:

A maldita burocracia...

Edson P. Pinto
SP 12/7/07

30 de abr. de 2007

5) ORGULHO DE SER MINEIRO... (abril'07)


Em recente pesquisa popular, a Revista Época apresentou o resultado abaixo ao perguntar sobre os brasileiros ilustres mortos que mais admiravam.

Veja o resultado e observe que dos 8 nomes citados, 4 são mineiros (50% do recall), 2 paulistas (25%), 1 gaúcho e 1 goiano (12,5% cada).

Quem é o brasileiro já morto que você mais admira? (Revista Época)

Ayrton Senna 19; Tancredo Neves 18; Não sabe 12; Getúlio Vargas 11; Ulysses Guimarães 6; Betinho 5; Nenhum 5; Tiradentes 4; Juscelino Kubitschek 3 e Leandro 3

Em que pese todas as piadinhas maliciosas sobre o jeito gentil, doce, educado, suave e intimista do mineiro de se expressar, esquecem esses "desinformados históricos" de que foi usando essa maneira especial de se comunicar que mineiros ilustres ajudaram a construir um Brasil que ainda não é bom, mas, certamente seria pior não fosse os seus nobres propósitos:

Tiradentes, Alvarenga Peixoto, Tomas Antônio Gonzaga e outros Inconfidentes fizeram nascer no brasileiro o amor pela liberdade, e, pela nobre causa, deram até mesmo a própria vida.

Afonso Pena, Wenceslau Braz, Arthur Bernardes, Washington Luis e Juscelino Kubitschek, só para citar alguns dos 10 presidentes mineiros que o Brasil teve a sorte de ter, foram decisivos nos momentos críticos da nação, pois com os seus jeitinhos gentis, doces, educados, suaves e intimistas conseguiram dar ordem, acalmar os nervos, integrar a nação eliminando o ódio que vigorava em cada época.

Progresso também: Juscelino fez 50 em 5 e se não tivesse sido interrompido pela revolução de 64 (nenhum mineiro fez parte de juntas militares ou presidiu o país durante a ditadura) voltaria em 1965 para adicionar mais 50 em 5 e o Brasil seria melhor, evidentemente.
Ser mineiro é ser democrata, é amar a liberdade e valorizar o respeito aos outros. Foi um mineiro, a propósito, Tancredo Neves, que quebrou o ciclo da ditadura. Pena que a história o quis apenas até aquele momento.

Nas artes, no esporte, nas letras, na poesia os mineiros também deram contribuição valiosas e continuam a engrandecer o Brasil: Aleijadinho, Athayde, Pelé, Guimarães Rosa, Carlos Drumonnd de Andrade e tantos outros também falavam e falam manso, suave, delicado e fizeram história.

Nós mineiros nos sentimos amados cada vez que umas piadinhas dessas tocam no nosso jeito único e inimitável de ser, pois no fundo somos muito mais espertos do que ingênuos.
O grande Guimarães Rosa, mineiro autêntico, encadeou um raciocínio que jocosamente bem nos define:

"... se tem poeira, vamos na frente; se tem porteira vamos no meio; se tem barro, vamos atrás... "

Edson Pinto
(carta a um amigo que lhe enviou uma piada do "minerim...")
abril'2007

28 de jan. de 2007

4) E AGORA PITÁGORAS? (janeiro'07)



Pitágoras, o sábio e matemático da Grécia clássica, nos legou entre tantos ensinamen-tos, um que - desde que o aprendi, há várias décadas – nunca o esqueço. Diria, até mesmo, que o incorporei a forma pela qual vejo a vida como um todo, o cotidiano e mais especificamente as pessoas que me rodeiam.

“O Universo é uma harmonia de contrários”

Pare por um instante e reflita o quão Divino é a visão deste equilíbrio de coisas e até mesmo de pessoas diferentes. Fossemos todos iguais em temperamentos, e, certamente, o equilíbrio pitagórico estaria rompido. Por isso, os átomos têm partículas positivas e negativas que se equilibram em forças. No reino animal, há os ferozes e os pacíficos. A noite se reveza com o dia. Da mistura da água quente com a fria tomamos um banho agradável. São inúmeros os exemplos...

O que quero comentar aqui, a partir dessa ilação tão metafórica quanto metafísica, é que essa harmonia de contrários, embora aceitável e real, poderia se nos apresentar em um grau de intensidade menos chocante.

Claro que ricos e pobres convivem com certa harmonia, mas me arrisco a dizer que poderiam, ainda assim, se harmonizarem bem mais não fossem as diferenças tamanhas.

A inteligência que Deus deu à sua privilegiada criatura, nós, os humanos, dá-nos o poder de mantermos certo controle sobre as nossas tendências inatas, sobre o nosso histórico genético.

“Não te dei face, nem lugar que te seja próprio, nem dom algum que te faça particular, oh Adão, a fim de que tua face, teu lugar e teus dons, tu os desveles, conquistes e possuas por ti mesmo...”, como nos legou Picco della Mirandola em sua famosa Oratio de Homminis Dignitate.

Um é trabalhador e entende a vida como sendo uma batalha a ser vencida a cada dia com muita luta, sacrifício e um tanto de humildade para assumir pessoalmente tarefas que lhe beneficie.

Outros há que preferem cantar a trabalhar, como a cigarra da famosa fábula de La Fontaine. E o pior: Este, quando as necessidades se lhe apresentam, pleiteiam a divisão dos frutos do trabalho daqueles que labutam incondicionalmente. Aqui está não só a razão, mas ironicamente, ao mesmo tempo, o efeito da formação e do fim do Comunismo como sistema econômico em variadas sociedades ao longo da história da humanidade.


Atrás de um folgado tem sempre um sufocado


Isto é o que, infelizmente, podemos constatar nas relações humanas entre contrários, muito contrários... Essa máxima popular embora aparentemente contraponha-se àquela de Pitágoras que mencionei acima, na verdade somente aplaina a crueza do comodismo de muitos em detrimento da generosidade de seus circunstantes.

Olhe para alguns casais, para certas relações familiares, para ambientes de trabalho, para as classes de aula, para os grupos de trabalhos escolares, para as associações de qualquer natureza e lá encontrarão sempre um ou alguns assumindo toda a carga do trabalho a ser feito, enquanto outros só ficam ali de forma agregada tirando proveito e gozando dos frutos que o trabalho dos outros propicia ao grupo.

Quando um folgado se instala em uma relação, não há outro modo de se evitar que a outra parte se sufoque.

Em geral o sufocado é dotado de uma capacidade especial para servir de forma incondicional. Jesus fez isto. Os lideres em geral são sufocados por natureza... Os folgados, não raro, adotam a técnica de que não estão percebendo que o outro está levando sozinho toda a carga nos ombros, esfolando os joelhos e às vezes até mesmo a alma para que ele, folgado, fique orbitando “em harmonia” como se fosse uma condição universal. O pior é que o tempo passa e muitos desses equilíbrios injustos prevalecem pelo tempo afora.

Dada a evolução material e cultural da humanidade vejo que estamos chegando ao momento em que precisaremos reescrever a máxima de Pitágoras para trazê-la aos tempos modernos:

Ao invés de simplesmente aceitarmos que os contrários se harmonizem, será necessário incorporar algumas condições para tal, como exemplo, as seguintes expressões:

“Sem abuso”;
“Sem exagero”;
“Quando comprovadamente necessário”

ou, outros “termos” que estimulem a todos, indistintamente, a cooperarem mutuamente. Não podemos alimentar esperança em uma sociedade na qual alguns trabalham e outros, mesmo podendo, não o fazem.

A humanidade precisa, agora mais do que nunca, de pessoas que produzam, que tomem a iniciativa de agirem sem que outros as cobrem por isto. Já estamos suficientemente certos de que não há espaço para o ideal Socialista de que devemos dar a cada um de acordo com as suas necessidades sem que tenhamos certeza de que o beneficiário de tal concessão não poderia ele mesmo produzir para a sua própria satisfação.

Se o Socialismo e o Comunismo nesses termos sucumbiu, por que devemos manter a situação de indiscriminada redistribuição para os folgados que andam nos sufocando sem necessidade e somente por preguiça, por comodismo, por conveniência, por malandragem?

Meu querido Pitágoras, continuarei aceitando a harmonia celestial dos contrários e de todas as formas de corpos e mesmo de vida que não sejam dotadas de inteligência. Mas, se for inteligente, como é o caso do ser humano, aí redobrarei minha atenção.

Faça o mesmo, você também!!!

Edson P. Pinto
B. Hte. 28/1/07